Há um mês, a aposentada Neide Costa comprou uma caixa de 500 gramas de seu café preferido a R$ 19,99 em um supermercado próximo de onde mora, em Londrina (PR). Na última quinta-feira (2), não acreditou no preço apontado na prateleira.
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“Subiu muito. A mesma marca está R$ 29. Eu optei por um café mais barato. Não tem a mesma qualidade, mas é um absurdo o aumento”, desabafou. A alta do preço do café torrado e moído assusta o consumidor paranaense.
As marcas mais vendidas nos supermercados chegaram a custar mais de R$ 50 o quilo, nos primeiros dias de janeiro. Em 2024, o aumento registrado foi de 33% e há previsão de pelo menos mais 15% neste primeiro mês de 2025, segundo o IBGE.
O Paraná tem uma das maiores produções de café no Brasil, com uma área plantada de 25 mil hectares no ano passado, safra de 54,79 milhões de sacas, segundo levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Mesmo assim, grande parte do produto consumido no estado vem de Minas Gerais e do Espírito Santo, estados que mais sofreram com a seca prolongada em setembro e outubro.
Além dos fatores climáticos, que afetaram o cultivo no país, a disparada do dólar frente ao real e uma quebra da produção no Vietnã, devido a um grande volume de chuva no período da colheita, fez com que o preço da saca do café disparasse no mercado internacional, com alta de 28% em relação ao mesmo período de 2023. O café robusta produzido no Vietnã é frequentemente misturado com o café arábica e vendido como café tradicional no Brasil.
“Além do aumento em dólares no preço do café, em função da escassez de oferta, o câmbio disparado empurrou a produção brasileira para a exportação”, explicou o professor de economia Marcos Rambalducci, coordenador do Núcleo de Pesquisas Econômicas Aplicadas da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR).
Em janeiro de 2024, a saca de 60 quilos de café era negociada a um máximo de R$ 800 e fechou sendo comercializada a R$ 2,2 mil no último dia do ano passado, segundo a Associação Brasileira de Indústrias de Café (Abic). Já no segundo dia de 2025 a saca foi cotada a R$ 2.241,90 e a expectativa é que a escalada no preço siga pelos próximos meses.
Estocagem cedeu espaço às exportações de café
Até a década de 1970, o Brasil mantinha estoque de café para regular os preços internos. Com o crescimento das exportações, os produtores deixaram a prática da estocagem de lado. “Com a alta do dólar não é interessante estocar, é mais vantajoso exportar. A procura interna também aumentou e hoje é difícil achar um produtor com alguma saca parada”, afirmou Armando Casimiro, produtor de café e membro da diretoria da Associação de Cafés Especiais do Norte Pioneiro do Paraná (Acenpp).
A exportação do café brasileiro para a Ásia tende a crescer em 2025. “O consumo do café na China tem crescido muito e a quebra da produção no Vietnã abre espaço para produtores paranaenses. Os chineses consomem muito café em bebidas prontas e geladas. Esse aumento faz parte do conjunto de fatores que tem ajudado na elevação do preço do café”, explicou a pesquisadora em cafeicultura Patrícia Santoro, do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-PR).
A exportação de café do Paraná atingiu um recorde histórico no primeiro semestre de 2024. Foram comercializados US$ 195,7 milhões, um aumento de 26,7% em relação ao mesmo período do ano passado, quando as vendas externas totalizaram US$ 154,5 milhões. Os números foram divulgados pela Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Paraná.
A chuva e a produção do café
O controle da água é elemento essencial para a produção do café. A florada precisa de água para a transformação em frutos. Sem água, as flores secam. Com as altas temperaturas há o desequilíbrio de pragas, como bicho mineiro e a cigarra, o que pode comprometer a produção.
Os efeitos do fenômeno La Niña nos primeiros meses de 2025 podem prejudicar o crescimento do café arábica. Segundo a agrometeorologista do IDR-PR Ângela Costa, a região do Paraná pode ter chuvas ligeiramente abaixo da média, com temperaturas mais altas.
“Não são descartadas chuvas de granizo e pancadas fortes, torrenciais, mas o previsto é a média ou uma pequena queda no volume de chuva, já que o Paraná está localizado em uma transição climática. O extremo sul do país deve registrar seca e o norte um volume maior de precipitação”, explicou a agrometeorologista.
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