O silêncio da incerteza faz doer os ouvidos da economia brasileira. Sem aprovação de reformas estruturais tidas como fundamentais para o crescimento, o Brasil vive um estado letárgico e se agarra aos troncos pelo caminho.
Ao menos, um alento pode estar vindo do Sul do Brasil. Números cruzados de vários indicadores econômicos mostram que os três estados da região estão se saindo melhor do que a média nacional em 2019 em setores fundamentais para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) – principalmente agronegócio e indústria.
Ainda que a principal explicação seja a melhora na exportação, o desafogo sustenta um clima mais otimista.
O IBC-Br, um índice do Banco Central que calcula a atividade econômica e é considerado uma espécie de prévia do PIB (já que indica a tendência da produção nacional), mostra que juntos, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul cresceram 2,75% no acumulado dos últimos 12 meses (até maio deste ano).
Número acima da média nacional, de 0,72%. Não é só isso, os estados mais ao sul do Brasil estão mantendo níveis melhores de emprego e renda dos trabalhadores, o que denota melhora nas condições de negócios.
O agronegócio – incluindo os produtos básicos e a agroindústria – tem perspectiva de fechar o ano com bons números. Mesmo com quebra da safra de soja, que é nosso principal produto no campo, o Paraná viu sua produção de frango e milho alcançar novos patamares. “A perspectiva é de retomada. Só com o milho, devemos produzir 12,9 milhões de toneladas. Isso é uma alta de 44% em relação ao ano passado”, define o economista Luiz Eliezer Ferreira, da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep). É o campo que tem maior peso no PIB do estado.
Exportações tiveram impacto nos números
Entre os fatores fundamentais na análise de desempenho da economia da região Sul está o bom momento para o comércio internacional. Com o Real desvalorizado garantindo mais facilidade para a compra de produtos brasileiros, o número do campo e da indústria de alimentos ganhou um impulso.
O movimento foi melhor do que no resto do Brasil porque Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul são alguns dos estados que mais se beneficiam do mercado externo.
No Paraná, o volume de exportações de janeiro a maio bateu a casa de US$ 6,3 bilhões, o que coloca o estado entre os seis grandes exportadores no Brasil até aqui. É um número mais baixo, se comparar com o mesmo período do ano passado, mas superior ao resultado de mais de 70% dos outros estados do Brasil. O volume de compra e venda garantiu um superávit acima de US$ 1 bilhão ao estado.
Diferentemente do que ocorre normalmente, a soja não foi a estrela absoluta nas exportações paranaenses. Desta vez, a quebra da safra só não naufragou o agronegócio do estado porque o mundo demandou mais carne de frango e milho. Mas fez os números caírem.
“A estiagem deste ano levou a dois fatores preponderantes para este resultado: queda na produção agrícola da soja, principal item do PIB agropecuário, e a baixa produção de energia, com níveis fracos nos reservatórios”, afirmou o pesquisador Julio Suzuki Júnior, diretor do Centro de Pesquisa do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), em documento sobre o assunto.
As exportações de carne de frango, por exemplo, aumentaram 12% de janeiro a maio no período, compensando parte das perdas de 29% da soja. O principal destino foi a China, que enfrenta uma grave crise de peste suína africana – com o receio do consumo de carne de porco contaminada, o país passou a demandar mais carne de frango.
Por sua vez, o envio de milho paranaense ao exterior subiu 53%, beneficiado pela lacuna que o milho norte-americano deixou no exterior – um ano repleto de chuvas e inundações fez com que o gigante da exportação deste grão se enfraquecesse em 2019.
Os estados vizinhos também se aproveitaram do mercado externo. Santa Catarina também vendeu mais frango e o Rio Grande do Sul se beneficiou com a exportação de fumo.
“Se pegar o agronegócio como um todo, em termo de valor, as exportações recuaram 8% [comparando os primeiros meses de 2018 e os de 2019]. Mas em compensação em algumas culturas tivermos altas de 44%, como em carnes”, aponta o economista Luiz Eliezer Ferreira, da Faep.
“No caso do milho, há a perspectiva de quebra da safra norte-americana. Eles esperam lá menos 50 milhões de toneladas. Isso é 70% a 75% da produção brasileira”, destaca. Um espaço que pode abrir ainda mais mercado para o produto brasileiro.
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