A Polícia Federal (PF) cumpriu dez mandados de busca e apreensão e 13 mandados de sequestro de bens durante a operação Serendipitia, na manhã desta quinta-feira (9), nas cidades de Curitiba (PR) e Rio de Janeiro (RJ). A ação tem como alvo o ex-superintendente da Portos do Paraná Eduardo Requião, irmão do ex-governador Roberto Requião (Mobiliza), pela suspeita de crimes em contratos públicos, lavagem transnacional de dinheiro, evasão de divisas e associação criminosa.
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Além dos mandados expedidos, a 14ª Vara Federal de Curitiba determinou o bloqueio de contas bancárias e de aplicações financeiras dos investigados. Segundo informações da PF, a investigação é um desdobramento da operação Daemon, contra uma quadrilha suspeita de aplicar golpes com a promessa de investimentos em criptomoedas.
Em julho de 2021, Cláudio José de Oliveira, conhecido como “rei dos bitcoins” foi preso pela suspeita de fraudes em valores aproximados de R$ 1,5 bilhão. As mansões do suspeito foram alvos de mandados e carros de luxo foram apreendidos. O “rei dos bitcoins” foi condenado por estelionato e crimes contra o sistema financeiro pela Justiça Federal do Paraná em 2022.
A partir da investigação que apurava o desvio de criptomoedas pela quadrilha, a PF identificou fraudes no processo de recuperação judicial de empresas do grupo com manutenção da contabilidade paralela com auxílio de um empresário de Curitiba, que atuava em negócios portuários no estado do Paraná. O processo corre em segredo de Justiça e o nome do suspeito não foi divulgado oficialmente pela PF.
Em depoimento, ele confirmou a existência de esquema para lavagem transnacional de ativos e evasão de divisas que tinha como beneficiário Eduardo Requião, que foi indicado para função de superintendente da empresa estatal, responsável pela administração dos Portos do Paraná, cargo que ocupou entre o período de 2003 e 2008. “A análise dos materiais apreendidos na operação Daemon validou as suspeitas e, após autorização judicial para uso das provas, instaurou-se novo inquérito policial”, informa a PF em comunicado à imprensa.
A operação Serendipitia tem o objetivo de aprofundar as investigações, de acordo com a PF, que recebeu documentos de bancos da Áustria e dos Estados Unidos, por meio de cooperação jurídica internacional, que apontam para três pagamentos de uma companhia holandesa ao empresário, suspeito de participação como operador do esquema.
Conforme dados da investigação, os depósitos somavam quase R$ 3 milhões e tinham como destinatário o ex-superintendente da Portos do Paraná. Na sequência, a PF confirmou que a empresa estrangeira havia assinado contrato público e aditivos somados em mais de R$ 30 milhões para execução de serviços de dragagem no Canal da Galheta, em Paranaguá (PR).
“A investigação desmembrada demonstrou que o empresário teria recebido e mantido oculto, de 2009 a 2017, junto à instituição financeira da Áustria, valores que ultrapassavam R$ 5 milhões e que pertenciam, de fato, ao ex-superintendente da Portos do Paraná. Posteriormente, os valores foram disponibilizados, com conhecimento do seu real proprietário, ao estelionatário condenado na operação Daemon, que acabou por se apropriar deles e desviá-los”, afirma a PF.
O desentendimento teria provocado cobranças e ameaças que forçaram o empresário suspeito a restituir os valores a Requião, por meio de operações financeiras de lavagem de capitais entre 2018 e 2021. Segundo a PF, a cooperação internacional dos Estados Unidos revelou a operação de “dólar-cabo” promovida em 2018 e que disponibilizou, em território norte-americano, cerca de R$ 500 mil para o ex-superintendente e familiares.
“Diligências realizadas em território nacional, com autorização da Justiça Federal do Paraná, permitiram a identificação das pessoas e empresas usadas para a operação irregular de câmbio. Além disso, foram colhidos elementos adicionais a respeito das atividades da família do ex-superintendente para lavagem dos recursos ilícitos”, apontam os investigadores.
Em nota, a Portos do Paraná esclarece que a investigação se refere a contratos públicos do período de 2003 a 2008, os quais estão todos encerrados há mais de uma década. “Desde 2019, quando a atual gestão assumiu a direção da empresa, a transparência e publicidade dos contratos, das contas públicas e de todos os atos administrativos junto aos órgãos de controle são constantes e permanentes”, afirma.
O advogado de defesa de Eduardo Requião foi procurado, mas não respondeu ao pedido de entrevista da Gazeta do Povo até a publicação desta reportagem.
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Eduardo Requião é alvo de operação por suspeita de fraudes em contratos da Portos do Paraná