Em tempos de “girlboss”, mulheres independentes que não têm medo de perseguir sonhos, a trajetória da dentista Elvira Wolowska Kenski foi exemplo de pioneirismo. Entre seus feitos mais divulgados estão ser a primeira mulher a se graduar em Odontologia no Paraná, em 1938, uma das primeiras a cursar faculdade na UFPR e a pioneira em vestir calça comprida numa época em que saias e vestidos eram lei para mulheres. Fora esses títulos, foi uma profissional exímia e perfeccionista, e fez de tudo para que outras pessoas chegassem tão longe quanto ela chegou. Elvira morreu no dia 9 de agosto, aos 106 anos.
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Para os filhos, dizia que o segredo era nunca olhar para o lado, não se comparar aos outros, porque assim nunca teria tempo de andar para frente. Mas como que desobedecendo ao que ela mesma pregava, Elvira olhava, sim, para o lado. Não no sentido de se comparar, mas em notar quem estava ao seu redor e apoiar para que também alcançassem seus objetivos. Foi assim especialmente com a irmã e os dois irmãos. Com 14 anos, ao ir até o consultório de um dentista alemão buscar um pagamento da marcenaria do pai no Centro da cidade, ela recebeu uma proposta de trabalho: ajudar a manter em ordem o consultório.
Recebeu a permissão da mãe e, mais tarde, os salários que seriam vitais na formação da irmã Wladyslawa Wolowska Mussi em Medicina na então privada UFPR. Essa necessidade de colaborar com a renda da família acabou postergando um pouco o ingresso de Elvira na federal, mas a espera foi curta. Usou esse tempo para aprender com o dentista alemão as bases da ortodontia e assim que Wladys conseguiu uma monitoria paga na faculdade, Elvira entrou faceira pelas portas da Santos Andrade. Os marmanjos da sala só passaram a conversar com ela quando viram que suas notas eram muito boas e que carregava uma experiência prática não muito comum entre os acadêmicos. O resultado de todo esse esforço foi um bem-sucedido consultório próprio e a maestria para confeccionar próteses dentárias que, décadas depois de instaladas, eram exibidas a ela com orgulho pelos pacientes.
Na juventude, o passeio preferido dela – além das festividades da unida comunidade polonesa, em que a classe social não importava, apenas o intuito de confraternizar entre conterrâneos – era pela Rua XV de Novembro. Lá ficava o mundo dela. As lojas, os cafés, as confeitarias, a rota para desfilar com as colegas e amigas, o centro social de sua vida. Em especial às quintas-feiras, dia de flertar, a arrumação era caprichada para ir até o local. “A Rua XV era muito significativa pra ela, desde sempre e até agora. Lembro de levar ela até de andador. Acho que ela queria resgatar a XV da época dela”, conta a filha Rossana Maria Wolowski Kenski Matta.
A XV também foi a passarela para o desfile de Elvira vestindo as primeiras calças compridas da cidade. A sociedade, chocada, sussurrava ofensas enquanto ela e a prima Lina exibiam a moda parisiense trazida de São Paulo pela estudante de Odontologia. Moderna e vaidosa, jamais deixou de portar as unhas feitas, perfume e um creme no rosto. Mesmo com as mãos tremendo pela idade, fazia o contorno dos lábios antes de passar batom para sair de casa.
Curitiba estava em seu coração tanto quanto as raízes polonesas, das quais nunca desgrudou. Passeando pelas ruas, comentava quais daqueles nomes nas placas ela havia conhecido. E se alguém contestasse a qualidade da capital paranaense, avançava com deboche: “Se acha que é muito frio, está fazendo o que aqui então?”. Amava geada, uma boa festa, música alta pela manhã, livros e cozinhar pierogi, cuque, macarrão, maionese e torta de nozes aos domingos para a família.
Elvira, cujo riso contagiante fazia os vizinhos ligarem do outro lado da rua para perguntar o que de tão engraçado ela estava assistindo na televisão, foi musa de poesia da amiga Helena Kolody. A poeta lhe disse e Elvira repetia: “Você acha sua vida linda, gosta de agir, fazer planos. Sorrir de seus desenhos, e sabe sonhar ainda. É jovem, apesar dos anos”.
Elvira Wolowska Kenski teve cinco filhos, 14 netos, 12 bisnetos e um a caminho.
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