A insegurança do setor produtivo, comercializadores e operadores que atuam no Porto de Paranaguá demonstra uma clara preocupação da cadeia econômica do agronegócio paranaense: a instabilidade e os entraves na situação da BR-277 não traz perspectivas otimistas para a exportação da safra de soja este ano.
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A questão, levantada pela Gazeta do Povo em meados de fevereiro, agora começa a tomar contornos maiores. Com a colheita da soja avançando e novos problemas na rodovia, a cadeia teme que a produção demore ainda mais a chegar, os navios esperem demais e as multas fiquem tão altas que os comercializadores prefiram levar suas cargas para outros portos. O que já está acontecendo.
Com a colheita acelerada na região de atuação da Coamo, maior cooperativa da América Latina e responsável por um escoamento que este ano deve chegar a 4,5 milhões de grãos, entre soja, milho e farelo de soja, a perspectiva é de temor. A cooperativa comercializa a produção do sul do Mato Grosso do Sul, Paraná e norte de Santa Catarina. Praticamente toda escoada via Porto de Paranaguá. E com a média da colheita de soja em 45%, mais caminhões devem se deslocar ao porto nos próximos dias. Ou deveriam.
“Em função da demora na descida, por conta dos desmoronamentos (entre os kms 39 e 42) e o afundamento de anteontem (se referindo ao incidente de terça-feira, 7, no km 33,5), diminui muito a oferta de caminhões e aumenta o preço do frete”, expõe Airton Galinari, presidente executivo da Coamo. Ele avisa que já está difícil conseguir caminhoneiros dispostos a abraçar a missão de enfrentar os entraves da BR-277. “Já tem 3 dias que não carregamos um caminhão sequer. Consumindo o que está lá (estocado no porto) deve faltar carga para o próximo navio”, conta.
Com isso, caminhoneiros buscam outras opções de frete e, quem está realizando novos negócios, pode preferir outro porto. “As empresas começam a se movimentar em outra direção. Nós, por exemplo, acabamos de fechar uma venda de lotes para São Francisco do Sul”, afirma. Reflexo da insegurança que a cadeia como um todo está sentindo.
“Esse vazio de informação dá pra gente falta de previsibilidade e, com isso, não conseguimos fazer gestão mais eficiente da logística porque não sabemos quais serão as condições de amanhã”, afirma o diretor da Associação dos Terminais do Corredor de Exportação de Paranaguá (ATEXP), André Maragliano, que confirma os impactos na oferta de caminhões para o porto.
Prejuízo diário e perda de competitividade logística
Ao passo que os caminhões não descem e fica prejudicado o escoamento do produto do interior para a área portuária por conta dos entraves na BR-277, os navios que aguardam a colheita e o fluxo da safra se acumulam dia a dia. A lineup do Porto de Paranaguá mostrava, na noite desta quinta-feira (9), 49 navios ao largo, ou seja, aguardando a liberação para atracar e carregar. Nos últimos dias, este número vem oscilando – há duas semanas, chegou a haver 69 navios. Trata-se de um dado flutuante, uma vez que há navios à espera de fechar uma compra e outros que chegam com carregamentos programados e contratos fechados. Mas, invariavelmente, o dado demonstra que a espera está acima da cota. E pode ficar pior.
O custo da diária de um navio em espera, com contrato vigorando e programação de carregamento traçada, varia entre US$ 25 e US$ 45 mil. É a chamada taxa de demurrage. E praticamente todos os navios que aguardam no porto no momento já estão pagando essa taxa, segundo o diretor da ATEXP. A conta da taxa está mais no atraso da colheita e nos altos fretes rodoviários. Mas, com o avanço em escala da colheita pelo interior, a consequência vem em cadeia, gerando incertezas para quem comercializa e perda de competitividade para o porto.
“Além dos navios esperando na barra, há mais 110 esperados para chegar nas próximas semanas. Se esse problema não for resolvido e a gente tiver essa falta de previsibilidade e de logística, naturalmente os custos ficarão exorbitantes e muito provavelmente esses navios desviarão a soja oriunda do interior do Paraná e do Mato Grosso do Sul para os portos de Santos, São Francisco, Imbituba e Rio Grande”, antecipa Maragliano.
“É um momento crítico para o setor produtivo, para as empresas tradings, os produtores, os terminais portuários e os compradores, que não podem ficar à mercê, sem informação. Temos que tomar decisões e tomamos com as informações que temos no momento, e elas não são positivas”, conclui o diretor.
Soma-se ao atraso potencialmente provocado pelos entraves na BR-277 na chegada da produção a chuva, que pode atrapalhar as operações portuárias (os navios não são carregados em dias chuvosos). O tempo médio de espera na fila do corredor de exportação em Paranaguá é de um mês, no momento. O que significa que, em condições climáticas ideais, sem um dia de chuva sequer, um navio em espera demoraria um mês para atracar e carregar.
“Chovendo, posso afirmar que ele (o navio) não atraca em menos de 40 dias”, afirma o diretor da Coamo, que também opera frete de navios para farelo de soja - e, no momento, tem três navios esperando para carregar o produto, além de outros quatro em lotes compartilhados aguardando milho.
Portos do Paraná ainda não contabilizou os prejuízos
Procurada pela Gazeta do Povo, a Portos do Paraná, empresa pública que administra o Porto de Paranaguá e de Antonina, informou que ainda não tem como contabilizar os prejuízos (como fazem os terminais, de acordo com a análise da própria atividade). E também não quis comentar a informação de que algumas cargas já estão sendo desviadas para portos de outros estados, conforme apurado pela reportagem.
Por meio de nota, a empresa esclareceu que “a liberação de novas cotas para descarga foi suspensa por volta das 17h da última quarta-feira (8) e foi estratégica para evitar filas e maiores transtornos. Desde as 20h, do mesmo dia, quando a descida dos veículos de carga foi liberada em meia-pista, pelo sentido contrário, os caminhões têm chegada aos poucos e de maneira controlada e organizada”. A nota informa ainda que “os portos do Paraná estão prontos para pleno atendimento”.
Governador pede agilidade na liberação das novas concessões e recuperação da BR-277
O governador do Paraná, Carlos Massa Ratinho Junior, reforçou nesta sexta-feira (10) que o Estado está trabalhando em conjunto com o governo federal para a resolução da fissura e do afundamento de pista na BR-277, no Litoral do Paraná.
"Estou no Japão para trazer investimentos ao Paraná e abrir mercado para a carne suína, mas tenho acompanhado. O Darci Piana [governador em exercício] tem me informado e mandou um ofício para o Ministério dos Transportes pedindo agilidade para resolver o problema. E o governo federal já mandou geólogos e investimentos para essa rodovia", declarou o governador.
Ele também disse que a solução de longo prazo para a rodovia, que é a principal ligação ao litoral e, portanto aos portos do Paraná, passa pela nova concessão, que depende do aval da União. "Precisamos buscar uma solução com as concessões, estamos esperando uma proposta do governo federal para finalizar essa parceria, que é tão importante para a nossa infraestrutura. O Paraná tem pressa, nós estamos em um momento de crescimento na economia, temos uma grande geração de emprego e temos que ter infraestrutura adequada", afirmou.
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