Ucranianos correram para os supermercados da capital Kiev na busca por mantimentos após invasão da Rússia.| Foto: EFE/EPA/SERGEY DOLZHENKO
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A comunidade ucraniana do Paraná está desde a madrugada desta quinta-feira (24) em busca de informações de parentes e amigos após a invasão da Rússia ao país vizinho no leste europeu. Os relatos de quem está na Ucrânia é de muita preocupação, com pessoas tentando fugir do país e correria na tentativa de guardar mantimentos, dinheiro em espécie e combustíveis para caso o conflito militar se agrave. O Paraná tem a maior comunidade ucraniana no Brasil, com cerca de 80% dos 600 mil imigrantes e descendentes que vivem no país.

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O empresário Sérgio José Maciura, neto de ucranianos e proprietário da agência de viagens Dnipró Gold em Curitiba, que há 29 anos é especializada em pacotes para o leste europeu, principalmente a Ucrânia, diz que o sentimento é de muito medo e desespero entre os ucranianos com quem falou na manhã desta quinta. "Todo mundo está escondido em casa ou tentando fugir. Uma família com quem tive contato foi se refugiar hoje na casa de amigos na montanha, nos Montes Cárpatos, perto da fronteira com a Polônia. Quem já está no lado ocidental da Ucrânia tenta cruzar a fronteira para a Polônia", relata o empresário, que também é presidente da Câmara da Indústria, Comércio e Serviços Brasil-Ucrânia.

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Com nome do principal rio do país, a Dnipró leva em média 500 turistas por ano à Ucrânia, representando 30% das operações da empresa. Não são só brasileiros que que viajam pela agência, como também turistas da Argentina, Paraguai, Estados Unidos e Canadá, países que também têm grandes comunidades ucranianas.

Maciura já prevê impacto do conflito militar não só em seu negócio como em outras atividades econômicas do Brasil com a Ucrânia. Mas a principal preocupação do empresário neste momento é com quem está na Ucrânia. "Estamos cientes de que as excursões vão cair. Quem quer visitar um país que está sendo atacado?", questiona. "Temos que aguardar e rezar para que o bom senso prevaleça, porque além de família, tenho muitos amigos e parceiros de trabalho na Ucrânia, desde funcionários de hotéis, motoristas, guias, parceiros comerciais com quem estou muito preocupado", relata Maciura, cuja família é de Lviv, perto da Polônia.

A preocupação é a mesma de Felipe Oresten, presidente da Sociedade Ucraniana do Brasil, cuja sede é em Curitiba. Ele também conversou com amigos ucranianos nesta quinta-feira. "Além de comida, as pessoas estão guardando dinheiro em espécie porque estão com medo de ficarem sem internet para transações bancárias, como já aconteceu no conflito de 2014", afirma ele, referindo-se à invasão há oito anos atrás, quando a Rússia anexou a ilha da Crimeia.

Mesmo com indícios dos últimos dias de que as forças russas invadiriam o país vizinho a qualquer momento, Oresten afirma que os amigos ucranianos não esperavam que a ação militar fosse tão intensa. "Eles esperavam um ataque iminente apenas na região leste, onde há grupos separatistas pró-Rússia. Tanto que muita gente se deslocou para o oeste na expectativa de ter mais segurança. Mas os ataques e bombardeios estão sendo em todo o país. ", afirma.

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Entre a comunidade ucraniana em Curitiba, Oresten diz que o sentimento é de muita tristeza, em especial com os membros mais antigos, que não esperavam ver o país novamente atacado. "Parece que com as pessoas mais velhas a tristeza é maior ainda, porque eles já acompanharam isso quando a Ucrânia ainda não era um país independente", afirma o presidente da Sociedade Ucraniana. "Por muito tempo fomos impedidos de falar nossa língua e manter nossos costumes. Agora vemos um retrocesso, com a sensação de que novamente a Ucrânia pode perder sua liberdade, sua soberania", lamenta.

Das oito vezes em que esteve na Ucrânia, Oresten afirma que uma das mais marcantes foi em 2016, dois anos após a revolução que depôs o presidente pró-Rússia Viktor Yanukovych. "Foi triste ver hoje imagens na TV da Praça da Independência, na capital Kiev, vazia. O mesmo lugar que as pessoas se manifestaram em 2014", afirma.

Nesta quinta-feira, a Representação Central Ucraniano-Brasileira condenou a invasão russa e convocou os descendentes a se reunirem domingo (27) e terça-feira (2) nas igrejas ucranianas não só do Paraná, mas também em outros estados. "Chamamos todo o povo brasileira à solidariedade e apoio ao povo ucraniano", assina a convocação o presidente da representação, o advogado curitibano Vitório Sorotiuk.

Prudentópolis

Cidade mais ucraniana do Brasil, Prudentópolis, nos Campos Gerais, terá um protesto nesta quinta-feira contra a invasão russa. Vestidos de roupas típicas e com a bandeira do país europeu, os descendentes vão prestar solidariedade aos ucranianos na praça principal do município, que leva o nome de Ucrânia.

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Cerca de 75% da população de 52,7 mil habitantes de Prudentópolis é de origem ucraniana. O município, inclusive, guarda algumas das principais edificações de estilo ucraniano fora do país europeu, como a Igreja Matriz São Josafat, de estilo bizantino. Ano passado, a Câmara de Vereadores aprovou o ucraniano como língua cooficial do município.

Descendentes de ucranianos em Prudentópolis protestam nesta quinta contra a invasão russa.

Com tamanho laço com a Ucrânia, o clima é de luto em Prudentópolis nessa quinta. "Está todo mundo muito triste. A sensação é de que a Rússia não invadiu só a Ucrânia, mas que invadiu Prudentópolis também", compara o mecânico André Zakalugem, de 34 anos, que também trabalha como professor e tradutor de ucraniano e integra o grupo folclórico Vesselka.

Zakalugem afirma que no últimos dias muitos moradores de Prudentópolis estão "pagando missa" pela paz na Ucrânia. "Muitas pessoas pedem na missa para que se reze pela Ucrânia. A cada dia mais gente da cidade faz correntes de orações pela Ucrânia, sejam nas igrejas católicas ou ortodoxas", afirma.

Presidente do Grupo Folclórico Vesselka, Fermando Demenech afirma ter passado a madrugada acordado junto com outros amigos em busca de informações da invasão russa. "Nas redes sociais, muitos brasileiros que moram na Ucrânia estavam bem apreensivos. Essa é a notícia hoje em Prudentópolis. Só se fala nisso na cidade", explica Denemech.

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