Para o governador do Paraná, Carlos Massa Ratinho Junior (PSD), não há dúvida sobre o papel da vacina no enfrentamento da pandemia do coronavírus e na queda do número de internamentos e mortes. Admite, contudo, que, por causa da variante ômicron, não dá mais para falar em flexibilizar o uso da máscara. Não neste fim de ano, como ele chegou a cogitar. Por outro lado, já para janeiro de 2022, o governo estadual se organiza para um mutirão de cirurgias eletivas, represadas nos dois últimos anos.
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Em entrevista exclusiva à Gazeta do Povo na manhã da última quarta-feira (22), no Palácio Iguaçu, Ratinho Junior falou também sobre pedágio, lei das universidades, crise hídrica, Bolsonaro e eleições. Confira os principais trechos abaixo:
Que avaliação o senhor faz do ano que se encerra? Por causa da pandemia do coronavírus, 2021 parece ter sido uma continuidade de 2020...
2021 foi pior do que 2020. Mas eu faço uma avaliação positiva. Primeiro, porque a vacina funcionou. Realmente o que salva, o que vai resolver o problema, é a vacina. O número de mortes tem caído, de internados também. Claro que as variantes novas que surgem ligam o sinal de alerta. Mas, se a gente lembrar de fevereiro e março, o furacão que passou pelo Brasil, falta de oxigênio no Brasil inteiro...
Paraná teve fila enorme de espera por leitos adequados...
É. Aquilo foi uma loucura. E nada perto do que passamos em 2020. Uma coisa muito forte mesmo. Mas, a vacina tem resolvido. Está nos dando oportunidade de voltar a uma certa normalidade, de trabalho, de convivência, circular na rua, produzir, se abraçar, mas sempre com muita cautela. Então a vacina foi fundamental.
Outro ponto positivo de 2021 foi a questão econômica. Estamos retornando forte no Paraná. Nossa indústria fechou, de janeiro a outubro, com 11% de crescimento. Ontem [terça-feira, 21] saiu o PIB, através do Ipardes, e houve um crescimento de 4,8% [nos três primeiros trimestres de 2021, na comparação com o mesmo período de 2020]. Maravilhoso, muito representativo. Geração de emprego, de janeiro a outubro, 176 mil novos empregos. É o maior da história, desde quando o IBGE passou a fazer o cálculo no Paraná.
Sobre o impacto negativo da pandemia do coronavírus. Como ficam questões como a evasão escolar? Qual o trabalho a ser feito?
Conseguimos voltar agora, entre outubro e novembro, com a normalidade dos alunos dentro da sala de aula, graças a Deus. Voltamos com os mesmos números, de média presencial, de antes da pandemia. Mas foi um trabalho muito intenso. De ligar para o diretor e dizer: tem que trazer para dentro da escola, vai atrás e tal. Chegamos até a pressionar os diretores: “se não der conta de bater a média, vamos ter que tirar você”. Foi um negócio de cobrar mesmo a volta das crianças.
Houve crítica da oposição sobre isso, a pressão contra diretores, o afastamento deles.
Sim, mas é uma pressão normal de trabalho. Queremos que eles rendam. Porque senão você tem um problema social absurdo no futuro. Já que está vacinando, todos protegidos, agora vamos voltar para o dia a dia.
Hoje, vendo daqui os quase 2 anos de pandemia, qual a avaliação? As escolas ficaram muito tempo fechadas?
Não, acho que foi o suficiente para fazer o enfrentamento que tinha que fazer. Numa pandemia, não tem uma fórmula exata. Quando você está numa guerra, você protege crianças e velhos. Então, até a gente entender a doença, as crianças precisavam estar protegidas. O que foi feito? Um sistema de educação de forma virtual, na televisão aberta e na internet. Fizemos em 20 dias a implantação disso. Teve estado que demorou seis meses. Claro que um ou outro aluno teve problema da internet, e daí a gente pagou a internet no celular. Mas a grande massa de alunos estava atendida. Claro que a presença na escola é fundamental, até pelo convívio com outros alunos. O professor vê o comportamento delas, tem outros aspectos. Logicamente não aprende igual quando se está dentro da sala de aula, mas as crianças não ficaram sem conteúdo escolar. Era a alternativa que tínhamos e agimos rápido.
De que forma o senhor avalia agora a condução da pandemia? Acertou onde, errou onde?
É difícil dizer... O prejuízo são as vidas. Não tem como ter sucesso numa pandemia, com perdas de vidas. Mas eu acho que o Paraná conseguiu enfrentar melhor do que outras regiões do mundo. Primeiro, eu não deixei fazer da pandemia uma novela política mexicana. Eu evitei ao máximo ficar... se aproveitar da doença, querer fazer disso uma plataforma política. Foram decisões técnicas. Antes de um decreto, chamávamos os prefeitos, ouvíamos os prefeitos, os setores atingidos... E não é fácil. Tinha prefeito que ligava chorando, desesperado. Psicologicamente, os gestores tinham que ter muito equilíbrio para tomar as decisões. Nem todo mundo está preparado.
E a condução da pandemia no plano federal? A postura do presidente Bolsonaro?
O que ele falava não estava errado. Aquela preocupação que ele tinha - “olha, não podemos parar o Brasil, senão teremos desemprego” – não estava errada. Mas talvez a forma como ele falava dava a entender que ele não estava “nem aí” para a doença. Era mais um erro de expressão. Isso talvez tenha sido um ato falho. E teve muita crítica contra ele. Mas, como governador, por parte do Ministério da Saúde, de todos [os ministros da Saúde] que passaram, nós fomos extremamente bem atendidos. Se tiver governador falando o contrário, está sendo injusto.
Mas, por exemplo: sobre as medidas não farmacológicas, que o secretário estadual da Saúde, Beto Preto, tanto reforça. O presidente Bolsonaro chegou a entrar no STF tentando derrubar o decreto do senhor que previa algumas medidas restritivas no Paraná. Como foi lidar com isso?
É tranquilo. Aqui eu foco no meu planejamento e vamos tocando o barco. O que vai acontecendo no paralelo, vai acontecendo no paralelo. Se houver uma decisão judicial, temos que respeitar. Mas fizemos um planejamento de médio e longo. Quando começou a pandemia, eu comecei a estudar muito. E aí eu falei numa reunião de secretariado, logo no início: olha, não coloquem datas, porque não é corrida de 100 metros, é maratona. Então a gente foi fazendo um planejamento de médio e longo prazo. Então o que acontecia no paralelo, e não interferia no nosso planejamento, fomos tocando.
No mês passado, o senhor cogitava tirar a obrigatoriedade do uso da máscara até antes do Natal. Havia uma expectativa geral. E agora?
Não tem como dar previsão. A ômicron não chegou ainda tão forte no Brasil, espero que não chegue, e a gente tem visto que ela está matando quem não se vacinou – então as vacinas têm conseguido dar boas respostas. Mas, como é uma coisa nova... Eu lembro que, em dezembro do ano passado, a gente estava numa alegria, “estamos saindo da pandemia”. Mas, quando chegou fevereiro, veio um furacão. Não dá para brincar. É um negócio que incomoda, enche o saco, atrapalha. Eu, por exemplo, tenho renite e me ataca toda hora. Mas nos acostumamos. É preferível a parte incômoda do que voltar a ter um furacão. O paranaense é muito bom de lidar. Um povo muito educado e consciente. Um ou outro não respeita.
Na lei estadual que obriga o uso da máscara, existe uma multa para quem descumprir. Mas, na prática, se abriu mão da aplicação da multa, não?
É até inviável. A lei acaba sendo feita muito mais para se conscientizar do que para punir. Porque não tem como o Estado aplicar isso. Se em dois anos o cara não se conscientizou, aí o risco é dele.
O que fica da pandemia, em termos de estrutura hospitalar?
De 1990 para cá, o Paraná teve uma boa construção de saúde pública. Mas, em dois anos, nós dobramos todo este ativo de 30 anos. A estrutura de saúde pública que estamos deixando de legado, especialmente regional, é uma coisa que poucos países no mundo têm.
Dos três hospitais regionais [em Ivaiporã, Guarapuava e Telêmaco Borba] que foram inaugurados um pouco antes do previsto para atender pacientes com Covid-19. Agora, eles já conseguem ampliar o atendimento para outras doenças?
Eles ainda estão trabalhando com Covid-19. Nós vamos começar agora, em janeiro de 2022, um mutirão de cirurgias eletivas, que ficaram represadas por causa da pandemia. Vamos anunciar R$ 100 milhões de investimento em cirurgia eletiva. Neste ano, foram R$ 19 milhões, só para você ter uma ideia. Vários hospitais farão parte do pacote de investimento, do mutirão. Mas os três hospitais regionais ainda não têm data para iniciar as cirurgias eletivas porque os contratos que foram feitos são para Covid-19. Teria que ter novos contratos. Mas, depois, todos serão transformados em hospitais regionais, multitarefa.
O senhor vai agora para o último ano do seu mandato. O que será prioridade em 2022? De obras, o que tem em vista para 2022?
Fortalecimento da economia, geração de emprego. Não podemos perder o ritmo. E, de obras, a prioridade é colocar o projeto do pedágio e da nova Ferroeste na bolsa de valores. São duas coisas que não estão mais nas nossas mãos, mas vou me dedicar politicamente para fazer com que a gente consiga a execução disso no menor tempo possível. Todos os projetos da nova Ferroeste já estão com o Ibama, que é o último órgão antes de ir para a bolsa de valores. Nós cumprimos o cronograma. Ibama está sendo muito parceiro. Aí agora eles têm audiência pública deles. E o Tribunal de Contas da União (TCU), que está com o projeto do pedágio, geralmente tem levado de seis a oito meses para analisar as concessões no Brasil, em média.
A expectativa era de que, assim que terminassem as concessões de rodovias do Anel de Integração, no mês passado, já começariam as novas, para que não houvesse descontinuidade nos serviços, para que os funcionários das empresas de pedágio pudessem eventualmente ser aproveitados nas novas empresas, por exemplo. O cronograma inicial do governo federal era concluir o processo do leilão até o final de 2021. O senhor vê falhas na condução deste processo?
Eu vejo um atraso natural por causa da pandemia. Antes, não se realizavam audiências públicas de forma remota, todas eram presenciais. E, sem audiência pública, não se pode enviar a concessão para o TCU. Teve que ter uma mudança de entendimento, para que as remotas fossem aceitas.
“Poder público não tem como dar atendimento vip nas estradas”
E como fica agora o período até a nova concessão rodoviária? A descontinuidade interfere na questão dos serviços de atendimento médico, socorro mecânico, que eram mantidos pelas concessionárias de pedágio.
Veja, o que eu penso: o poder público não tem como dar um atendimento vip. Aliás, uma das funções das concessionárias de pedágio é dar o atendimento vip, além da manutenção e dos investimentos. Mas o que estamos fazendo? Atendimento médico via Siate, Samu. Isso está funcionando. O tempo médio de atendimento está igual. Mas nem os guinchos nós somos obrigados. A obrigação do Estado é: deu um acidente, tira para o lado; depois, é a própria pessoa que contrata um guincho e retira. Mas estamos fazendo uma licitação para dar o atendimento, contratando serviço de guincho leve e pesado [a previsão é que os contratos comecem a vigorar a partir de 10 de janeiro próximo]. E nós fizemos convênio com consórcios municipais que já operam os Samus. Repassamos um recurso a mais para eles contratarem mais equipe.
Por exemplo: agora [final da manhã de quarta-feira, 22], a BR-376, estrada com pedágio, está parada. Dez quilômetros de congestionamento, sentido Santa Catarina. Então, numa rodovia que passa um volume assim de veículos, você vai ter problemas sempre. Capotamento, caminhão que se perde, motorista que dorme no volante. Como já acontecia. Mas, como estamos neste hiato, é natural que as pessoas olhem de forma mais aguda.
Mas o senhor não teme que a situação piore?
Não acredito. Estamos já há quase 30 dias sem concessão. As rodovias estão rodando. O que não terá é o atendimento vip. Por exemplo: aumentou o número de pneus nas rodovias. Porque a concessionária tinha uma empresa para recolher pneus. Como é que eu vou colocar gente do Estado para limpar pneus? Não tem como. Então tem questões assim... Mas as estradas estão rodando. Porque, na verdade, nós já fazíamos, já era habitual. A concessionária não dava conta sozinha. Quando acontecia um acidente, ia a ambulância da empresa, mas ela já acionava Siate, Samu, para dar suporte. O que a gente fez agora foi turbinar.
Tinha setores da sociedade que queriam que eu fizesse a prorrogação do contrato. Como é que eu vou prorrogar um contrato que, durante 24 anos, todo mundo falou que era um assalto, que não fizeram obras? Eticamente não dá. Vamos aguentar um ano. O mais importante é que o novo modelo de pedágio entre redondo.
O Paraná está enfrentando uma crise hídrica histórica. Emergencialmente, se adotou o rodízio como solução para o momento, especialmente em Curitiba. Mas, e a longo prazo? Quais os planos do governo estadual para resolver o problema?
São dois planos, um estrutural e outro ambiental. Na infraestrutura, estamos fazendo a Barragem do Miringuava, em São José dos Pinhais, que é um reservatório gigantesco, que vai dar tranquilidade aí de 30 anos para o abastecimento de Curitiba. E fizemos agora em Colombo, antecipando uma obra, uma adutora que pega água do rio Capivari e, por 11 quilômetros de tubulação, joga na barragem do Iraí. E estamos ampliando a capacidade dos reservatórios que já temos, os tradicionais.
E, além disso, temos o “Sinais da Natureza”, que é um trabalho ambiental. Estamos criando um corredor de biodiversidade, que sai daqui de Curitiba e vai até Porto Amazonas. Vai ser o maior corredor de biodiversidade do Brasil. Vai ser uma parceria entre o governo estadual, Sanepar, prefeitura de Curitiba e prefeituras de municípios que estão no caminho, Araucária, entre outros.
Qual a previsão de conclusão do corredor?
Temos o projeto pronto e já vamos começar o trecho de Curitiba. São 150 quilômetros. É uma obra de quatro anos.
“Não queremos tirar dinheiro das universidades. Mas, elas precisam gerenciar melhor”
A Assembleia Legislativa aprovou recentemente a Lei Geral das Universidades (LGU), de autoria do governo estadual, mesmo com críticas das duas maiores universidades estaduais, a UEL e a UEM. Entre outras coisas, os reitores alegam que a LGU fere a autonomia das universidades, garantida pela Constituição Federal. O que o governo estadual pretende com a LGU? Qual foi o propósito?
É a busca da eficiência na gestão orçamentária das universidades. Autonomia intelectual e acadêmica não queremos nem discutir, nunca – isso é um problema da universidade. Mas a questão orçamentária, a maneira como é aplicado o dinheiro, o Estado tem obrigação de interferir. Nosso objetivo é interferir positivamente, no sentido de ajudar a universidade a manusear, a gerenciar melhor o orçamento que ela tem. Por quê? Somos o estado que mais tem universidade pública estadual no Brasil. E são universidades extremamente importantes, históricas, que ajudam o desenvolvimento do Estado, o desenvolvimento econômico, são premiadas. Isso é inquestionável. O povo do Paraná investe mais de R$ 3 bilhões nas universidades, incluindo os hospitais universitários. Isso é praticamente o orçamento inteiro que eu tenho para a segurança pública. É um orçamento gigantesco. Tudo bem. Não queremos tirar dinheiro das universidades. Mas nós queremos que elas passem a gerenciar melhor esse dinheiro.
Por exemplo: um curso que tem três alunos. Ele é importante para o Estado? Sendo que eu tenho curso que tem lá 100 alunos esperando para abrir vaga? Essa organização de gestão que nós queremos dar para as universidades, que elas possam ser mais eficazes na aplicação do dinheiro. Então às vezes você tem curso que tem dois ou três alunos, que não é importante para o desenvolvimento do Estado, e curso que você precisa abrir, ampliar, e não tem dinheiro.
Mas quais cursos o senhor considera que não são [importantes para o Estado]?
Estou dando um exemplo, porque tem um histórico disso. Nem sei te dizer qual, curso A ou B. Mas existe. É algo que acontece. Então, o que estamos fazendo? A universidade que gerenciar melhor o seu orçamento, ela terá um upgrade no orçamento do ano seguinte. Aquela que não conseguir ter uma eficiência no orçamento, ela não irá perder, mas também não terá o upgrade. Então o upgrade é para aquela universidade que investir em laboratórios, que melhorar a estrutura física para os alunos, que gastar menos com pessoal de assessoria... Temos casos de assessor de reitoria que ganha R$ 25 mil, quando o mercado paga R$ 5 mil ou 7 mil. Distorções assim.
A maioria dos reitores achou que a lei é boa. Aquele reitor que enxerga que a universidade que ele gerencia tem capacidade de crescer, e que às vezes não cresce por limitação financeira, ele gostou. Ele viu que, se fizer realmente um bom trabalho, ele terá upgrade no orçamento, vai poder abrir mais laboratório, abrir mais sala, contratar mais professor.
A maioria vê com bons olhos. Pode ser que as maiores estejam com medo de perder orçamento. Não vão perder. Elas podem deixar de ganhar mais, isso sim. Porque a lei vai cobrar mais eficiência, menos gasto com supérfluo...
O tempo de discussão com a comunidade acadêmica foi suficiente? Porque o projeto de lei das universidades foi apresentado em 2019, mas, depois saiu de pauta, ficou meio adormecido, até ressurgir no final deste ano na Assembleia Legislativa, já em regime de urgência. Os reitores da UEL e da UEM defendiam mais tempo de debate.
É uma lei que eu queria ter aprovado no primeiro ano do mandato. Mas, como em 2019, tinham outras prioridades para o momento, a gente retirou. Mas teve debate, dois anos e meio de debate. Os reitores conheciam do pé à cabeça o projeto de lei e, inclusive, ajudaram a construir. Agora tem um ou outro que quer jogar para a torcida do sindicato. Aí eu não posso fazer nada, é questão de política interna da universidade, talvez. Mas todos conheciam o projeto de lei.
Outro projeto de lei do governo estadual recentemente aprovado pela Assembleia Legislativa foi o auxílio-alimentação de R$ 600,00 a servidores da ativa da área de segurança pública. Pelo texto original, se pensava em compensar a criação do benefício com o aumento da alíquota de ICMS do fumo, mas isso acabou sendo retirado pelo seu líder na Casa [Hussein Bakri], após pressão do setor de tabaco. Como é que, então, vai se pagar o auxílio-alimentação?
Tem um planejamento na receita, os estudos... E tínhamos incentivos fiscais antigos de empresas que começamos a reduzir, de forma gradual.
No final do ano passado, o governo estadual também tentou aumentar a alíquota do ICMS do refrigerante e também recuou após pressão...
Carga tributária já é alta, temos que reconhecer, no Brasil como um todo, ninguém aguenta mais pagar imposto. Então, no caso do fumo, se vai dar problema, então tira, vai ajustando, e vamos achar outra engenharia. Uma das possibilidades era diminuir incentivos fiscais de empresas que já ganharam por 5, 10, 15 anos, e que têm que diminuir de forma gradativa.
“Não acho saudável trazer a política nacional para o Paraná”
O senhor é considerado um aliado do presidente Bolsonaro (PL), já disse que admira o ex-juiz Sergio Moro (Podemos), e pertence ao PSD do Kassab, que recentemente estava no jantar do Lula (PT) e do Alckmin (sem partido), embora tenha dito que defende a candidatura própria, via Rodrigo Pacheco. Em qual palanque presidenciável o senhor estará em 2022?
Veja, primeiro, assim, de forma muito sincera, eu não estou gastando energia com isso agora. Porque estamos falando de outubro de 2022, daqui um ano. Apesar de que a política nacional está precoce desde 2019. Tinham três governadores recém-empossados que já eram candidatos a presidente. Uma loucura. Mas, enfim, cada um faz o que quer. Então eu tenho evitado. Eu acho que isso tudo atrapalha o desenvolvimento do Estado e do País, minha opinião. Eu estou focado em fazer o Paraná bombar, que é o que está acontecendo. Meu time como um todo tem que estar focado nisso.
Mas, claro, é uma engenharia que lá na frente nós temos que pensar. Porque realmente eu tenho um bom relacionamento com o governo federal, com o presidente Bolsonaro. Aliás, ele foi fundamental na construção do pedágio, no modelo que o Paraná queria. Ele acabou exigindo que o Ministério da Infraestrutura aceitasse [o modelo proposto pelo estado]. E nós temos o partido, eu sou um cara de partido, e o PSD tem um bom nome: o Rodrigo Pacheco é um cara preparadíssimo, da nova geração, presidente do Senado. E tem a candidatura do Sergio Moro, que é um cara que eu respeito, tem um histórico, decente, sério. O Podemos nos ajudou na eleição passada.
O Podemos, que hoje tem o Sergio Moro, e o PL, ex-PR, que filiou o Bolsonaro, integravam a sua chapa na eleição de 2018.
Sim. Então, temos que ver como vai ficar este cenário para a gente começar a definir. Eu tenho que defender o interesse do Paraná. Independentemente de partido, de nome, de terceira via, de briga, temos que defender o Paraná. Chegar lá na frente e ver o que é o melhor cenário para o estado.
Mas o senhor não tem, pessoalmente, afinidade de agenda/projeto com algum nome?
Eu acho que o partido tem que ter candidato. Porque o que faz uma democracia ser forte é ter lideranças. Acho importante um partido como o PSD, que hoje está entre os cinco maiores do Brasil, ter uma liderança discutindo o país, apresentando um projeto de país.
Mas tem que esperar definir o cenário, aguardar. E não sei nem se é saudável trazer a discussão da política nacional para o Paraná. Porque hoje tem uma rivalidade tão extremada no país, e a gente está num ambiente tão tranquilo politicamente. E nós demoramos anos para conseguir isso. O Paraná sempre foi um estado que sempre teve muito problema político, de divergência, de não se dar com governo federal, com senadores, de "brigaiada" interna aqui. Se pegar um histórico de 30 anos, Paraná sempre foi problemático politicamente e perdemos muito por causa disso.
O senhor acha que a melhor fórmula é não se posicionar?
Acho que o melhor é se posicionar no momento de se posicionar. Eu não estou em campanha e nem é campanha. Os atores se consolidaram? Nem sei se realmente o meu partido terá candidato. Eu espero que sim e tenho visto o presidente do Senado falar que sim. Mas temos que esperar as decisões acontecerem. Não tem necessidade de eu ficar antecipando qualquer tipo de posicionamento enquanto o jogo não está claro. O que eu posso falar é que eu tenho um bom relacionamento com o presidente Bolsonaro e com o governo dele, que tem feito uma boa parceria com o estado.
Mesmo após aquele episódio do rompimento entre Moro e Bolsonaro... [em 2020, Moro acusa Bolsonaro de interferência política na Polícia Federal e sai do Ministério da Justiça]
Mas aí é uma coisa que aconteceu entre eles, né? Eu não sei o que aconteceu, eu não estava lá para acompanhar... Eu lamento. Eu gostaria de estar vendo essas duas lideranças importantes caminhando, ajudando o Brasil, juntas, na harmonia... Mas aí é uma questão de trabalho.
O senhor também não se posicionou naquele episódio de 7 de Setembro, quando o Kassab passou a defender o impeachment do presidente Bolsonaro.
Eu tenho evitado entrar nestes temas nacionais. Porque eu sou muito focado a resolver os problemas do Paraná, a missão que a população me deu. Eu acho que hoje tem muitos políticos, e não estou falando de A ou B, que estão preocupados com like, com lacração. Eu não sou assim. Sou mais da política de resultado, de fazer a coisa rodar. Acho que hoje a população analisa o político pelo filme, e não pela fotografia. Vai chegar lá na frente e, se eu for candidato à reeleição, se eu tiver essa oportunidade, a população vai analisar se fiz ou não um bom mandato. Não [vou ser avaliado] porque fui lá no pedágio levantar o guincho. Essa lacração que o país não está suportando mais. O político da lacração está atrapalhando o desenvolvimento do país. E eu não gosto da superexposição, é um perfil meu. Com este novo momento de rede social, surgiram os políticos da lacração. E eu quero ser político de resultado.
"Essa briga política está estressando a sociedade"
Falando sobre política local, então: eu queria saber quem o senhor espera enfrentar nas urnas. O ex-governador Requião (sem partido) tem sido cortejado pelo PT e também sugeriu dias atrás [em perfil próprio no Twitter] que o Ratinho Junior estaria tentando barrar sua filiação ao PSB.
Seria como um concorrente normal, que eu teria que enfrentar. Independente do concorrente, eu tenho que ter a melhor proposta. É a minha preocupação. Concorrente vai ter. Se não for um, serão dois, ou três ou vários.
Ao contrário da política nacional, aqui no Paraná os nomes não estão totalmente colocados.
O fato de eu não dar importância para esse jogo político de lacração, de gastar energia em discussão política, está fazendo o estado se diferenciar no Brasil hoje, em desenvolvimento econômico. O empresário não quer encheção de saco. Essa briga política está estressando a sociedade. Eu não falo isso por belezura. Eu falo por estratégia: não vou criar um ambiente de rivalidade no estado, sendo que o empresário, o investidor, ninguém aguenta mais. Aqui estamos em um ambiente de paz. Vai ter concorrente, vai, com a cor partidária que for. E vamos enfrentar. E a população vai julgar: fez ou não um bom mandato. E pronto. Bem prático.
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