A Defensoria Pública do Paraná notificou o Google e o TikTok para que as empresas retirem de suas plataformas de redes sociais um vídeo de um comediante português que fez uma piada sobre uma boneca Barbie recém-lançada pela Mattel – segundo a fabricante, o brinquedo representa uma pessoa com Síndrome de Down.
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No vídeo em questão, Hugo Soares fala sobre o lançamento da boneca “com trissomia do 21”, e chama a Barbie de “edição especial”. “Não é uma ideia original, toda a gente sabe que os chineses vendem bonecas com defeito”, completa o humorista.
Um grupo de 12 famílias de crianças com Síndrome de Down que moram em Curitiba procurou a defensoria buscando assistência jurídica. Para as famílias, o vídeo é discriminatório e cruel, e deve ser retirado das plataformas, o que foi pedido de forma extrajudicial às empresas. Em caso de negativa, a Defensoria Pública pode pedir a retirada dos vídeos na Justiça, assim como cobrar uma indenização por danos morais coletivos.
Google está avaliando a retirada do vídeo
A Gazeta do Povo entrou em contato com o Google. Por e-mail, a assessoria de imprensa da empresa confirmou que a notificação, enviada pela Defensoria Pública do Paraná na terça-feira, foi recebida nesta quarta-feira. A empresa também afirma que está “avaliando se o conteúdo viola nossas Políticas de Comunidade”. A reportagem está buscando contato com o TikTok.
“Entendo que é muito importante que as empresas retirem esse vídeo do ar porque ele viola a dignidade das pessoas com Síndrome de Down e fomenta preconceito e a desinformação sobre as pessoas com deficiência. O vídeo coloca essas pessoas em um lugar pejorativo. Uma sociedade mais justa e igualitária não pode compactuar com esse tipo de mensagem”, afirmou a defensora Camille Vieira da Costa, coordenadora do Núcleo Cível em Curitiba.
Defensoria quer evitar a perpetuação do preconceito e da desinformação
Na notificação encaminhada às empresas, Costa ressaltou que o conteúdo do vídeo, gravado em uma apresentação em Portugal, viola a Constituição Federal, a Convenção Sobre Direitos das Pessoas com Deficiência e a Lei Brasileira de Inclusão. De acordo com a defensora, o comediante associa a pessoa com trissomia do cromossomo 21 (Síndrome de Down) a um ser humano com defeito, expondo esse público a uma situação vexatória e fomentando um estereótipo discriminatório enraizado na sociedade
“Entendo que muitas pessoas possam achar tal pedido polêmico porque entendem que não pode haver restrição ou uma limitação ao humor. Mas, não só na perspectiva da pessoa com deficiência, mas na do movimento negro, na do movimento de mulheres, a perpetuação de estereótipos e preconceitos passa muito pela ideia de achar que essas práticas são apenas brincadeiras. Não são. É muito importante o combate a esse tipo de atuação para evitar a perpetuação do preconceito e da desinformação", defendeu.
Humorista não vai pedir desculpas
Ao portal de notícias g1, Hugo Soares disse que tudo não passou de uma piada, e afirmou, em nota, que não vai pedir desculpas. “Eu sou comediante e tudo o que faço em palco e nas redes sociais é comédia. O meu público e os meus seguidores sabem disso e como não são ignorantes sabem que o que eu digo é piada e não a minha opinião. Uma das características do exercício da comédia é o absurdo e é com isso que trabalho. As pessoas riem do absurdo de eu dizer ‘bonecas com defeito’ e não das pessoas com Trissomia 21. Não me arrependo e não peço desculpa. É o meu trabalho”, afirmou.
Golpe de marketing
Em sua página oficial, a Mattel dá mais detalhes sobre a Barbie portadora de Síndrome de Down. “A boneca tem um corpo mais curto e um tronco mais longo. O novo rosto é mais redondo, com orelhas menores, uma ponte nasal plana e olhos levemente oblíquos e amendoados”, aponta a empresa. Além disso, a boneca usa uma órtese nas pernas.
Para Marcelina Souschek, representante da associação portuguesa Pais 21, mesmo com essas características ao olhar para a boneca não se identifica logo uma pessoa com Trissomia 21, a Síndrome de Down. “Em alguns fóruns internacionais as pessoas diziam que esta Barbie é muito mais parecida com a mulher normal do que a Barbie tradicional porque não é tão alta, não tem a coluna enorme”, afirmou, em entrevista à própria associação.
Sobre a órtese da boneca, Souschek explicou que “algumas crianças usam aquilo, ao início, para ajudá-las a manterem-se de pé, mas não é uma coisa que uma mulher use”. Para ela, o lançamento da boneca não passa de um golpe de marketing.
“Obviamente as empresas têm de viver e modernizar-se. E modernizar uma figura como a Barbie, que foi uma boneca com que eu, que já tenho mais de 50 anos, brinquei, é bom. Hoje temos uma consciência muito grande para a diversidade, pelo menos falamos muito nisto. Obviamente que é uma questão de marketing. É tornar também o brinquedo acessível a todos, que se olhe para o brinquedo, que se fale da marca. Acaba por ser um golpe de marketing”, pontuou.
A reportagem procurou a Mattel, mas ainda não obteve retorno.
Léo Lins teve que apagar especial de comédia e está proibido de sair de São Paulo sem autorização judicial
O humorista Léo Lins foi obrigado a apagar do YouTube, na tarde desta terça-feira (16), um especial de comédia que havia sido publicado no final de 2022 e contava com 3,3 milhões de acessos.
A decisão, da juíza Gina Fonseca Correa, do Tribunal de Justiça de São Paulo, atendeu a um pedido do Ministério Público de São Paulo, que alegou que o comediante estaria “reproduzindo discursos e posicionamentos que hoje são repudiados”, mencionando em suas piadas temas como escravidão, perseguição religiosa, minorias e pessoas idosas e com deficiências.
A magistrada também proibiu que Léo Lins deixe a cidade de São Paulo por mais de dez dias sem autorização judicial e ordenou que o comediante compareça mensalmente em juízo para informar e justificar suas atividades.
À reportagem, a defesa do humorista disse que recorrerá da decisão. “Entendemos que isso configuraria censura prévia, o que é proibido dela Constituição”, aponta o advogado Rodrigo Barrouin.
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