Colocar mais tecnologia no processo de aprendizagem é um dos desafios para a próxima gestão na educação| Foto: Giovannacco/Pixabay
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As consequências da pandemia de coronavírus na esfera municipal vão além da saúde. Uma das áreas mais impactadas e que terá reflexos no curto, médio e longo prazo é o da educação, apontam especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo.

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O primeiro grande desafio será o da volta às aulas. “Há muita insegurança no ar. Alunos, pais e professores estão preocupados com o que virá”, diz Cláudia Costin, diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais da Fundação Getulio Vargas (Ceipe/FGV). “A pandemia foi muito politizada e muitos pais estão com informações conflitantes.”

A logística do retorno, depois de as crianças terem ficado mais de oito meses fora da sala de aula, não vai ser simples. Fora a questão da insegurança, há os problemas com o aprendizado das crianças durante esse período e a necessidade de rígidos protocolos sanitários, com a redução de turmas e o estabelecimento de rodízios entre elas.

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Isto ocorre em um cenário em que o número de alunos por sala de aula tende a aumentar, já que muitos pais, por causa de perda de renda ou de emprego, tiraram os filhos das escolas particulares e as colocaram em públicas.

A professora Mirian Célia Castellain Guebert, do Programa de Pós-graduação em Direitos Humanos e Políticas Públicas da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR). lembra que nem todas as crianças tiveram um bom processo de aprendizagem enquanto estavam fora da sala de aula.

Uma das alternativas para contornar este problema, segundo a professora Roberlayne de Oliveira Borges Roballo, do Setor de Educação da Universidade Federal do Paraná (UFPR), é trabalhar com currículos contínuos nos próximos dois anos e com uma estratégia de reforço escolar, fazendo com que os alunos fiquem de uma a duas horas/dia no turno inverso.

A maior fragilidade na aprendizagem ocorre justamente quando há uma necessidade do desenvolvimento de habilidades mais analíticas. “É necessário dar bastante atenção a português e matemática”, diz a professora da UFPR.

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Planejamento para a formação profissional

Mesmo com os dados do Ideb mostrando uma lenta e gradual melhoria nos níveis de aprendizado, Mirian afirma que é preciso investir em políticas públicas que possibilitem a formação profissional. “E, para isto, é necessário muito planejamento, focando no longo prazo. São necessários programas que funcionem de fato, que cheguem às crianças.”

Segundo ela, o que pode ser feito no curto prazo é o investimento pesado em programas que estimulem a leitura e a escrita para se adequar às diferentes realidades de mundo. “Há a necessidade de um novo modelo de escola que dê atenção à formação, com acesso a recursos tecnológicos e que garanta a manutenção destes conhecimentos.”

Isto passa pela mudança nos padrões de aprendizagem, ressalta Cláudia. “É preciso que os modelos de ensino sejam baseados em evidências científicas e que seja usada a criatividade, de forma a usar os recursos existentes em formas que melhor funcionem. A educação é uma complexa operação logística”, diz ela.

Um caminho passaria por pensar em uma jornada estendida para alunos e professores. “No caso destes, o ideal é uma contratação em um regime de 40 horas, o que evitaria a fragmentação de contratos de trabalho e permitiria mais dedicação e melhor acompanhamento dos alunos”, afirma a diretora do centro da FGV.

Ela também destaca que outro aspecto que pode favorecer a educação é a escolha mais profissionalizada, até mesmo por processo seletivo, do secretário municipal de educação. “É uma função extremamente técnica”, diz ela.

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Questão tecnológica e inclusão digital na educação

A questão tecnológica e a inclusão digital são questões que também devem estar na agenda dos gestores municipais, apontam os especialistas. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que no Brasil, um em cada quatro brasileiros não tem acesso à rede mundial de computadores.

“O Brasil vai ter de olhar como garantir a conectividade por meio de chips ou aplicativos”, ressalta Cláudia. Essa preocupação vem em meio a um cenário desafiador por causa dos problemas fiscais e da gradual retomada da atividade, após a mais grave crise econômica em, pelo menos, 90 anos.

Para Roberlayne, da UFPR, a questão da conectividade terá de estar na agenda do município. “Mesmo com atividades por TV ou impressas, as crianças mais vulneráveis não entregavam muitas das atividades propostas.”

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]