O Ranking de Competitividade dos Municípios, uma publicação anual feita desde 2011 pela organização não-governamental Centro de Liderança Pública (CLP), trouxe em sua versão mais recente o município paranaense de Toledo como o mais eficiente do Brasil em acesso da população à Saúde. A Gazeta do Povo ouviu os gestores do setor na cidade, que garantem: o modelo implantado por lá e considerado o melhor entre as 411 cidades brasileiras com mais de 80 mil habitantes presentes na pesquisa, pode ser replicado em outros locais.
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O quesito é considerado pelo CLP como um dos mais importantes em toda a pesquisa, uma vez que segundo o centro “a garantia de acesso à saúde é condição básica para avaliar o nível de bem-estar da população e está diretamente associado à missão governamental de atender as necessidades da população”. A consequência do acesso à saúde, observa o CLP, é uma “maior qualidade de vida e longevidade, o que diretamente afeta a produtividade e a competitividade de um município”.
A boa colocação no ranking não foi o primeiro reconhecimento de Toledo na área da Saúde. Em outubro, a cidade foi a única em todo o Brasil escolhida para receber um estudo da Pfizer sobre a efetividade das vacinas contra a Covid-19 na população acima de 12 anos. A coleta de dados dos pacientes teve início em novembro, e os primeiros resultados devem ser divulgados dentro de um período de 6 a 9 meses.
Por ter aplicado a primeira dose do imunizante contra a Covid-19 em praticamente toda a população acima de 12 anos, o município obteve também o primeiro lugar no quesito “vacinação” dentro do estudo do CLP. Em outro ponto analisado, o atendimento pré-natal, Toledo ficou em quarto lugar entre todas as cidades brasileiras pesquisadas – no geral, estes índices ajudaram a cidade a subir 14 posições no ranking geral de acesso à saúde em comparação com o levantamento feito no ano passado.
Pandemia acelerou reestruturação da Saúde
O centro alerta que pelo fato de terem sido levados em conta dados relativos ao ano de 2020, uma parcela expressiva dos resultados pode refletir eventuais efeitos colaterais da pandemia sobre a realidade dos municípios estudados. Mas, pelo menos para a secretária municipal de Saúde de Toledo, Gabriela Kucharski, o período mais grave da infestação do coronavírus acabou servindo como um estímulo para que o sistema de atendimento de Saúde no município fosse quase que totalmente remodelado.
Segundo a secretária, o atendimento para pacientes suspeitos de Covid-19 foi direcionado para três unidades de referência, “uma em cada ponta da cidade”. A escolha se deu, segundo Gabriela, de modo a que os pacientes não precisassem se deslocar por grandes distâncias. Enquanto isso, as unidades básicas de Saúde (UBS), que antes da pandemia só atendiam a pacientes da região, passaram a receber os pacientes não-Covid de toda a cidade.
“Na atenção primária, alguns momentos da pandemia infelizmente nos obrigaram a suspender temporariamente algumas unidades. Principalmente quando o sistema de saúde ficou sobrecarregado. Naquele momento, isso foi suspenso para que pudéssemos tratar todos os pacientes em quaisquer das nossas unidades. Chegando na unidade, este paciente era recepcionado, sua demanda era ouvida e ele era direcionado para o serviço necessário. Nem sempre esse serviço se tratava de uma consulta. Desta forma, o acesso da população à saúde ficou realmente mais fácil. O paciente de fato conseguia o acesso ao serviço que ele estava necessitando naquele momento”, avaliou.
Centralização do atendimento a gestantes levou à queda na mortalidade infantil
A maior modificação trazida pela pandemia e mantida após o arrefecimento nos casos de Covid-19, explicou a secretária, foi a criação do Ambulatório Municipal Materno-Infantil. No local foram concentrados todos os atendimentos de puericultura e pediatria. “Nós levamos todas essas demandas para um ponto específico pensando em proteger esses pacientes da exposição e do contágio com o coronavírus”, disse Gabriela.
A medida, porém, gerou impacto positivo também na mortalidade infantil no município. Nas contas da secretária municipal de Saúde, o índice caiu pela metade. “No momento em que imaginávamos que o sistema de saúde fosse ficar sobrecarregando, nos impossibilitando de prestar um bom atendimento para essas mães e essas crianças, foi exatamente o contrário que ocorreu. A centralização trouxe uma melhora no atendimento e a queda na mortalidade infantil precoce, que é um reflexo dessa melhora no trabalho de pré-natal”, citou a secretária.
Cuidados precoces levam a menos filas na Saúde, aponta prefeito
O prefeito de Toledo, Beto Lunitti (MDB), creditou os bons resultados obtidos no Ranking da Competitividade dos Municípios ao reforço nas equipes da estratégia de Saúde da Família. Segundo o prefeito, a abordagem aplicada no município é de criar um vínculo com a população para que as pessoas se sintam “convencidas” da importância de buscarem atendimento logo nos primeiros sintomas de qualquer doença.
“Quando se tem o cuidado lá no início, é maior a possibilidade de tratamento e, em alguns casos, de solução. E essa solução pode ocorrer até mesmo lá na unidade básica de saúde. Quando se trabalha nesta perspectiva, e se tem um percentual grande de resolutividade, diminui-se a fila da urgência e emergência, diminui-se as internações hospitalares, diminui-se potencialmente as demandas das especialidades. Esta rede que compõe a baixa, a média e a alta complexidade, integradas às especialidades e emergências, todo este caminho posterior à solução dada na atenção básica acaba tendo uma procura menor quando há essa solução lá na atenção básica”, explicou o prefeito.
Demanda por médicos será suprida com formandos da UFPR
Lunitti explicou que a região de Toledo sofria com o que ele chamou de “deficiência crônica de médicos”. A solução para esse problema deve começar a ser solucionada a partir de 2022, com a formatura da primeira turma do curso de Medicina ofertada pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) no campus de Toledo.
“Houve um trabalho de convencimento junto à UFPR e ao Ministério da Saúde de que aqui em Toledo, pelas estruturas de saúde que havia, seria um ambiente bom para trazer o curso de Medicina. A universidade então instalou o curso aqui. A UFPR colocou uma perspectiva diferente para este curso, que é voltado especificamente para a estratégia da Saúde da Família em seu conceito inicial na formação destes profissionais. No ano que vem, teremos a primeira turma de médicos e médicas formados aqui em Toledo, prontos para atuarem. Eu conversei com essa turma, e muitos destes futuros médicos já demonstraram o interesse de ficarem por aqui para iniciarem suas carreiras”, revelou.
Para o prefeito, os bons resultados obtidos por Toledo na pesquisa do CLP podem ser repetidos em outras cidades, tanto do Paraná quanto do Brasil. “É possível fazer diferente, mas o começo não pode vir da situação macro brasileira. Os prefeitos têm, efetivamente, responsabilidades pelo seu território em fazer esse trabalho de forma bem-feita. Quando se faz bem-feito, os modelos implantados nos municípios podem ser replicados em outras regiões do Brasil, naturalmente adaptando-se às realidades próprias de cada território. Assim, vamos melhorar o país. Precisa querer fazer, e com gente técnica ao seu lado fica mais fácil convencer a população de buscar esse tratamento preventivo”, resumiu.
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