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Dalton Trevisan, o "Vampiro de Curitiba", faleceu aos 99 anos
Dalton Trevisan, o “Vampiro de Curitiba”, faleceu aos 99 anos| Foto: Ilustração: Oswalter Urbinati

Falecido nesta segunda-feira (9) aos 99 anos, Dalton Trevisan, um dos maiores contistas da literatura brasileira, tinha uma personalidade reclusa e deixa um legado que transformou a literatura nacional, marcando gerações com uma escrita afiada e, muitas vezes, sombria.

Nascido em 14 de junho de 1925, em Curitiba, Dalton Trevisan começou o caminho na literatura com a fundação da revista Joaquim em 1946. A publicação, a qual editou até 1948, foi um marco cultural na capital paranaense e reuniu grandes artistas como Carlos Drummond de Andrade, Vinicius de Moraes, Di Cavalcanti e Portinari. A revista tinha como objetivo romper com o conservadorismo da época, sendo uma plataforma de experimentação para uma arte considerada mais moderna, que fervilhava à época.

Dalton Trevisan também se destacou pelas críticas incisivas aos pilares da cultura local. Foi um crítico contumaz do Paranismo, movimento artístico que acusava de perpetuar uma visão antiquada da arte. A ousadia ajudou a consolidar Curitiba no cenário da modernidade artística brasileira.

A carreira literária de Dalton Trevisan decolou de vez em 1959, com o lançamento de "Novelas Nada Exemplares", que lhe rendeu o primeiro de seus quatro prêmios Jabuti (1960, 1965, 1995 e 2011). Dois anos depois, veio o clássico "O Vampiro de Curitiba" (1965), obra que lhe garantiu o apelido pelo qual ficou conhecido.

A obra é uma coletânea de contos breves, diretos e de alta carga emocional que enaltece aspectos sombrios do cotidiano de Curitiba. Com uma linguagem sarcástica, direta e curta e por meio de um mergulho profundo nos aspectos psicológicos dos personagens, se tornou referência na literatura da língua portuguesa.

Entre as principais características estavam a obsessão pela precisão narrativa e a prática constante de revisar e modificar os textos, mesmo após a publicação e com idade avançada, o que reforçava a fama de perfeccionista.

Conhecido por evitar a vida pública, Dalton Trevisan raramente concedia entrevistas ou participava de eventos literários, reclusão que aumentava o mistério em torno da obra e a personalidade do autor. Ele dedicou a vida à literatura, produzindo mais de 40 livros, traduzidos para diversos idiomas. Aos 97 anos, ele lançou a Antologia Pessoal (Record), uma coleção na qual selecionou 94 contos.

Entre as inúmeras premiações, destacam-se o Prêmio Camões, recebido em 2012 pelo conjunto da obra, e o Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, no mesmo ano. A contribuição de Trevisan à literatura foi reconhecida tanto no Brasil quanto internacionalmente, o que o consolidou como um dos maiores escritores de sua geração.

Dalton Trevisan deixa uma obra vasta e influente, com destaque para livros como "Cemitério de Elefantes" (1964) e "O Vampiro de Curitiba" (1965). As histórias frequentemente ambientadas em Curitiba exploraram os meandros da condição humana com profundidade e crueza, tornando-se um retrato indispensável da sociedade brasileira.

Em novembro, Trevisan deixou a editora Record e vendeu sua obra para a Editora Todavia, que passará a publicá-la a partir de junho de 2025, quando ele completaria 100 anos.

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