A duplicação de cerca de 26 quilômetros da rodovia PR-423, entre os municípios de Campo Largo e Araucária, na Região Metropolitana de Curitiba, deve ser uma das primeiras obras entregues nos novos contratos de pedágio do Paraná. A pressa se explica: é por esse caminho que devem ser desviados os carros e, principalmente, os caminhões para que seja feita a duplicação do Contorno Sul de Curitiba, avaliado por especialistas como o pior gargalo de trânsito de todo o estado.
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A PR-423 será duplicada, de acordo com o edital do lote 1, do km 9,5 até o km 35,5, desde o entroncamento com a BR-476, em Araucária, até o encontro com a PR-510, em Campo Largo. A expectativa é que as obras nos 25,9 quilômetros sejam concluídas a tempo de serem entregues ainda no terceiro ano dos novos contratos.
Novo viaduto no "trevo da morte"
Estão previstas as readequações nas duas principais travessias urbanas da rodovia, uma em Campo Largo, entre os km 33,3 e 34,3, e outra em Araucária, entre os km 9,4 e 11,8. Não há previsão de construção de marginais na rodovia. Serão regularizados sete acessos ao longo da rodovia, sendo que um deles é um viaduto a ser construído no km 19.
“É bem ali no acesso para a fábrica da Gerdau. Hoje, o que se tem naquele ponto é um trevo perigosíssimo”, avaliou João Arthur Mohr, gerente de Assuntos Estratégicos da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep). O local chegou a ser chamado de "trevo da morte" por conta do grande número de acidentes fatais que ali ocorreram.
Mortes na PR-423 dobraram
O perigo citado por Mohr se estende por toda a PR-423 e vem crescendo ano a ano, de acordo com números do Batalhão de Polícia Rodoviária do Paraná (BPRv). Entre 1º de janeiro de 2019 e 27 de junho de 2023, o trecho a ser duplicado registrou 199 acidentes. O ano de 2022 foi o mais violento desta série, com 62 acidentes (aumento de 50% em relação ao ano anterior) e 7 mortes (o dobro do registrado em 2021).
Para tentar coibir os abusos cometidos pelos condutores, e que têm como pior consequência os óbitos na rodovia, o BPRv trabalha com dois pontos de fiscalização com radar. O primeiro deles fica entre os km 10 e 12, no trecho próximo a Campo Largo, e o segundo entre os km 15 e 17, no trecho médio da rodovia. Em comum, os dois pontos foram identificados como locais onde é frequente o desrespeito ao limite de 80 km/h, vigente na via de pista simples.
Alternativa ao Contorno Sul
Ao explicar a importância da PR-423 para o sistema viário paranaense, João Arthur Mohr citou o exemplo de São Paulo. A adoção de duas vias marginais aos principais rios que cortam a capital paulista, Tietê e Pinheiros, serviu, em um primeiro momento, para desviar parte do grande fluxo rodoviário que precisava cruzar a cidade. “Com o tempo, o crescimento urbano acabou engolindo as marginais, que hoje são avenidas de tráfego diário para a maioria dos paulistanos”, comentou.
Para solucionar o problema, foi então criado o Rodoanel, uma série de contornos ainda mais externos à cidade de São Paulo. Para o gerente da Fiep, a duplicação da PR-423 é o início de uma abordagem semelhante a ser aplicada em Curitiba.
“Quem vem do interior com destino a Paranaguá não vai mais precisar passar obrigatoriamente pelo Contorno Sul de Curitiba, o pior gargalo logístico do Paraná. Assim que descer a serra de São Luiz do Purunã, no pé da serra já vai pegar à direita e entrar na PR-423. O problema é que hoje essa é uma via de pista simples, o que a torna inviável para o transporte de cargas. Com a fluidez da duplicação, o motorista não vai precisar congestionar o Contorno Sul, vai sair lá direto em Araucária, perto da Petrobras. A PR-423 vai ser o contorno do contorno”, explicou Mohr.
"Carga parada é prejuízo"
O presidente da Federação das Empresas de Transporte de Cargas do Estado do Paraná (Sistema Fetranspar), Sérgio Malucelli, também espera que o prazo previsto para a duplicação seja cumprido na PR-423. Ele apoia a ideia de um novo contorno, mais externo. “Curitiba cresceu, e Araucária também. Hoje a rodovia, em alguns trechos, é como se fosse mais uma avenida da cidade”, citou.
Reforçando que, na visão dele, os contornos existentes estão esgotados, Malucelli explicou os motivos pelos quais o trecho, pequeno em extensão, deve ser visto como uma prioridade para as novas concessionárias de pedágio.
“No horário de pico, a partir das 17h, esses pouco mais de 25 quilômetros vão levar de uma hora e meia a duas horas para serem percorridos. E isso em um dia normal, se não tiver nenhum outro tipo de problema na rodovia, como um caminhão quebrado ou um acidente. Por ali passa muita carga refrigerada, principalmente do sudoeste, e é importante que a passagem por esse trecho não seja atrapalhado por congestionamentos ou qualquer outro tipo de problema. Carga refrigerada parada na pista é sinônimo de prejuízo”, concluiu.
Novo Contorno Sul pela PR-423 está atrasado
A importância logística da PR-423 foi reconhecida pelo governador Carlos Massa Ratinho Junior (PSD) a ponto de ele ter colocado o trecho como parte do Novo Contorno Sul de Curitiba, uma das promessas de campanha para o segundo mandato. Porém, uma falha na comunicação entre a Agência de Assuntos Metropolitanos do Paraná (Amep), responsável pela obra, e a Prefeitura de Araucária está atrasando os trabalhos.
A nova via fará uma ligação direta de 9,5 km entre a PR-423, em Araucária, e a BR-116, no limite entre Curitiba e Fazenda Rio Grande. A expectativa é que esta nova estrutura viária consiga desviar cerca de 25% do tráfego do atual Contorno Sul. Não à toa, o projeto é tratado pelo governo do Paraná como uma das principais obras previstas para a Região Metropolitana de Curitiba. Mas uma avenida foi aberta pela Prefeitura de Araucária cruzando o trajeto do futuro contorno.
A nova avenida de Araucária não foi prevista no projeto inicial do contorno, cuja licitação foi iniciada em agosto de 2020. Três aditivos foram apresentados, alterando prazos e valores da obra. Como não há como contornar a nova avenida de Araucária, será necessário incluir uma passagem em nível no local, provavelmente um viaduto. Só que essa alteração deve fazer com que os custos do projeto, inicialmente orçados em R$ 825 mil, ultrapassem a casa do milhão de reais.
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