Os números deixam claro: vem aí um novo problema de saúde, mas será de casos de câncer, em estágio mais avançado e até mesmo fatais. Isso porque muitas pessoas estão deixando de procurar ajuda médica e, assim, não receberam o diagnóstico de neoplasia. Um exemplo vem do Hospital Erasto Gaertner (HEG), principal referência oncológica no Paraná. Antes da pandemia do novo coronavírus, aproximadamente 500 pessoas recebiam, por semana, a notícia de que estavam com a doença. A quantidade caiu para 280. A diferença entre os dados indica que muitos doentes estão por aí, sem saber de tumores que crescem e outros problemas relacionados, e vão chegar ao tratamento em fase drástica e com menos chance de recuperação.
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O comparativo estatístico deixa ainda mais evidente a situação. No HEG, foram 10,3 mil novos pacientes no primeiro semestre do ano passado. No mesmo período de 2020, foram 6,2 mil – 40% a menos. A quantidade de casos novos, ou seja, em investigação, diminuiu de 4,4 mil para 2,8 mil (variação de 37,5%). Houve redução também nos números de cirurgia (20% a menos) e de exames (9%).
O levantamento feito pela Secretaria de Estado de Saúde (Sesa) também aponta o mesmo cenário. Nos quatro primeiros meses de 2019, foram identificados 9,5 mil casos de câncer. Já no primeiro quadrimestre deste ano, foram 8 mil (1,5 mil a menos). Os tipos mais comuns foram de câncer de mama, de próstata, de cólon (intestino), de colo de útero, de melanoma e de brônquios e pulmões. Os números também apontam que o diagnóstico está estatisticamente menor em relação a homens – são quase mil casos a menos em comparação com o primeiro semestre do ano anterior.
De acordo com os especialistas consultados pela Gazeta do Povo, não há nenhum motivo para acreditar numa repentina redução na incidência de câncer. Assim, os médicos da área avaliam que esses casos que deixaram de ser identificados nos últimos meses vão aparecer mais à frente, num efeito bola de neve. “O câncer não tem período de trégua. As células continuam crescendo no período sem tratamento”, destaca o diretor clínico do HEG, Sérgio Ioshi.
O diagnóstico precoce interfere no porcentual de cura e nos índices de sobrevivência. Por isso, a previsão é de aumento da mortalidade relacionada a câncer. A demora no diagnóstico já apresenta consequências. Mesmo com poucos meses de pandemia, o médico já percebeu, nas avaliações de tecidos coletados em cirurgia e exames, que aumentou a quantidade de casos avançados da doença. Ele nota que algumas áreas se destacam. Por exemplo, a quantidade de novos pacientes de câncer ginecológico caiu 55%.
Ioshi garantiu que o hospital dispõe de estrutura para atender a demanda agora reprimida. Ele comenta ainda que o HEG normalmente recebe pacientes encaminhados por outras unidades de saúde, que, num primeiro atendimento, encontram indícios, serem investigados, de câncer. Assim, a redução na procura pelo hospital pode ser porque menos pessoas buscaram as unidades básicas e de pronto atendimento ou porque, mesmo com o encaminhamento, deixaram de fazer a consulta no HEG. O médico diz ainda que o Erasto Gaertner fez um trabalho de busca ativa, para evitar que pessoas que já tinham recebido o diagnóstico abandonassem o tratamento. Ele alerta ainda que mais perigoso do que ir ao hospital é deixar de ir ao hospital. Ele afirma que protocolos foram adotados para garantir a segurança dos pacientes, diminuindo os riscos de contágio pelo novo coronavírus.
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