Os nove dias de bloqueio total na BR-376, no trecho que dá acesso a Guaratuba, município do litoral paranaense - em virtude de um grave deslizamento de terra provocado pelas fortes chuvas que atingiram a região - alteraram o cotidiano de moradores das cidades próximas. Muito disso porque o recurso aos motoristas que precisavam passar pelo trecho foi utilizar como via alternativa a BR-277, que continua parcialmente interditada desde outubro, também por causa de deslizamento de terra ocorrido anteriormente.
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Atraso de mercadorias, cancelamento de consultas médicas, impeditivos para chegar a escola e aumento no tempo de locomoção para os que precisam pegar a estrada são alguns dos problemas relatados pelos litorâneos. Segundo relatos de moradores de Paranaguá, após o deslizamento muitos produtos começaram a chegar bem deteriorados e com preços mais elevados, principalmente frutas e verduras.
A fornecedora de morangos Jaquelini Karnoski Bueno conta que o congestionamento formado pela interdição na BR-277 aumentou o tempo de deslocamento, submetendo as frutas a condições desfavoráveis. “O morango é um produto sensível, muito perecível, por isso permanecer na estrada por um longo tempo no calor, mesmo com o ar condicionado ligado, prejudica sua qualidade”, diz ela, que vai à capital paranaense três vezes na semana para o abastecimento ao litoral.
Famílias dependentes do turismo tiveram prejuízos indiretos, considerando a diminuição dos turistas na região em virtude da dificuldade no tráfego, inclusive Jaquelini. “Nós também trabalhamos com locação de casas por dia e, com os deslizamentos, muitos clientes optaram por cancelar as reservas e evitar o deslocamento”.
Fernando Cesar Miguel, sócio-proprietário de uma panificadora em Morretes, cidade histórica do Paraná, viu o faturamento desabar devido ao número reduzido de visitantes. “Sentimos o reflexo nas vendas, e pela cidade depender do turismo, acontecimentos como esse prejudicam”, acrescenta.
Tratamentos de saúde prejudicados
Ainda que o atendimento de emergência aos moradores do litoral pelo Corpo de Bombeiros não tenha sofrido prejuízo, segundo informou a capitã Thayane Gracielle Batista de Lima, responsável pela comunicação social da operação, aqueles que precisaram do serviço de ambulância não tiveram a mesma sorte.
Aldemir Zwetsch Junior, secretário de Saúde em Matinhos, informou que a interdição das rodovias, em virtude dos desmoronamentos, além de impedir o retorno de alguns dos pacientes que estavam em outras cidades para tratamento médico, impôs que consultas fossem canceladas, por inexistir tempo hábil para o deslocamento, considerando as filas formadas.
A interdição na BR-277, mesmo que parcial, gerou congestionamento tão extenso que submeteu muitos pacientes a um estado de estresse elevadíssimo por permanecerem na estrada tempo excessivamente superior ao normal, apontam moradores. A reportagem ouviu relato de uma família que precisa se dirigir à capital paranaense semanalmente para tratamento médico, para investigação de possível transtorno de espectro autista. No caso, as longas horas de espera na estrada prejudicaram a saúde psicológica do paciente e interferiu na avaliação médica.
Somado ao congestionamento na BR-277, o secretário da Saúde de Matinhos apontou que a fila do ferry boat, formada após ser adotada como rota alternativa para aqueles que buscavam chegar em Guaratuba, agravou a segurança e a saúde daqueles que lá estavam. Foi necessário deslocar profissionais de saúde para atendimento, em virtude da alta temperatura que causou mal-estar e até mesmo desidratação, inclusive em ônibus de transporte com idosos e crianças. “Foi preciso direcionar profissionais para atender nas filas a fim de oferecer um suporte adequado as pessoas”, explica ele.
Moradores dos bairros de Guaratuba ficaram isolados
A extensa fila para embarcar não atingiu apenas condutores e passageiros dos veículos, mas também moradores dos bairros de Prainha e Cabaraquara, da cidade de Guaratuba, que se encontram próximos a Matinhos.
Sueli do Rocio Amaral Carneiro da Silva, moradora na Prainha, conta que, por trabalhar no centro de Matinhos, precisou se deslocar a pé até o trabalho, levando mais de uma hora e dez minutos por trajeto. “É muito difícil para quem mora aqui, mas trabalha em Matinhos e depende do carro para locomoção”, conta ela, após ter o pneu da sua moto furado por conta do estado da estrada desgastada pelo alto tráfego de veículos na região.
Gisele Nogueira, de 42 anos, moradora do bairro de Cabaraquara, localizado após as docas do ferry, precisou cancelar as diárias de trabalho por não ter condições de retornar para casa sozinha, quando o dia já escureceu. O marido dela, ao retornar de Paranaguá, levou cinco horas para fazer o trajeto, que normalmente levaria menos de uma hora.
“A maioria dos moradores optou por ir e voltar de moto porque conseguem cortar o congestionamento, ainda que coloquem em risco sua própria vida”, explica a moradora, acrescentando que o perigo é alto, já que muitos carros começaram a furar a fila do ferry indo na contramão.
Alunos não conseguiram ir para as aulas devido à fila do ferry boat
Não apenas os trabalhadores foram prejudicados. Alunos da região, como foi o caso de Murilo, de 16 anos, filho de Gisele, também ficaram sem frequentar as aulas em Matinhos, porque o transporte escolar não conseguia chegar até o bairro. A mãe precisou andar por mais de uma hora até a Secretaria de Educação da cidade para justificar as faltas pela ausência do transporte escolar.
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