A entrega de mercadorias por drone já é uma realidade em alguns lugares do mundo, como Estados Unidos e China, e até mesmo no Brasil. Desde 2020, algumas cidades brasileiras, como Aracaju, Campinas, Salvador e Belo Horizonte, vêm se transformando em cenário para os testes dessa tecnologia que promete revolucionar a logística. E, agora, Curitiba está perto de entrar no mapa do drone delivery.
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O primeiro passo será dado nesta quarta-feira (27) com um voo simbólico no Parque Tanguá. Quem vai comandar o evento é a Atech, empresa do Grupo Embraer e especializada em aplicações voltadas ao controle do espaço aéreo, que firmou uma parceria com a prefeitura para tornar a capital paranaense, a partir de 2025, em laboratório para estudos, definição de processos e testes práticos para viabilizar o serviço de entregas por drones em ambientes estritamente urbanos.
O projeto vem sendo desenvolvido em fase laboratorial pela Atech há três anos, para que seja levado para os testes em ambiente real em Curitiba. O objetivo é realizar voos BVLOS, ou seja, além da linha de visada visual do piloto. Isso significa que os drones são pilotados remotamente, a partir de uma central de pilotagem, sem a necessidade dos pilotos terem contato visual com a aeronave.
Em Curitiba, a Atech pretende colocar os drones no espaço aéreo da cidade, em entregas reais, considerando áreas de edifícios, áreas verdes, redes de fiação elétrica e diferentes condições climáticas. “Estamos desenvolvendo sistemas para os drones circularem em grandes áreas e para os diferentes tipos de entregas, desde um remédio de uma unidade de saúde para um hospital, até a entrega de uma roupa, da loja para a casa do cliente. E precisamos contar com prefeituras como steakholders (partes interessadas), já que os equipamentos vão voar dentro das cidades”, explicou o assessor estratégico da Atech, João Batista Oliveira Xavier.
Ele destacou que um dos aspectos que pesaram na escolha por Curitiba foi o fato de que o Cindacta II (Segundo Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo) é sediado na cidade, o que facilita o contato a órgãos normativos subordinados ao Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea).
Empresa pretende colocar os drones no espaço aéreo de Curitiba, em entregas reais, considerando áreas de edifícios, áreas verdes, rede de fiação elétrica e diferentes condições climáticas.
A parceria foi firmada por meio da Agência Curitiba de Desenvolvimento e Inovação, que assinou o acordo de cooperação com a Atech para o “projeto de pesquisa de operações BVLOS em ambiente urbano”. O acordo, válido por um ano, permite o desenvolvimento dos sistemas necessários para assegurar o serviço de forma segura e efetiva, para que seja regulamentado.
A parceria foi possível pelo sandbox regulatório de Curitiba, criado por decreto municipal em 2021 e que autoriza, de forma experimental e temporária, os testes de produtos e serviços inovadores na cidade, sem a necessidade da totalidade de licenças e alvarás normalmente exigidos. “É com muita alegria que acolhemos o uso de novas tecnologias, como esta proposta da Atech, que vai sistematizar um novo modelo de entregas e beneficiar o país todo”, comemorou o prefeito Rafael Greca.
Testes são primordiais para escalar o drone delivery em Curitiba e no Brasil
Todos os testes com o objetivo de realizar entregas com drones no Brasil devem ser autorizados pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), que vem aperfeiçoando a regulamentação para permitir que a tecnologia se torne escalável, mas que ao mesmo tempo garanta a segurança de outras operações aéreas e das pessoas que estão no chão.
Nos últimos quatro anos, a agência autorizou diversos ensaios de drone delivery, mas sempre com restrições. Foi somente em outubro deste ano que uma autorização permanente foi emitida para que uma empresa pudesse fazer voos com drones sobre pessoas não anuentes — a autorização está condicionada à rota preestabelecida sobre a ponte Godofredo Diniz, em Aracaju. Isso ocorreu depois de mais de dois anos de testes, liderados pela fabricante brasileira Speedbird Aero, com o apoio do iFood em uma parte do processo.
Para os testes em Curitiba em 2025, a Atech também precisará de uma autorização da Anac para voos de caráter experimental. Dessa forma, poderá colocar à prova a tecnologia, testando não apenas os drones, mas a operação como um todo. Além disso, a partir dos dados levantados com o teste, será possível definir a viabilidade das entregas com drones na cidade.
De acordo com o gerente de Negócios da Atech, Agenir de Carvalho Dias, “a prioridade é evitar riscos, garantir segurança e constância nas entregas, por isso, precisamos avançar nos testes. É justamente esse tipo de voo, urbano, sobre casas e edificações, que vai dar escalabilidade ao delivery por drone.”
Aplicações de drones para além da entrega de refeições
O estudo Drone Deliveries: Taking Retail and Logistics to New Heights, organizado pela consultoria internacional PwC, projeta que este ano deve fechar com cerca de 5 milhões de entregas feitas por drones em todo o mundo — em 10 anos a projeção é de 800 milhões de entregas anuais. Com o ganho de escala esperado, os custos de cada entrega devem cair para cerca de US$ 2, com a expectativa de transportar US$ 65,2 milhões em valor de produtos em 2034.
O drone delivery começou a ganhar espaço no Brasil com a entrega de refeições, mesmo que cumprindo parte do trajeto apenas. Um projeto-piloto da própria Speedbird Aero com o iFood começou a testar a viabilidade em 2020, em Campinas, com uma parte do trajeto da entrega sendo feita por via aérea. A parte final continuou a cargo de ciclistas e motociclistas. Esse início serviu de base para a operação que seria consolidada mais tarde em Aracaju.
Drone delivery abre possibilidade de reduzir custos de entregas.
A entrega de refeições, entretanto, não caminha para ser a principal aplicação do drone delivery. Tanto é assim que a Speedbird Aero, em parceria com o Grupo Pardini, começou a transportar materiais biológicos, em Belo Horizonte, encurtando o tempo de transporte entre o local de coleta e o estabelecimento que faz a análise dos materiais.
Fora do Brasil, a Amazon, gigante do comércio eletrônico, vem há anos testando a entrega de compras com drones. Mas somente em 2024 que a empresa colocou em prática o drone delivery, garantindo que clientes possam receber encomendas em menos de uma hora. A disponibilidade da tecnologia está restrita a locais específicos próximos a centros de distribuição.
Também nos Estados Unidos, a empresa de drones Matternet fechou uma parceria para realizar entregas da rede Walmart no Texas e expandiu os serviços para o Vale do Silício, na Califórnia, com outros parceiros. A Zipline, operadora de drone delivery, atingiu 1 milhão de entregas neste ano, também trabalhando com grandes redes, como Walmart e GNC, e com parceiros da área de medicina, transportando materiais biológicos e suprimentos para hospitais e clínicas.
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