A defesa de Jorge Guaranho vai tentar desqualificar a denúncia oferecida pelo Ministério Público do Paraná (MP-MP) e pretende provar que o crime cometido por ele contra Marcelo Arruda em 2022 não teve conotação política. Guaranho terá pela frente o tribunal do júri, sob a acusação de homicídio duplamente qualificado por motivo fútil e por se considerar perigo comum, já que os disparos foram efetuados em local onde estavam diversas outras pessoas. O julgamento começa na próxima quinta-feira (4) em Foz do Iguaçu.
Conforme narra a denúncia do MPPR, Arruda foi assassinado na noite de 9 de julho, enquanto comemorava o aniversário dele na Associação dos Empregados da Itaipu Binacional Brasil. A festa de aniversário tinha decoração temática alusiva ao PT e ao então pré-candidato à presidência da República Luiz Inácio Lula da Silva. Ao ter acesso às imagens da festa registradas pelas câmeras de segurança da Associação, Guarunho foi até o local da festa de aniversário com o som do carro reproduzindo músicas alusivas ao então presidente Jair Bolsonaro(PL).
“Inconformado com a explícita apologia ao principal adversário (Lula) do pré-candidato de sua preferência (Bolsonaro) Guaranho, da janela do seu veículo, deu causa ao que seria o início do enredo macabro, provocando indistintamente todos os convivas (que não conhecia) com expressões que denegriam o opositor (‘Lula ladrão’, ‘PT lixo’) e exaltavam o de sua preferência (‘Bolsonaro Mito’, “aqui é Bolsonaro’)”, relata o Ministério Público.
Em uma entrevista coletiva concedida na manhã desta terça-feira (2), advogados que formam a banca de defesa de Guaranho afirmaram que há provas de que o assassinato de Arruda, ex-tesoureiro do PT em Foz do Iguaçu, não foi motivado por posições políticas antagônicas.
“Nós vamos trabalhar com a verdade dos fatos, com o que foi angariado durante o processo. Sem narrativas, sem influências externas. Vamos trabalhar com os documentos que temos, laudos periciais, testemunhas, vídeos. O crime ocorreu após uma discussão banal, e tentaram dar um aspecto de extremista ao Jorge Guaranho, o que ele não é. Esta conotação política não está configurada nos autos”, afirmou o advogado Samir Mattar Assad.
O defensor confirmou a existência de laudos da Polícia Científica que comprovam que quando voltou ao local do crime, Guaranho estava ouvindo músicas alusivas ao então presidente da República Jair Bolsonaro (PL). “Existe sim esse laudo. Mas nós vamos poder demonstrar a dinâmica dos fatos com a ajuda de vídeos que deixam muito claro como tudo ocorreu. Uma discussão banal que acabou em tragédia para as duas famílias”, disse Assad.
Defesa não antecipou tese a ser apresentada durante o júri popular
Sem antecipar a tese defensiva a ser apresentada aos jurados, o advogado confirmou que, a seu ver, “não existem os elementos caracterizadores da futilidade e do perigo comum”. Para o defensor, Guaranho, a esposa e o filho foram agredidos “de forma violenta” pelo ex-tesoureiro do PT. O advogado confirmou que o ex-agente penal federal estava armado, assim como Arruda, e que o retorno dele ao salão de festas foi motivado por “uma situação extrema”.
“A partir do momento em que há um ato agressivo, violento, por parte do Marcelo após uma discussão banal, está descontextualizada toda a conotação política do caso”, completou Assad.
De acordo com a denúncia oferecida pelo Ministério Público, a esposa e o filho de Guaranho foram deixados por ele em frente à casa da família, e um parente teria sido chamado para abrir a residência. Para o advogado Samir Mattar Assad, essas alegações “também estão descontextualizadas”.
“Nós sempre vimos meu irmão como uma pessoa tranquila, do bem, carinhoso. Ele estava em seu melhor momento, casado, com filho de dois meses. Eu vejo como uma atitude de um pai defendendo o próprio filho. A preocupação da família é com a saúde dele. Ele não teve acesso aos cuidados necessários, deveria ter passado por uma série de cirurgias que não foram feitas e segue em recuperação”, apontou o irmão de Guaranho, John Lenon Araújo, em entrevista à Gazeta do Povo.
Polícia Civil não informou resultado de inquérito que investigou agressões sofridas por Guaranho
A Polícia Civil do Paraná abriu outro inquérito, paralelo ao do assassinato, para investigar as agressões sofridas por Guaranho após a troca de tiros. Três convidados da festa de Arruda chutaram a cabeça do ex-agente penal federal depois de Guaranho ter sido atingido por tiros disparados pelo ex-tesoureiro do PT. Segundo a força-tarefa criada para investigação do caso, as agressões podem ter agravado seu quadro de saúde.
Samir Mattar Assad disse à Gazeta do Povo que a defesa de Guaranho ainda não teve acesso ao resultado do inquérito aberto há quase dois anos. “Nós temos conhecimento de que foi instaurado um processo, mas ainda não tivemos acesso. Esperamos que isso nos seja franqueado antes do julgamento, para que nós possamos exercer a defesa dentro do devido processo legal”, confirmou.
A reportagem entrou em contato com a Polícia Civil do Paraná questionando sobre o resultado do inquérito que investigou as agressões sofridas por Guaranho, mas não obteve resposta. O espaço segue aberto para manifestações.
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