Escola municipal em Curitiba, cidade que teve nota 6 no último Ideb.| Foto: Daniel Castellano/Prefeitura de Curitiba
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Das maiores cidades do Paraná, Curitiba foi a que ficou com a menor nota no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). A edição mais recente, divulgada mês passado pelo Ministério da Educação, leva em consideração os dados referentes a 2021. A capital paranaense teve nota 6, considerando apenas os anos iniciais do ensino fundamental (1º ao 5º ano), na rede pública, que são de responsabilidade dos municípios. As notas para este mesmo nível de ensino nas redes municipais das outras grandes cidades foram: Foz do Iguaçu (6,7), Maringá (6,5), Londrina (6,4), Cascavel (6,3) e Ponta Grossa (6,2). Alguns pequenos municípios paranaenses foram destaque, com Ideb acima de 7.

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O Ideb é realizado a cada dois anos, desde 2007, e é considerado o principal indicador para avaliar a qualidade do ensino no país. Avalia o ensino fundamental (anos iniciais e finais) e o ensino médio, tanto na rede pública quanto privada, em todo o país. O índice é o resultado de uma combinação das notas das provas de português e matemática e do índice de aprovação dos alunos. Neste recorte, está sendo considerado apenas o Ideb da rede pública dos anos iniciais.  

Nesse faixa de ensino (1º ao 5º ano), o Paraná teve nota 6,1, considerando somente a rede pública. Foi o segundo melhor desempenho entre as unidades da federação, empatado com São Paulo e Ceará, e atrás apenas de Santa Catarina, que teve nota 6,2.

Na opinião de vários especialistas em educação, o Ideb de 2021 teve interferência direta da pandemia de Covid-19, que afetou o ensino, causando perdas no processo de aprendizagem. Tanto que em praticamente todas as cidades - não apenas do Paraná, mas de todo o país - o Ideb de 2021 foi menor que o da pesquisa anterior, de 2019.

Apenas três capitais atingiram a média 6 no Ideb, entre elas Curitiba

Embora Curitiba tenha tido a menor nota entre as principais cidades do Paraná e apresentado um recuo em relação ao Ideb anterior, que foi de 6,5, a nota 6 é considerada boa pelo município. “Estamos entre as três únicas capitais brasileiras que alcançaram a meta de ter média 6 estipulada pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE)”, destaca a secretária de Educação da capital, Maria Silvia Bacila.

As outras cidades foram Teresina (PI), com 6,3, e Palmas (TO), com 6,1. “São capitais bem menores, não dá para comparar”, observa a secretária. “Entre as capitais com mais de 1 milhão de habitantes, Curitiba está em primeiro lugar”, acrescenta. Além disso, Curitiba subiu no ranking entre as capitais: passou da quarta para a terceira colocação, ficando à frente de Florianópolis (5,9), Belo Horizonte (5,8), Rio de Janeiro (5,8), São Paulo (5,7), e Porto Alegre (5,2). A média em todo o Brasil, nessa faixa de ensino, foi 5,5.

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“Poderíamos ter uma nota maior, mas dentro de todo esse cenário decorrente da pandemia, ter reduzido apenas meio ponto em relação ao último Ideb foi um decréscimo pequeno diante de tanto tempo em que o ensino presencial foi subtraído das crianças”, destaca a secretária. Para ela, a pandemia revelou a necessidade da mediação presencial dos professores. “A crianças precisam de ações pedagógicas presenciais”, pontua.

Bacila enumera algumas ações que vêm sendo intensificadas para recuperar a defasagem, entre elas a ampliação do projeto Leia Mais; o contraturno com horário estendido; o monitoramento das avaliações periódicas e a prova Curitiba que, antes anual, dessa vez será feita duas vezes no ano. Além disso, Curitiba, que no último ano investiu 25,89% em educação, já atingiu a meta do Plano Nacional de Educação. "Em relação à oferta de ensino integral, já ultrapassamos 50% e, em 2024, teremos 100% da rede atendida”, informa.

Em Foz do Iguaçu, 65% dos alunos não têm acesso à internet

“Queríamos mais que 7, mas considerando a pandemia ficamos felizes com o resultado”, diz Maria Justina da Silva, secretária de Educação de Foz do Iguaçu, que teve 6,7 no Ideb. Segundo ela, a dificuldade de acesso à internet prejudicou ainda mais os alunos do município durante a pandemia. “Num primeiro momento avaliamos a possibilidade de usar as ferramentas online, mas percebemos que 65% não teriam acesso. Então, mudamos a estratégia”, conta. Segundo ela, o material era impresso e os pais iam buscar a cada 15 dias. Foi também criado grupo de WhatsApp entre alunos, pais e alunos para tirar dúvidas e os professores faziam vídeos para orientar melhor as crianças.

Para a secretária, a pandemia evidenciou a importância da presença do professor em sala de aula. “Aqui em Foz, historicamente tínhamos os melhores resultados em matemática. Com a pandemia, isso se inverteu e agora as melhores notas são em português, provavelmente porque ensinar matemática à distância é mais complexo”, acredita. Ela acrescenta que o ponto positivo foi que os professores aprenderam a usar a tecnologia a seu favor.

Para enfrentar o desafio de recuperar a defasagem que ficou, Foz do Iguaçu ampliou  as salas de apoio no contraturno. Eram 70, agora são 220.   Além disso, adotou a estratégia de oferecer almoço às crianças para segurá-las nas escolas para que fiquem no contraturno.

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Em Foz do Iguaçu, escolas registram mais faltas após o retorno da pandemia. (Divulgação/Prefeitura de Foz do Iguaçu)| Foto: CHRISTIAN RIZZI

“Após a pandemia, aumentou muito o número de faltas. Há muitos alunos com risco de reprovação por causa disso”, diz Justina Silva.  Segundo ela, ao longo da pandemia os pais perceberam que as crianças ficando em casa ajudavam em algumas tarefas domésticas, como cuidar de irmãos menores, por exemplo. “Isso não é responsabilidade da criança. Ela tem que estar na escola”, pontua.

O município mantém um programa de combate à evasão escolar, com seis assistentes sociais concursadas que fazem  o trabalho de monitoramento e busca das crianças faltosas. “Se tem três faltas, encaminhamos o caso para a assistência social que vai atrás dos pais. Se não há resposta, acionamos o Conselho Tutelar e até o Ministério Público, em caso de necessidade”, diz.

O município de Foz do Iguaçu tem 50 escolas do ensino fundamental de 1º ao 5º ano, com 17 mil alunos. Entre as 50, há apenas uma rural e quatro mais distantes da região central. O município investe entre 25% e 26% do orçamento em educação. Por lei, o obrigatório é investir ao menos 25%.

Notebook e auxílio-conectividade faz a diferença em Maringá

Em Maringá, ainda em 2019, todos os alunos de 4º e 5º ano da rede pública receberam notebook para acompanhar as aulas de ciências e matemática. “Penso que isso ajudou bastante na pandemia porque eles estavam adaptados com a tecnologia”, destaca o prefeito Ulisses Maia. Além disso, este ano o município implantou o auxílio-conectividade de R$ 100 mensais por aluno, para cobrir despesa com acesso à internet. E também passou a pagar R$ 200 como auxílio-produtividade aos professores.

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Alunos de Maringá recebem notebook. (Divulgação/Prefeitura de Maringá)

O prefeito comemora o Ideb de 6,5, avaliando como resultado “excelente”. “Foi maior que a média do Paraná, maior que a média do Brasil e maior que a média dos estados do Sul”. Sobre a redução de 0,7 pontos (na avaliação anterior, o Ideb foi 7,2), Maia diz que “o importante é comparar com os resultados do momento e não de antes da pandemia”.

Outro diferencial de Maringá em relação a outros municípios do Paraná é a oferta de ensino integral em 73% da rede, antecipando a meta do Plano Nacional da Educação que determinou 50% até 2024.  A rede municipal conta com 52 escolas do ensino fundamental com 16.317 alunos matriculados do 1º ao 5º ano.

Como estratégia adotada na pandemia, o prefeito destaca a grande aproximação entre escolas, alunos e famílias. “Aulas remotas não funcionariam com alunos pequenos, imprimíamos os materiais e os pais vinham buscar”. Segundo ele, houve uma redução na frequência, mas que não considera alarmante. “O afastamento de alguns alunos foi por problemas sociais, falta de renda, desemprego, doença ou família desestruturada e isso estamos atendendo com o serviço social”, diz.

O município investe em educação o que é previsto em lei, 25% do orçamento, mas para 2023 a prefeitura anuncia que irá ampliar em 32% em relação ao que foi aplicado no último ano.

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Ampliar a educação integral é desafio para Londrina

Em Londrina, o Ideb de 2021 foi de 6,4. Em 2019 tinha chegado a 6,8. “Se não fosse a pandemia, seria superior a 7”, acredita a secretária municipal de Educação, Maria Tereza Paschoal de Moraes. Para ela, se o ano tivesse mais dois meses seria possível que as crianças chegassem em 2023 em dia. “Vamos precisar um pouco mais de tempo”, observa.

A secretária destaca que não será possível encarar 2023 como se não tivesse tido a pandemia de Covid-19 e adverte que algumas questões levaram bem mais tempo para recuperar. “A pandemia teve um efeito na vida das pessoas, na inteligência emocional, nos relacionamentos”, pontua. Ela observa que crianças que estavam com 4 anos, voltaram para a escola com 6, 7. “Foram atingidas bem no período da alfabetização. É preciso olhar para isso com cuidado, é um ponto de atenção. Talvez, por conta disso, tenhamos daqui para frente situações diferentes do que se vê hoje nas escolas”.

Em relação à evasão escolar, a secretária diz que não foi identificado esse problema no município. “Temos um grupo de professores mediadores que atuam por regiões da cidade fazendo a busca ativa”, diz.

Um desafio para Londrina é ampliar as escolas integrais, que não chegam a 5%. “O percentual é baixo por problema de estrutura, falta espaço. Para ampliar precisamos dobrar o número de escolas", responde a secretária. Hoje são 123 unidades municipais que oferecem ensino do 1º ao 5º ano a 47 mil alunos. O município investe 25% do orçamento em educação.

Em Cascavel, a evasão preocupa

“Considerando toda a questão da pandemia em que houve uma ruptura, o Ideb de 6,3 foi razoável”, avalia a secretária de Educação de Cascavel, Márcia Baldini. “Não foi a nota que queríamos, mas não foi tão ruim”, pondera. Na pesquisa anterior, o município tinha ficado com 6,5.

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“Agora estamos trabalhando para tentar a recomposição da aprendizagem”, pontua a secretária. Ela observa que as crianças que farão a próxima prova do Ideb são aquelas que tiveram o 1º e 2º anos de forma remota. Por isso, ela não vê com otimismo o próximo resultado.  “Quando essas crianças iam aprofundar o processo de alfabetização, veio a pandemia e isso foi interrompido”, lembra.

Como outros municípios, Cascavel também optou por imprimir os materiais didáticos que eram retirados pelos pais semanalmente. “Nem todos têm acesso à internet, temos alunos que moram em regiões periféricas e o pacote de dados que a família tem é insuficiente para atender. A Secretaria da Educação criou o Portal da Aprendizagem, um espaço de apoio onde eram disponibilizadas as aulas, as atividades, além de jogos interativos".

A preocupação maior agora é com a evasão. Segundo Baldini, está programada reunião com o Ministério Público para tratar do assunto. “A pandemia trouxe uma mudança na mentalidade das pessoas. A gente percebe que muitos pais não estão mais levando as crianças para a escola”, alerta. A secretária diz que ainda não há números oficiais de evasão, mas a situação preocupa.

Cascavel tem 64 escolas municipais com 31.085 alunos e cerca de 10% são atendidos pelo ensino integral. Em 2021, o percentual do orçamento aplicado em educação foi de 25,37%.

Ponta Grossa aciona TV aberta e YouTube

O município de Ponta Grossa, que vinha em um constante crescimento, oscilou 0,3 pontos para menos no Ideb, passando dos 6,5 atingidos em 2019 para 6,2 em 2021. A redução ficou dentro da expectativa da Secretaria Municipal de Educação.

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“Temos 87 escolas de ensino fundamental com realidades diferenciadas, algumas mais periféricas, umas no meio rural e outras em condições socioeconômicas melhores”, observa a secretária de Educação, Simone Pereira Neves. Por lá, durante a pandemia foi usada a TV Educativa, do município, para a transmissão das aulas em canal aberto. Foi criado o programa Vem Aprender, diário, com a participação de 22 professores.  Fora isso, foram disponibilizadas aulas no canal da prefeitura no YouTube.  Para atender a zona rural, onde não pega TV e nem há conexão com a internet, as aulas eram gravadas em DVD e levadas até as casas dos alunos semanalmente. Segundo a secretária, um trabalho muito intenso é desenvolvido especialmente com as famílias do meio rural para evitar a evasão escolar.

Na cidade, são 23 mil alunos de 1º ao 5º ano em 87 escolas municipais. Para a secretária, há que se levar em conta os fatores emocionais que impactaram os alunos em razão de perdas ocorridas no período de pandemia. “As crianças precisaram se adaptar a um sistema novo de aprendizagem”, pontua.

Em relação ao resultado do Ideb, ela informa que nove escolas do município não atingiram o quórum mínimo para fazer a prova porque nem todos os pais levaram os alunos para a escola. Oito dessas escolas tiveram um Ideb alto, na faixa de 7, na  avaliação anterior. Sem a participação delas, o último Ideb acabou comprometido. "Mesmo assim, na avaliação de 2021, tivemos 12 escolas acima de 7 e 32 que mantiveram nota acima de 6,5".

Para a secretária do município, o desafio maior ainda está por vir. “Não podemos pensar que acabou a pandemia e que teremos as mesmas crianças de antes. Estamos com crianças que vão chegar ao 4º e 5º anos, que não foram devidamente alfabetizadas e que não terão o nível de autonomia que se espera para essa idade”.

Ponta Grossa tem 23 mil alunos do 1º ao 5º ano na rede pública, em 87 escolas. O investimento em educação tem sido de 26% do orçamento do município.

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