Pré-candidato à prefeitura de Curitiba nas eleições de novembro, o deputado federal Gustavo Fruet (PDT) diz acreditar que o último pleito, em 2016, foi influenciado por “boicotes” do então governador do Paraná, Beto Richa (PSDB), à sua administração na capital paranaense. O pedetista se refere principalmente à questão do subsídio estadual ao transporte coletivo da cidade. Agora, Fruet se prepara para uma nova campanha eleitoral e já faz comparações entre a sua administração e a do atual prefeito, Rafael Greca (DEM). “Vamos retomar a estrutura de saúde que nós deixamos na cidade e retomar, principalmente, a atenção básica. No mundo, está se vendo que, onde funcionou a atenção básica, o número de doentes foi menor”, disse ele, em entrevista à Gazeta do Povo no último dia 17. Fruet também falou sobre o PDT, sobre o papel do atual governador do Paraná, Carlos Massa Ratinho Junior (PSD), na campanha eleitoral de 2020, e sobre como imagina que será a disputa que se aproxima: “Nós vamos enfrentar a máquina, uma estrutura que eu tive o pudor de não usar”. Confira.
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Os pré-candidatos mais fortes até aqui, Rafael Greca (DEM), Ney Leprevost (PSD) e Delegado Francischini (PSL), levando em conta uma pesquisa do final de 2019, têm afinidade com o governador do Paraná, Ratinho Junior (PSD), que deve ser um cabo eleitoral importante nesta eleição. Como é a sua relação hoje com o governador Ratinho Junior e como avalia o peso dele na campanha eleitoral?
É uma relação cordial. Acho que o perfil do Ratinho Junior é muito diferente do perfil que marcou a gestão do Beto Richa (PSDB), que [em 2016] apoiou o Greca e boicotou Curitiba de todas as maneiras. O exemplo maior é a questão do subsídio [do transporte] e a questão da pavimentação. Então acho que é uma postura diferente, e o momento é diferente. E até pelos nomes que você citou, e outros nomes que são ligados a partidos do governo, praticamente todos... Aqui no Paraná a gente tem uma tradição de alinhamento com o governo do Estado... Eu não sei se ele vai entrar de forma efetiva no primeiro turno da eleição, em função desta engenharia. A não ser que houvesse a desistência de algum dos candidatos que você citou para uma composição já no primeiro turno, com o apoio do governador. Acho pouco provável. E acho que o debate vai ser muito local, apesar das questões estaduais e nacionais.
Mas o eventual apoio do Ratinho Junior a um dos candidatos poderia trazer prejuízo à sua candidatura? Seria um peso?
Não é nem comigo. É uma composição diferente. Ao contrário do que aconteceu em 2016 e 2012. Das últimas eleições, é a primeira vez que temos três, quatro candidatos, da base do governo do Estado, diretamente ligados ao governador. Então a postura também é diferente. Se fosse o segundo turno, aí é outro jogo. Falando em tese, vamos supor que haja um candidato que tenha proximidade com o governo e outro de oposição, aí eu acho que ele [Ratinho] entra [na campanha].
Falando em cabos eleitorais importantes... O ex-senador Osmar Dias foi uma liderança importante dentro do PDT, mas ele se afastou completamente da vida pública e partidária em 2018. Que impacto isso teve para quem ficou no PDT?
Eu acho que naquela eleição houve um impacto grande, sim. Porque mudou toda a configuração do PDT. No último dia do prazo, tivemos que tomar uma decisão de aliança, que na época foi o apoio ao MDB. Então isso teve um impacto, houve a diminuição das candidaturas a deputado estadual e a deputado federal. Mas hoje não mais. Respeito a decisão dele. Acho que ele tem uma bela trajetória, mas ele fez uma opção e se afastou. Estou vendo que muitas pessoas vocacionadas para a vida pública estão se afastando. É uma coisa contraditória. Porque a gente fala em mudança de comportamento, mas as eleições estão com os mesmos vícios, de estrutura econômica, de apoio de governo...
Uma outra pré-candidatura colocada dentro do PDT foi do deputado estadual Goura, que dizia representar uma ala pedetista a favor da busca por uma aliança ampla de centro-esquerda, até para competir com mais força contra os três candidatos mais fortes, que são todos mais de centro-direita, de direita. Mas o senhor já disse preferir a “menor aliança possível”. Por quê?
Primeiro porque o debate local é sobre o futuro da cidade. Curitiba é referência, por várias razões, e está gastando toda uma história de conquistas. Hoje o prefeito é mais um mordomo de empresa de transporte, um mordomo dos maiores contratos da prefeitura, do que propriamente um prefeito que lidere inovação. A cidade está cada vez mais comprometendo toda a sua receita, toda a sua história, para manter uma estrutura que é gerida por oito, dez, grandes contratos. Então o debate é ter clareza com relação à situação de Curitiba, ter clareza sobre as questões fiscais, que são pesadíssimas. E o fato de eu ter sido prefeito, eu sei o que vem, eu sei o que vai acontecer a partir de 1º de janeiro. Então este alinhamento nacional é diferente do alinhamento regional, que é diferente do alinhamento local. E, além disso, muitos partidos vão lançar candidatos a prefeito para poder ter chapa de vereador. Seguramente Curitiba vai ter dez, doze candidatos. Então isso tudo está sendo avaliado.
Eu sempre defendi que, primeiro, quem quiser se posicionar dentro do PDT, tem que se posicionar. E quem decide é a convenção, que foi marcada para o dia 12 de setembro. E tem que ter condições para a gente avançar. Quais são as condições? Um plano de governo, que está muito bem elaborado, estamos em fase final; uma chapa muito forte de vereadores; unidade dentro do partido, porque o PDT não pode se dar ao luxo de ficar na dúvida se quer ou não ter projeto; e, principalmente, como a eleição está restrita ao fundo eleitoral, clareza na comunicação. Não dá para ser ingênuo, não dá para ser romântico, e imaginar que a eleição é só um embate de ideias inovadoras. Não é. É cada vez mais uma disputa de estruturas. E nós vamos enfrentar uma estrutura que eu tive o pudor de não usar. Tanto que paguei um preço, na campanha da reeleição, em 2016, fiquei pagando dívida até o mês de maio deste ano. Porque tive o rigor e o pudor de não permitir o uso da máquina.
Se fosse prefeito, o que teria feito diferente no enfrentamento à Covid-19?
Eu lembro que fecharam 26 unidades de saúde. Só em Curitiba aconteceu isso. E a repercussão aqui foi zero. Nem a imprensa cobrou. Isso é enfrentamento? É claro que, quando a gente está fora, é sempre mais fácil a avaliação. Mas os sinais trocados que Curitiba deu em relação ao enfrentamento da pandemia terão consequência. Tem uma estrutura da saúde que está represada. Tem setores da economia que, por falta de apoio, por falta de clareza, terão imensas dificuldades. Hoje eu recebi um grupo de 20 escolas particulares, algumas conveniadas com a prefeitura. Acabou, estão se arrebentando. E eu votei [na Câmara Federal] a favor de todos os repasses de recursos para a capital. E sabe o que me surpreendeu? O maior beneficiário foi o sistema de transporte. Então são opções. Acho que já se tem clareza no que está sendo feito e a cidade que vai definir que modelo deseja.
No pós-pandemia, se houver alguma capacidade de investimento, onde o senhor concentraria os recursos da cidade nos próximos anos e por quê? O que seria prioridade no pós-pandemia?
São três frentes, que me vêm agora, porque ainda estamos terminando de preparar, avaliando a situação fiscal. Primeiro, recuperação da saúde e da educação. São áreas que vêm perdendo investimento, e não é só por causa da pandemia. Isso terá um custo elevado. Vamos retomar a estrutura que nós deixamos na saúde da cidade e retomar, principalmente, a atenção básica. No mundo, está se vendo que, onde funcionou a atenção básica, o número de doentes foi menor. A segunda frente, em termos de investimento em infraestrutura, é retomar o que nós deixamos para o plano diretor: conclusão da Linha Verde, as obras já poderiam estar licitadas, inclusive o trecho principal, da Victor Ferreira do Amaral; a conclusão das obras na rua Mario Tourinho; e o início das obras do novo sistema Leste-Oeste, para implantação de um novo modal, que eu defendo, para implantar na próxima gestão, que é o VLT.
A terceira frente será a recuperação fiscal. De novo. Por quê? Eu já vivi isso em 2013. É inacreditável e às vezes eu falo e parece que são poucos os que ouvem: este ano, a prefeitura vai deixar de pagar o fundo de previdência entre julho e dezembro. Isso não mexe com a cidade porque diz respeito exclusivamente ao servidor público. Porém, na hora que a prefeitura deixa de pagar, vai ter que ajustar isso a partir de janeiro do ano que vem. Outro dado: a prefeitura, apesar de todo o recurso que recebe do governo federal, e seguramente está recebendo na saúde mais do que se fosse em uma situação normal, já informou que deixará um déficit de R$ 560 milhões. Isso vai ter impacto ano que vem. Analisando o nível de investimento, a nossa gestão teve um nível de investimento maior do que a do Greca, até porque tivemos o PAC. E nós concluímos todas as obras do PAC, foi a única capital que fez isso. A única diferença que ele teve, e é positiva, foram os recursos de pavimentação do governo do Estado, que foram boicotados na nossa gestão, e, principalmente, o subsídio do ônibus, que é uma conta que ninguém está fazendo. Se você pegar hoje a diferença entre a tarifa técnica e a tarifa do usuário dá um déficit diário de R$ 150 mil. Considerando que houve uma queda do número de usuários, o reajuste da tarifa técnica do ano que vem vai passar fácil dos R$ 7. Quem vai pagar a diferença? É justo um sistema receber, em 4 anos, entre subsídios federais, estadual e municipal, R$ 500 milhões? É o que vai custar este desequilíbrio econômico-financeiro, e que não é exclusivo da pandemia.
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