Douglas Oliani, presidente do Sinepe-PR para a gestão 2020-2022| Foto: Divulgação/Sinepe-PR
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Ex-vice-presidente do Sindicato das Escolas Particulares do Paraná (Sinepe-PR), o professor Douglas Oliani assumiu a presidência da entidade na última sexta-feira (13) em meio ao debate sobre a retomada das aulas presenciais, suspensas em razão da pandemia do novo coronavírus. Para ele, é possível fazer o retorno dos estudantes às salas de aula com segurança, embora haja controvérsias. “As escolas estão preparadas para isso”, afirma.

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Ainda sob a gestão de Esther Cristina Pereira, o Sinepe-PR chegou a pedir na Justiça a retomada das atividades curriculares presenciais em todo o estado por meio de um mandado de segurança, que acabou rejeitado na semana passada pelo desembargador Robson Marques Cury. O juiz ponderou que a possibilidade de realização de atividades extracurriculares presenciais, autorizada desde outubro pelo governo do estado, já ampliava o “leque de atuação e envolvimento entre o aluno e o estabelecimento de ensino”.

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Já na segunda-feira (16), também provocada pelo Sinepe, a Secretaria Municipal da Saúde de Curitiba autorizou que a rede privada retome as aulas presenciais na cidade, porém apenas para alunos de até 10 anos, da educação infantil ao fundamental I. Oliani falou com a Gazeta do Povo a respeito desse e de outros assuntos. Confira a seguir.

Apesar do ofício da Secretaria Municipal da Saúde de Curitiba que considera possível a retomada das atividades curriculares presenciais na capital, uma decisão recente da Justiça estadual negou um pedido de liminar feito pelo Sinepe para retomada de aulas em todo o estado. O Sinepe pretende recorrer? Vai insistir na tentativa de retomar as atividades curriculares?

Diante dessa negativa, a gente acha prudente aguardar até o ano que vem para fazer alguma coisa um pouco mais efetiva a respeito do retorno às aulas.

Então somente em Curitiba as aulas presenciais devem ser retomadas?

Só para a gente equalizar o entendimento, são três os segmentos educacionais. Estão vinculados à prefeitura a educação infantil e o ensino fundamental I. Daí em diante, estamos falando de estado. Portanto, de 0 a 10 anos, que corresponde ao infantil e ao fundamental I, foram liberadas as aulas [em Curitiba]. Não atividades extracurriculares apenas, mas atividades curriculares também. São aulas presenciais, permitidas, de toda forma, com todo o rigor sanitário exigido. E as escolas estão preparadas para isso. Uma das principais responsabilidades das escolas e das famílias é a questão de cumprir exatamente tudo aquilo que preconiza a vigilância sanitária e aquilo que são os princípios sanitários para poder combater nessa questão da Covid. A decisão da secretaria municipal e da prefeitura é o que é mandatório para a gente aqui. No estado, fizemos aquilo que seria nossa pretensão de um retorno por meio de um mandado de segurança, que foi negado. Mas um documento não elimina o outro.

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E qual o prazo para a retomada das aulas em Curitiba?

Eu vou exagerar um pouco: se a escola estiver pronta, ela já pode aplicar isso hoje. Na quarta-feira [17], nós fizemos uma reunião com todo nosso jurídico. De 500 associados, nós tínhamos 100 nessa reunião, que tratava exatamente disso. Quando pode começar? Pode começar imediatamente diante daquela resposta que saiu às 10h30 da manhã.

Como retomar as atividades presenciais nas escolas com segurança para alunos, pais, professores, funcionários, em um momento em que ainda não temos vacina contra a Covid? O que pode ser feito além de disponibilizar álcool em gel, medir temperatura e exigir distanciamento social?

Tudo isso, mas também ensino híbrido, escalonamento de turmas, calendário acadêmico dinâmico. Tudo vai depender das infraestruturas físicas. Por exemplo, eu tenho uma escola que é vertical, outra é horizontal, tenho uma escola que tem X metros quadrados por aluno. Se eu tenho capacidade para dois mil alunos e eu recebo 900, eu consigo fazer uma restruturação. E um calendário acadêmico dinâmico em que eu atenda muito melhor, com atividades complementares em que a gente vai consorciando tudo isso. Pedagogicamente fica distante, um pouco, daquilo que é a tradicionalidade anterior, mas você vai ver que depois que passar a pandemia e vier uma vacina, novas tecnologias educacionais vão ficar. Isso fortalece o segmento das escolas particulares, porque a gente tem muita coisa de ponta por aí.

A pandemia fez com que muitas escolas passassem a adotar novas tecnologias para se adaptar ao ensino remoto. O senhor acredita que esse modelo deve permanecer no pós-pandemia? Os alunos estão preparados para isso?

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Fica aí para aqueles que têm um determinado pré-conceito, que não lhes permita pensar em uma dinâmica com essas novas tecnologias. Eu sou um apaixonado por essas tecnologias e acredito muito que, quando tivermos em todos os segmentos, a gente vai poder ter uma modificação muito grande até para aquilo que vai ser a educação integral. Um dia, e eu estou aqui ousando sobre o futuro, você vai ter um professor dentro da sua casa, como um holograma, uma tela. Precisa estar face a face? Precisa estar junto? Às vezes, não. As novas tecnologias vêm para modificar muito a questão educacional. As escolas vão precisar muito dessas novas tecnologias, e eu não falo apenas das particulares.

Esse modelo híbrido [aulas presenciais e remotas] deve permanecer. Teve gente que foi muito feliz com esse ensino híbrido e que conseguiu atender muito bem. O ensino médio, por exemplo. Esse público dos pequenininhos, que foi autorizado pela secretaria municipal também. Esses pequenos alunos já nascem nesse modelo. Se você tiver uma criança, pode observar o quanto elas aprendem com o celular. Ela acha a Galinha Pintadinha, ela mesma vai buscar o site, ela faz tudo isso. É um aprendizado que é sistêmico e entra mesmo com os pequenos de uma forma muito tranquila. Acho que as escolas deverão se preparar bastante para tudo isso. Vai ser um novo tempo.

Durante essa pandemia houve uma grande migração de alunos da rede privada para a rede pública. Como isso impactou as escolas particulares?

Nessa questão toda, hoje, a educação particular passa por uma situação econômica bastante difícil. Pare para imaginar um curso superior que, em grande parte, você tem alunos que pagam com o próprio recurso, ou seja, é um estagiário, é um funcionário de uma empresa, e que foi demitido. Nós temos hoje 32 milhões de desocupados no Brasil. Mas esse volume que se transferiu da iniciativa privada para a educação pública, a gente não tem uma medida, pelo menos agora. Muito mais do que 10% não é. Vamos conseguir ter esse número no próximo censo da educação. Mas a gente tem muitos pais que estão conosco, que nós apenas interrompemos contratos. Foram trabalhados e negociados segmento a segmento, contrato a contrato, com todos os pais. A escola particular, quer queira, quer não, continua fazendo um excelente trabalho naquilo que é a parte relacional com os pais, que foi facilitar ao máximo para que o aluno continue conosco. Cada escola teve dentro da sua personalidade, do seu escopo gerencial, a opção de fazer toda essa negociação. Não acredito que mais do que 10% isso deva ocorrer.

Além da pandemia, quais outros desafios o setor privado de educação deve ter pela frente em sua gestão?

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Veja, hoje temos trabalhado muito na contingência, por causa da pandemia. Sai um documento hoje, daqui a 15 ou 20 dias muda a estatística, sai outro documento. A gente trabalha com essas decisões muito no quente. O Sinepe em si, com 72 anos de vida, tem uma representatividade muito forte, então temos que ter um olhar mais estratégico, pelo menos para os próximos dois anos. E, para poder fazer uma projeção daquilo que é estratégico, foi montada no sindicato das escolas uma diretoria que em 80% era da professora [Esther] Cristina [Pereira], ex-presidente, que tocou o Sinepe maravilhosamente. Deixo aqui a minha honra e respeito por tudo aquilo que ela fez. Vamos dar continuidade com essa diretoria, trabalhando de forma colegiada. Vamos ter uma equipe, diretores que vão cuidar de projetos específicos com um movimento colegiado e não que só sai para algo contingencial. Não vamos cumprir apenas com aquilo que já está bom. Não, a gente quer trazer algumas inovações, algumas coisas importantes para todos os nossos associados. Queremos cada vez mais ser facilitadores de tudo isso.

Outro dia, nós tivemos uma reunião e eu fiz uma brincadeira. Nós estávamos em seis pessoas e eu falei assim: “olha, eu gostaria de somar todo o tempo de experiência de cada um de vocês na área educacional”. Dois deles me disseram: “só eu tenho 50 anos”. Quando você soma tudo isso, pega todas essas pessoas, em diversas faixas etárias e monta um grupo de estudo, e sai um trabalho colegiado, não tem porque ter receio por aquilo que vai ser o futuro. Eu passo a ter pressa pelo futuro.

Quais propostas estratégicas exatamente tem o setor?

A gente tem trabalhado muito em um projeto que é o voucher educacional. O governo vai lá, entrega um valor mensal de mil reais para uma família, que escolhe a escola particular X para matricular o filho. A escola não quer um volume de dinheiro pago pelo governo. Ela quer ser escolhida. É uma proposta que já existe em outros países, não há nada de novo, mas o Sinepe vem trabalhando muito fortemente nessa proposta. Se você pegar o custo de cada aluno do sistema educacional público, dividir por doze e traduzir em um voucher para escola particular, você vai conseguir um resultado muito superior desse aluno. Não estou dizendo para fazer absolutamente com tudo. Mas hoje, a escola particular detém, do segmento infantil ao terceirão, 15% de todos os estudantes do Brasil. Parece pouco? Pegue 55 milhões e faça os 15%. Na educação superior, a iniciativa privada tem 80% de participação em 8 milhões de estudantes. Aí se você pegar o resultado do Pisa [Programa Internacional de Avaliação de Estudantes], ficamos entre os 10 melhores países na área educacional com o resultado dos colégios da iniciativa privada.

Temos muito o que fazer e eu sou um apaixonado por aquilo que faço. Eu não tenho dúvida de que vamos conseguir excelentes resultados, mesmo com pandemia, com esses projetos. Sem contar a desoneração tributária, que precisamos trabalhar muito. Isso também está no horizonte curto. A gente oferta tudo isso que estamos falando, desonera o governo e ainda pagamos um volume de imposto absurdo, em todas as esferas.

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Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]