Metrô, bonde, trolebus, monorail, VLT e VLP. São muitos os nomes que revelam os estudos realizados nos últimos 50 anos para que Curitiba tivesse algum tipo de transporte sobre trilhos. Nenhum chegou a ser implantado. A iniciativa mais recente já completou uma década – teve até logomarca, funcionários uniformizados e placa na rua, consumindo ao menos R$ 23 milhões em levantamentos –, esteve mais próxima de virar realidade, mas a licitação foi suspensa em 2014 e, de lá para cá, o assunto foi enterrado (não literalmente, é claro).
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Olga Prestes, coordenadora de Transportes do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), pesquisou o assunto a fundo (novamente, sem trocadilhos!), resultando em uma dissertação de mestrado. O trabalho foi publicado em 2009, quando os primeiros estudos para fazer um metrô na cidade completaram 40 anos, mas segue muito atual – pois, de lá para cá, nenhuma nova proposta foi anunciada (a que foi abandonada em 2014 havia sido apresentada justamente cinco anos antes).
A primeira vez que se estudou a viabilidade de um metrô em Curitiba foi em 1969 (a Gazeta do Povo preparou um material especial sobre o assunto, que permite um mergulho no tempo, para conhecer os detalhes do projeto – confira aqui). A proposta surgiu apenas 17 anos depois de a cidade retirar os últimos trilhos de bondes. Ou seja, ainda estava fresca a memória de muitos curitibanos de que aquele modal representava algo antigo e ultrapassado.
Mesmo nesse contexto, a primeira tentativa de voltar aos trilhos tinha uma “pegada” mais ousada, inspirada em modelos das principais cidades do mundo e em projetos que ainda estavam apenas nas pranchetas de arquitetos e urbanistas. Olga Prestes comenta, contudo, que o estudo preliminar do metrô em Curitiba não chegou a ser tratado como uma iniciativa a ser colocada em prática – era mais uma busca por projetar possibilidades para o futuro.
Ela destaca que não havia dinheiro para viabilizar a obra nem estava na ideia dos “planejadores” que a cidade tivesse um metrô. O estudo surgiu no bojo do plano diretor de Curitiba de 1966, que três anos antes havia previsto que o transporte coletivo seria priorizado e que alguma intervenção urbana seria feita para agilizar esse tipo de descolamento, inclusive mencionando a possibilidade de vias exclusivas, que vieram, quase uma década depois a serem efetivamente implantadas.
Outras propostas
Olga também avaliou as demais tentativas, ao menos no papel, de transporte sobre trilhos em Curitiba. A maioria está bem documentada, muitos livros do próprio Ippuc que detalham os bastidores de cada uma delas (aliás, a biblioteca do órgão municipal de planejamento merece uma visita, dica que vale especialmente para quem quiser entender um pouco mais sobre a cidade em que mora e como a capital do Paraná chegou à configuração que tem hoje).
Uma das propostas foi o chamado Bonde Moderno. O arquiteto Osvaldo Navarro conta que fez um estudo, a pedido de Saul Raiz e de Lubomir Ficinski, respectivamente o prefeito e o presidente do Ippuc à época. Ele relata que passou um mês na França, conhecendo algumas iniciativas na área. Voltou com a proposta de um ônibus elétrico guiado por trilhos. Segundo ele, para evitar o nome bonde, que remetia a “coisa antiga”, o adjetivo moderno foi acrescentado, a pedido dos gestores. O projeto também não foi para frente, novamente porque não havia recursos e porque outras ações foram priorizadas.
Navarro ainda trabalhou num projeto de monorail. Chegou a ir para o Japão para estudar algumas soluções, na época em que Cassio Taniguchi era prefeito. A proposta também não foi para a frente. Ainda bem, diz o arquiteto. Para ele, a maior parte das pessoas tem dificuldades para entender que precisa um determinado número de passageiros, normalmente acima de 40 mil por hora, para justificar o investimento em um sistema caro. “Tem questões técnicas, mas também políticas”, resume.
Antes disso, foi pensado outro projeto alternativo. A dissertação de Olga Prestes mostra que, durante a crise do petróleo, nos anos 1980, o prefeito Maurício Fruet determinou que um estudo fosse realizado, propondo a utilização de uma alternativa energética, com a implantação do "trolebus" na cidade, mas também não foi para frente.
Curitiba também discutiu modelos de Veículos Leves sobre Trilhos (VLT) e sobre Pneus (VLP). O assunto chegou a entrar no debate eleitoral em 2016, mas foi só passar a campanha para ser deixado de lado. No fim, todos os projetos sempre sucumbem à lógica, capitaneada pelo Ippuc, de que o sistema de ônibus da cidade funciona, é o mais barato, flexível e adequado e que não compensa investir esforços e tanto dinheiro em uma mudança tão abrupta.
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