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Prefeito de Ponta Grossa, Marcelo Rangel, fala sobre as ações de combate ao coronavírus.
Prefeito de Ponta Grossa, Marcelo Rangel, fala sobre as ações de combate ao coronavírus.| Foto: Divulgação/Assessoria

Entre as mais populosas cidades do interior do Paraná, Ponta Grossa ostenta o menor número de casos confirmados e de mortes por Covid-19 – a metade do que foi registrado em Maringá e Foz do Iguaçu e menos de um quarto em relação à estatística de Cascavel. Em junho registrou a primeira morte e, dois meses depois, chega a 14 óbitos, com 1,1 mil confirmações da doença desde o início da pandemia. Em entrevista à Gazeta do Povo, o prefeito Marcelo Rangel (PSDB) indica quais pontos acredita que foram fundamentais para frear a contaminação pelo novo coronavírus, num município que vive o desafio de estar no limite de leitos de UTI, mas desfruta da rara condição de ter conseguido manter o comércio funcionando – inclusive restaurantes, shoppings e academias – na maior parte do tempo dos últimos quatro meses. Prestes a concluir o segundo mandato, Rangel viu seu partido se esfacelar no Paraná, mas colhe os resultados da proximidade com o governador Carlos Massa Ratinho Junior e fala também da disputa eleitoral na cidade. Confira os principais trechos da conversa.

Ponta Grossa hoje tem um cenário diferente de outras cidades-polo. Aqui foram registrados bem menos casos. O que motivou essa diferença?

Uma série de ações tomadas desde o início, em diversos setores. Acredito que não foi apenas uma decisão, uma fórmula separada que achatou a curva. Foi um conjunto. É uma união de esforços, com os agentes comunitários em contato direto com a população [a cidade tem cobertura de 85% do programa Saúde da Família]. Nós também trabalhamos com monitoramento por telefone, uma coisa simples que funcionou. Com médicos e enfermeiros orientando e acompanhando os números, e fazendo investigação epidemiológica, com quem teve contato. E teve a centralização dos atendimentos em uma única unidade de saúde, que permitiu acompanhar melhor os casos e evitar o contágio de quem buscava atendimento para outros problemas.

Mas várias dessas medidas foram tomadas por outras cidades também. O que explica que tenham funcionado melhor em Ponta Grossa?

Começamos cedo, antes do primeiro caso chegar. Era até complicado para a população aceitar, porque parecia que nem tinha nada na cidade. Foi uma das primeiras cidades do país a adotar máscara de pano para a população. Eu acredito que o segredo está na comunicação, falando da gravidade da situação, com transparência. Além de falar com a população, chamamos vários grupos para conversar. Para o pessoal das academias a gente apresentou um protocolo que era difícil de cumprir, mas eles toparam.

As primeiras mortes por Covid-19 no Paraná aconteceram no final de março e em Ponta Grossa o primeiro registro foi em junho. Dá para dizer que a cidade teve sorte?

Pode ser qualquer fator, menos sorte. Já surgiram várias tentativas de explicar. Uns falam que é porque a cidade é muito espalhada ou por ter poucos prédios. Falaram até da água, que poderia ter alguma diferença. Mas o que a gente sabe é que tomamos uma série de medidas, bem cedo, e isso deve ter tido uma relação. É uma situação parecida com Guarapuava, que tomou atitudes semelhantes. Converso bastante o prefeito César Silvestri Filho sobre isso.

Como as medidas foram precoces, antes mesmo de a gravidade da situação aparecer, como lidou com a pressão?

Ser gestor é ser pai. Dizer o que pode fazer, indicar o caminho. Todas as ações foram muito criticadas. Mas tentamos o caminho do diálogo. Empresas atuaram como parceiras, testando funcionários e com outras regras de acesso que evitaram a contaminação entre empregados. Também tivemos o afastamento dos funcionários de grupos de risco, como maiores de 60 anos. E teve a questão do comércio em horário escalonado. Num primeiro momento, os comerciantes reclamaram, mas depois entenderam e até gostaram. Isso também interferiu na ocupação dos ônibus do transporte coletivo. Assim foi possível não fechar totalmente. Aqui até os restaurantes e os shoppings continuaram funcionando, só fecharam lá no início.

Ponta Grossa tem, em relação a outras cidades de mesmo porte, poucos casos de Covid-19. Mas está no limite da quantidade de leitos de UTI. Como chegou a essa situação? Não há uma desproporção?

Tínhamos 20 leitos reservados para Covid-19 no Hospital Universitário e quando bateu nesse número foi possível colocar mais 10 rapidamente. E se for necessário, vamos unir as forças e aumentar mais. Acho que a quantidade está adequada com a demanda. É preciso considerar também que não são leitos só para moradores de Ponta Grossa. Tem vários internados que são das cidades da região.

O secretário estadual de Infraestrutura e Logística, Sandro Alex de Oliveira, é seu irmão. Essa proximidade se refletiu em alguma ação específica para a cidade?

Eu o admiro muito. Meu irmão é uma das pessoas mais determinadas que conheço. Ele não tem medo de trabalhar. Acredito que o fato de ele ser secretário facilite por conhecer as demandas locais. Quando há algum pedido de obra, ele sabe a importância e a necessidade.

E a sua relação com o governador Ratinho Junior?

Nós nos damos muito bem. É uma relação pessoal, antes da vida pública. Porque tanto ele como eu sempre estivemos muito ligados ao rádio. Eu acordo muito cedo e ele também, então é nesse horário que mais conversamos.

Vocês são sócios também?

Somos sócios. Na verdade, a sociedade é com o pai do governador [a informação foi posteriormente corrigida, com a alegação de que não se trata de sociedade, mas de uma espécie de franquia, um acordo firmado entre o pai do prefeito, o radialista Nilson de Oliveira, e o pai do governador, o apresentador Ratinho, para retransmissão do conteúdo da rádio Massa].

Qual o principal legado acredita que deixa a partir dos dois mandatos como prefeito?

A educação. Viramos uma referência. Quando começamos eram poucas escolas em tempo integral e hoje são 90%. Isso vai ser determinante para as próximas gerações de Ponta Grossa.

Parece que fazer um sucessor não esteve entre as suas prioridades. E até o momento não está claro quem irá apoiar nas eleições de novembro. Não pretende se posicionar sobre isso? Vou, sim. É uma questão de responsabilidade com o município e até uma forma de dar continuidade ao que foi feito, com as mesmas diretrizes, para termos mais conquistas. Não queremos perder isso, esse alinhamento. Então o nosso grupo político vai promover um nome. Estamos trabalhando um candidato natural, que pode ser a minha vice, a Elizabeth Schmidt, pode ser o secretário de obras, Márcio Ferreira, que já demonstrou que quer muito, e pode ser o vereador Felipe Passos. Estamos analisando as possibilidades e no momento certo vamos anunciar. E surpresas podem surgir no caminho.

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