Em outubro do ano passado, a tonelada do trigo estava cotada a R$ 850 no Paraná, estado que responde por 60% da produção nacional. Atualmente, com o consumo doméstico aquecido pelo isolamento social imposto pela pandemia e com a disparada do dólar, o pouco trigo disponível está 50% mais caro, em torno de R$ 1300 a tonelada e com expectativa de preços firmes até o final do ano. “Hoje, para fazer pré-venda da próxima safra e amarrar o preço, os produtores estão pedindo mil reais a tonelada. Tem toda a incerteza do câmbio, mas ninguém vê o trigo na safra a menos de mil reais”, assegura Eduardo Medeiros, produtor da região dos Campos Gerais e presidente do Sindicato Rural de Castro.
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Para o consumidor, a realidade se traduz em inflação na cesta básica. Hugo Godinho, analista de trigo da Secretaria da Agricultura do Paraná, diz que a deflação de 0,31% registrada pelo IPCA em abril não deve nada ao trigo, pelo contrário. “A deflação ficou dentro do setor de transportes, que teve queda gigantesca de demanda, além da influência da queda do preço do barril do petróleo. Já a inflação está dentro dos alimentos, e afeta quem é mais pobre. O preço do pão no último mês teve aumento de 16% em relação ao mês anterior. De R$ 8,29 o quilo, em março, para R% 9,63 o quilo em abril. Houve aumento em praticamente todos os produtos panificados, menos em relação ao pão francês, porque no levantamento anterior já havia ocorrido uma grande valorização desse item. De lá para cá, o brasileiro trocou o pão francês pelo de forma, para não precisar ir todo dia à panificadora. São os nuances da pandemia”, observa Godinho.
A curva ascendente do preço do trigo, pelo menos na ponta do consumidor, deve perdurar pelos próximos meses, segundo avaliação do Sindicato das Indústrias de Trigo do Paraná (Sinditrigo). “A gente nunca viveu um momento de trigo tão caro. É garantido que haverá mais repasses. O trigo nacional está custando de R$ 1300 a R$ 1400 a tonelada. E o importado está R$ 1500, posto no moinho. Vamos ter ainda, pelo menos, de 10% a 15% de repasse nos próximos meses, na medida em que os moinhos forem consumindo esses trigos mais caros”, diz Daniel Kümmel, presidente do Sinditrigo.
Uma Curitiba a mais
Na ponta da produção, o Paraná, vai aumentar “uma Curitiba inteira” na área que está sendo plantada com a cultura de inverno entre os meses de abril e julho. E não é força de expressão. Curitiba tem 432 km2, ou 43,2 mil hectares. A projeção do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria da Agricultura prevê expansão de 5% no cultivo de trigo no estado, o que representa mais de 50 mil hectares, do total previsto de 1,08 milhão de hectares.
A expansão da área plantada de trigo pode chegar, no entanto, a 20% em algumas regiões, como nos Campos Gerais, que, por características climáticas, não têm o milho safrinha como uma alternativa viável para a estação fria do ano. Talvez a “corrida” fosse mais acentuada não fossem essas limitações do clima – a falta de chuva deixa uma janela cada vez mais estreita para o cultivo no Norte do Paraná, por exemplo – e as oscilações do mercado internacional – com menor demanda por etanol, mais milho deve ser destinado para ração animal, aumentando a competição em um dos destinos secundários do trigo.
“O produtor do Sul do Paraná pode aumentar ainda mais a área, já que o preço está firme e continua subindo. O produtor do Norte, em alguns casos, está começando a perder a janela para plantar. A partir de 20 de maio, ele fica numa situação menos favorável para acesso ao crédito, já que teria risco (climático) maior”, avalia Hugo Godinho.
Se a cotação recorde de R$ 70 a saca hoje, pode ser colocada “toda na conta do dólar”, como enfatiza Godinho, então é no dólar que os agricultores ficam de olho na hora de decidir pelo plantio. “Se esse câmbio voltar para 4 reais, em novembro, na safra, toda essa expectativa vai virar pó”, diz o produtor Eduardo Medeiros. “Mas todo mundo vê isso como uma possibilidade muito remota. Em termos de preço, nos últimos anos nunca tivemos uma perspectiva de safra tão boa”. Medeiros acrescenta que o trigo sempre foi uma lavoura “problemática”. “O agricultor tenta ganhar dinheiro mesmo é no verão, mas quando faz inverno, a gente tira os custos variáveis e mais alguma coisa para diminuir o custo fixo, já que ia ficar parado mesmo. Dessa vez a gente espera que o trigo realmente se pague”, conclui.
O levantamento de maio de 2020 da Conab prevê que a safra brasileira de trigo, neste ano, deve alcançar 5,43 milhões de toneladas, contra uma estimativa de consumo interno feita pela Abitrigo de 12,2 milhões de toneladas.
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