Comunidade ucraniana de Prudentópolis em ato de apoio ao país invadido pela Rússia.| Foto: Rodrigo Michalovski / Colaboração
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A comunidade ucraniana do Paraná está disposta a prestar ajuda humanitária aos refugiados do país do leste europeu invadido pela Rússia na quinta-feira (24).

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Em Prudentópolis, a pouco mais de 200 km de Curitiba, nos Campos Gerais, moradores ofereceram a própria casa para receber fugitivos da guerra. O município tem cerca de 75% da população de 57,2 mil habitantes de origem ucraniana e em 2022 completa 131 anos da chegada dos imigrantes.

Após a invasão russa, moradores de Prudentópolis fizeram um ato de apoio ao país invadido, em que os descendentes cantaram o hino nacional da Ucrânia e rezaram pela nação de seus antepassados. Nesta sexta-feira (25), às 18h, é a vez da comunidade de Curitiba prestar solidariedade em ato no Memorial Ucraniano no Parque Tingui.

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O comerciante Edgar Belo, 60 anos, é um dos voluntários a receber refugiados na sua própria casa. "Se pudesse, estaria lá na Ucrânia lutando ao lado do povo. Mas posso ajudar de outra forma, abrindo a porta da minha casa para famílias de lá que precisarem de um abrigo", afirma Belo, que diz ter condições de receber até dez pessoas em sua residência.

"A língua e os hábitos não vão ser problema. Aprendi primeiro o ucraniano em casa e só com 9 anos, na escola, fui falar português. Preservo todos os hábitos de nossa etnia", reforça o descendente que é da quinta geração da família no Brasil e possui um a loja de materiais de construção na cidade. Belo está com viagem marcada para a Ucrânia em agosto, quando visitaria pela primeira vez o país de sua família. "Vou ter que cancelar a viagem por causa dessa invasão da Rússia. É frustrante, mas seguimos aqui apoiando os ucranianos", enfatiza.

Desde 2019, quando encontrou parte da família ucraniana, Belo mantém contato com os parentes em Pitkmin, vilarejo no oeste da Ucrânia. A cidade fica nas proximidades de Chernobyl, onde em 1986 houve o mais grave acidente nuclear da história, quando o reator da Usina V.I. Lenin explodiu. Quinta-feira a usina foi tomada pelas tropas russas.

Entre 1999 e 2001, aliás, os ucranianos de Curitiba já haviam se solidarizado com o país de seus antepassados, recebendo em suas casas 15 crianças com doenças causadas pelo vazamento nuclear de Chernobyl para tratamento no Hospital Evangélico Mackenzie.

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Por telefone, Belo ofereceu abrigo ao primo ucraniano de 37 anos com quem conversa constantemente. "Mas ele disse que vai ficar e lutar. Ele foi dispensado no trabalho e disse que já iria se apresentar para o combate", relata Belo. Já no primeiro dia da invasão, o presidente Volodymyr Zelensky convocou a população a resistir ao ataque russo e ofereceu armas a qualquer cidadão que queira se juntar às forças ucranianas.

A própria prefeitura de Prudentópolis também se dispôs a prestar ajuda humanitária caso o Brasil receba refugiados. O prefeito Osnei Stadler enviou ofício oferecendo ajuda à prefeitura de Ternópil, cidade-irmã de Prudentópolis, de cuja região vieram quase todos os imigrantes do município. "Prudentópolis segue com as portas e o coração abertos ao povo ucraniano, como já fez há mais de cem anos, quando recebeu os primeiros imigrantes que aqui construíram sua história e influenciaram diretamente no modo de vida de nossa terra", escreveu Stadler em ucraniano ao prefeito de Ternópil, Serhij Nadal.

Outra moradora de Prudentópolis disposta a receber refugiados é a servidora municipal Oksana Jadvizak, de 35 anos. Ela morou em Lviv, uma das maiores cidades da Ucrânia, por seis anos, onde fez faculdade de história.

Oksana participou dos protestos que depuseram o então presidente pró-Rússia Viktor Yanukovych, na Revolução Ucraniana, em 2014. Como resposta às manifestações, o presidente russo Vladimir Putin determinou a anexação da península da Crimeia, que até então era da Ucrânia. Em um dos protestos que Oksana participou na capital Kiev houve resposta violenta da polícia, com cerca de 100 pessoas mortas, inclusive um professor da moradora de Prudentópolis.

"Eu liguei para meus amigos na Ucrânia oferecendo abrigo aqui em Prudentópolis. Eles agradeceram, mas disseram que vão lutar até o fim pelo país", relata a servidora municipal que, inclusive, traduziu para o ucraniano o ofício de ajuda enviado por Prudentópolis a Ternóbil. "Numa situação dessas, nós, descendentes, não podemos desamparar um ucraniano que precisa de apoio", reforça.

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Oksana afirma ainda que alguns empresários de Prudentópolis também se dispuseram a ajudar, oferecendo pagar estadia de hotéis caso os ucranianos que posso ir para a cidade.

Governo brasileiro

A Representação Central Ucraniano-Brasileira já está em contato com deputados e senadores em Brasília para convencer o governo federal a prestar ajuda humanitária aos refugiados do conflito no leste europeu. Entre os parlamentares procurados, boa parte é do Paraná, que abriga cerca de 80% dos 600 mil imigrantes e descendentes de ucranianos no Brasil. Entre eles, os senadores Oriovisto Guimarães (Podemos) e Álvaro Dias (Podemos), além dos deputados Gustavo Fruet (PDT), Rubens Buenos (Cidadania) e do líder do governo na Câmara Ricardo Barros (PP).

"Esse movimento não tem cor partidária. E não só Prudentópolis, mas também outras cidades do Paraná e do país, tenho certeza que se dispõem a ajudar, caso o Brasil venha a receber refugiados", afirma o presidente da Representação, o advogado curitibano Vitório Sorotiuk.

"Porém, acredito que o movimento maior de refugiados será para a própria Europa, pela proximidade, além de Canadá e Estados Unidos, que têm duas das maiores colônias de ucranianos do mundo", avalia Sorotiuk. O Brasil tem a quarta maior comunidade de descendentes da Ucrânia, atrás apenas da própria Rússia, do Canadá e dos Estados Unidos.

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O presidente da Sociedade Ucraniana no Brasil, o curitibano Felipe Oresten, confirma que os descendentes no Paraná estão dispostos a ajudar a população ucraniana. Mas como tudo ainda está muito recente, a comunidade daqui ainda não se organizou para receber refugiados ou mesmo enviar ajuda à Ucrânia. "Estamos dispostos a ajudar. Nesse momento, queremos um posicionamento do governo brasileiro para que se mantenha no mesmo caminho de sanções à Rússia de outros países que apoiam a Ucrânia", afirma Oresten.