Senador foi até cartório para emissão de antecedentes criminais e aguardou Traiano por cerca de 10 minutos| Foto: Ana Paula Pickler/Gazeta do Povo
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Após troca de acusações pelas redes sociais, o senador Sergio Moro (União Brasil-PR) aceitou o desafio do presidente da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), deputado Ademar Traiano (PSD), para apresentação de antecedentes criminais e compareceu no final da manhã desta sexta-feira (18) ao Tabelionato Bacellar, em Curitiba (PR). O deputado estadual, que confessou ter recebido propina e foi beneficiado por um acordo com o Ministério Público do Paraná (MP-PR), homologado pelo Poder Judiciário, não foi até o cartório.

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O confronto entre o senador e o presidente da Alep começou após Moro usar o plenário do Senado para comentar o enfraquecimento do combate à corrupção no país e citar o caso do deputado do PSD, aliado do governador Ratinho Junior (PSD), como exemplo da contaminação das esferas estaduais. “O senhor Ademar Traiano foi pego em áudios, pedindo suborno, pedindo propina a um empresário. E o que é pior, o deputado estadual, presidente da Assembleia Legislativa, fez com o Ministério Público do Paraná um Acordo de Não Persecução Penal (ANPP). Ele admitiu, mas pasmem, ele continua no exercício do mandato de deputado estadual e no cargo de presidente da Assembleia”, discursou Moro. 

“Eu atribuo essa situação específica ao clima generalizado de vale-tudo no país, que tomou conta do país desde o retorno do Lula à Presidência da República, desde que se abandonou a prevenção e o combate à corrupção. Quem faz isso tem condição de ocupar o nobre cargo de legislador do estado do Paraná e presidente da Casa?”, completou.

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Em nota, Traiano rebateu o senador e defendeu a legalidade do acordo com o MP-PR, homologado pelo Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR). Segundo as investigações, o presidente da Alep e o ex-deputado Plauto Miró receberam R$ 100 mil cada um para renovação de um contrato para prestação de serviço na TV Assembleia. 

“Como ex-juiz federal, o senhor deve (ou, pelo menos, deveria) ser um profundo conhecedor do ordenamento jurídico e, portanto, entende que o Acordo de Não Persecução Penal é um instrumento legal, criado justamente para promover soluções consensuais e céleres em casos de menor gravidade. Cabe lembrar que esse instrumento, utilizado por mim, foi introduzido na legislação por iniciativa de Vossa Excelência, quando ocupava o cargo de ministro da Justiça”, respondeu Traiano.

O presidente da Alep ainda acusa Moro de responder processos no Supremo Tribunal Federal (STF), onde o senador é réu por calúnia contra o ministro Gilmar Mendes. “Faço um convite ao senhor: vamos juntos a um cartório, onde posso prontamente apresentar minha certidão de antecedentes criminais e civis, que demonstram minha total ausência de processos. Ao contrário, Vossa Excelência, que atualmente figura como réu em processos no Supremo Tribunal Federal, talvez tenha dificuldades em fazer o mesmo”, desafiou. 

Questionado sobre as declarações públicas do deputado estadual Ney Leprevost, que culpou Moro pela derrota da chapa do União Brasil em Curitiba, o senador respondeu que não vai falar sobre o assunto, pois se manifestou sobre a campanha do candidato a prefeito pelas redes sociais. Leprevost tinha como candidata a vice-prefeita Rosângela Moro. Sobre os planos no União Brasil, o senador voltou a confirmar que pode disputar o governo do Paraná em 2026.

Moro cobra posicionamento de Eduardo Pimentel e Cristina Graeml em caso Traiano

Após emissão do documento, Moro aguardou Traiano por cerca de 10 minutos antes de deixar o cartório, onde atendeu a imprensa e cobrou dos candidatos à prefeitura de Curitiba um posicionamento sobre o caso que veio à tona em dezembro do ano passado. À época, o deputado estadual Fabio Oliveira (Podemos) e o ex-procurador da Lava Jato Deltan Dallagnol (Novo) foram dos poucos políticos que cobraram a renúncia de Traiano, além da bancada de oposição da Alep, liderada pelo PT, que não obteve as assinaturas suficientes para criação da CPI da TV Assembleia.

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“Eu gostaria de saber qual é posição dos dois candidatos sobre essa situação, se eles concordam ou não, que alguém com essa falta de condições morais para o cargo, permaneça como presidente da Assembleia e com risco de ser presidente da CCJ [Comissão de Constituição e Justiça] no próximo ano. Então, essas posições são importantes e o eleitor quer clareza. A Assembleia não se confunde com a prefeitura de Curitiba, mas é o segundo cargo mais importante do estado”, cobrou Moro, que ainda não declarou apoio a um dos candidatos no segundo turno. Questionado pela Gazeta do Povo, Moro disse que ainda está analisando o seu voto a prefeito.

A Gazeta do Povo procurou a assessoria de imprensa de Ademar Traiano, mas não houve uma resposta sobre a ausência do presidente da Alep no encontro com o senador paranaense, até a publicação deste texto.

As campanhas de Eduardo Pimentel (PSD), que pertence ao mesmo partido de Traiano, e da candidata Cristina Graeml (PMB), não se manifestaram sobre o caso de corrupção na Assembleia até esta publicação. O espaço segue aberto.

Traiano alega “segredo de Justiça” e critica conduta de Moro na Lava Jato

Após a visita de Moro ao cartório, Traiano respondeu ao senador, por meio de uma nova nota publicada na tarde desta sexta-feira no Instagram oficial do deputado estadual. De acordo com ele, o compromisso foi apresentar certidões cíveis e criminais, “dentro da legalidade”, sem cometer o crime de violação do segredo de Justiça.

“Essa é a diferença entre nós: eu respeito a lei, enquanto você parece disposto a atropelar qualquer regra para manter seu nome em evidência”, disse Traiano, que teve os áudios do processo mantidos sob sigilo por decisão judicial.

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O presidente da Alep acusa o ex-juiz da Lava Jato de “coação” e “vazamentos de informações” durante a operação de combate à corrupção. “Fiz um acordo com o Ministério Público do Paraná, homologado pela Justiça, sem qualquer coação – instrumento que o senhor usou e abusou - e cumpri com todas as minhas obrigações. As informações que constam do meu processo foram vazadas para a imprensa em desrespeito ao sigilo judicial imposto pela lei, ironicamente, mais uma conduta ilegal que o senhor conhece bem”, atacou.

De acordo com a nota assinada por Traiano, a Polícia Federal investiga as condutas do ex-juiz, como “negociações de delações direcionadas, chantagens, coações e constrangimentos políticos”. “Essas condutas configuram crimes gravíssimos como concussão, fraude processual, organização criminosa e lavagem de capitais”, completa o deputado paranaense. 

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]