O principal objetivo das medidas de isolamento social adotadas em todo o país como prevenção à contaminação pelo coronavírus é “achatar a curva”, evitando picos de pessoas doentes no mesmo espaço de tempo a ponto de a estrutura hospitalar não dar conta de atender a todos os casos que necessitem de internamento. Mas qual seria esse número limite? Quantas pessoas o sistema de saúde do Paraná pode atender ao mesmo tempo? Quantos leitos de UTI (unidade de terapia intensiva) há no estado? Quantos deles estão desocupados? Quantos estão reservados para casos de Covid-19? A Secretaria de Estado da Saúde apresentou um plano de enfrentamento da pandemia, que começa com 317 leitos de UTI reservados para a doença e pretende chegar a 680 em 90 dias.
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O Paraná tem, ao todo, 3602 leitos de UTI, sendo 2258 para pacientes adultos. Destes, 1315 estão acessíveis a pacientes do Sistema Único de Saúde e 943 são privados. Mas não é esse o volume de leitos que estará pronto para receber as vítimas do coronavírus. Mesmo com o cancelamento das cirurgias eletivas, que pode representar uma diminuição de até 55% na ocupação das UTIs, segundo estimativa da Federação das Santas Casas de Misericórdia e Hospitais Beneficentes do Estado do Paraná (Femipa), grande parte destes leitos está ocupada por pacientes de outras doenças ou vítimas de acidentes, por exemplo, que também necessitam de tratamento intensivo.
Assim, desde a última semana, governo e representantes dos hospitais estipularam a reserva de 317 leitos de UTI especificamente para casos de Covid-19. Além disso, outros 731 leitos de enfermaria também estão sendo reservados. Todos para atendimento pela saúde pública, nos 11 hospitais de referência distribuídos nas quatro macrorregiões do estado. O Centro Hospitalar de Reabilitação Ana Carolina Moura Xavier, de Curitiba, foi o último incluído nesta lista.
Conversão de leitos
Em maio, o Estado pretende ter outros 188 leitos de UTI e 450 de enfermaria à disposição e, em até 90 dias, mais 180 de UTI e 430 de enfermaria, totalizando 680 leitos públicos de UTI e 1611 de enfermaria.
“O estado tem uma boa relação de leito por paciente em relação ao Brasil. A gente tem uma possibilidade de converter leitos de UTI de queimados, de UTI neopediátricas e até leito de enfermaria para isso também. O que precisa é de respiradores e equipamentos de monitoramentos. O governo federal está preocupado com isso e promete atender as áreas mais carentes. O Estado está fazendo uma governança de equipamentos, distribuindo equipamentos excedentes de alguns hospitais. Acho que não vamos ter problemas com isso. Com a redução das cirurgias eletivas, vai haver desocupação dos leitos. Acha que estamos bem resolvidos”, comenta o presidente da Femipa, Flaviano Feu Ventorim. “O grande risco que se corre é a doença chegar de uma forma muito abrupta, pegar muita gente de uma vez e todo mundo precisar de hospital junto. Por isso as medidas de contenção com isolamento em casa”, acrescenta.
Outra preocupação é com a distribuição destes leitos. Dos 3602 leitos de UTI do estado, 1540 estão em Curitiba. “Mas vários municípios do interior também estão bem organizados e, além disso, a gente percebe que a doença circula mais em lugares de grande aglomerações. Então a gente realmente espera menos casos nas cidades com menos de 10 mil habitantes, que é a maioria dos municípios do estado”, pondera o presidente da Femipa. “Os hospitais estão com taxa de ocupação baixa, estão preparados para atender e, com o pessoal respeitando a orientação de isolamento social, a demanda ainda está baixa. Mas não sabemos até quando será assim”, acrescenta.
Ventorim cita que mesmo os hospitais que não entraram no planejamento oficial para o enfrentamento da pandemia precisam se preparar.“Os hospitais que têm leitos específicos Covid vão estar recebendo pacientes de outros hospitais, mas os pacientes vão chegar em todos os hospitais, não só nos 61 destacados (11 de referência e 50 de retaguarda). Então, todos os hospitais serão fundamentais nesta guerra contra o vírus. A diferença é que alguns vão ter leitos específicos. Não podemos esquecer que as pessoas vão continuar tendo AVC, continuar tendo dengue, diabete descompensada”, conclui, lembrando, ainda da atenção que precisa ser dispensada aos profissionais de saúde, “que estão trabalhando sob imensa pressão, afastados da família e lidando com o medo”.
Situação de Curitiba
Três hospitais de Curitiba já reservaram leitos de UTI especificamente para pacientes com Covid-19. Vinte leitos do Hospital do Trabalhador já estão atendendo pacientes infectados pelo coronavírus (16 deles estavam ocupados e quatro disponíveis na última quarta-feira (01/04); 38 leitos no Centro de Reabilitação (com apenas um paciente internado até quarta-feira); e mais 10 na Santa Casa de Misericórdia (com um caso suspeito internado até quarta-feira). Outros 10 leitos serão abertos na Santa Casa na segunda-feira (06). Com a reserva destes leitos para casos de Covid, a UTI do Hospital Universitário Cajuru foi destinada a receber os demais pacientes e, na última quarta-feira, estava com todos os seus 30 leitos ocupados. No Hospital Universitário Evangélico Mackenzie, de acordo com a assessoria de imprensa, há 10 leitos de UTI, duas salas de cirurgia e 61 leitos de enfermaria isolados para pacientes com Covid-19. Além disso, 13 leitos de enfermaria podem ser transformados em UTI, caso necessário. O Hospital tinha, até esta quinta-feira, dois pacientes internados com a doença e 21 em investisgação.
“Estamos bem estruturados, com um número considerável de leitos reservados para a Covid e a taxa de ocupação ainda baixa. Há, ainda, um bom número de vagas em São José dos Pinhais e em Campo Largo. Não vamos, no curto prazo, ser pegos de surpresa, mas não sabemos como será o comportamento do vírus nos próximos dias. Pode ser que, na próxima semana, esse número já não seja mais suficiente”, avalia o coordenador do Centro de Estudos e Pesquisas em Emergências Médicas e Terapia Intensiva, Álvaro Réa-Neto. “Mas estou otimista com os preparativos que foram feitos até agora. A gente entrou neste jogo relativamente cedo e, mesmo com vários erros de processo, ausência de liderança, as coisas estão se encaminhando”, ponderou.
O Centro de Estudos também monitora a situação dos leitos de UTI de quatro hospitais privados: Hospital das Nações, Vita, Marcelino Champagnat e Instituto de Neurologia de Curitiba (INC). Nestes quatro hospitais havia, na quarta-feira, 18 pacientes internados em UTI com Covid-19. Através de sua assessoria de imprensa, o Hospital INC informou que não teve, até a última quinta-feira (02), nenhum paciente internado com Covid-19 em suas dependências.
“Os hospitais privados estão, por enquanto, com mais casos que os hospitais públicos. Até pelo perfil desta doença, um vírus que veio de fora, com pessoas que viajaram para o exterior, a trabalho ou férias. A pandemia se disseminou, primeiro, na classe econômica mais privilegiada, com acesso a plano de saúde, mas isso deve se inverter em breve”, diz.
“Neste momento, o sistema de medicina intensiva de Curitiba não está sob estresse. Agora, saber se o número de leitos que temos neste momento, que é bom, não ótimo, será suficiente, é impossível”, conclui, ressaltando, também, a importância das medidas de isolamento social. “Parece que, no médio prazo, todos nós ficaremos doentes. Os modelos matemáticos mostram que para que a pandemia seja controlada é preciso que 64% da população seja contaminada, então, é importante minimizar os efeitos para que não tenhamos um grande número de doentes ao mesmo tempo e possamos atender a todos que necessitarem”.
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