Terminado o processo eleitoral, o deputado estadual e prefeito eleito de Londrina, Tiago Amaral (PSD), trabalha com a equipe de transição antes de sua posse, em 1º de janeiro de 2025. Ele recebeu 143.745 votos no segundo turno das eleições 2024 (56,32% do total), e vai substituir Marcelo Belinati (PP), que encerra em 2024 o segundo mandato consecutivo à frente do Executivo municipal.
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Em entrevista à Gazeta do Povo, o prefeito eleito em Londrina falou sobre quais devem ser as prioridades de gestão e o legado que pretende deixar para a cidade ao fim de quatro anos como prefeito. Tiago Amaral também elogiou o governador do Paraná, Carlos Massa Ratinho Junior (PSD), de quem reafirmou ser muito próximo, e não hesitou em alçá-lo como possível candidato à presidência da República em 2026 - caso ele prefira não disputar uma das duas vagas ao Seando Federal.
Confira aentrevista com o prefeito eleito de Londrina, Tiago Amaral
Prefeito, quais são as primeiras impressões que a equipe de transição teve junto à administração municipal? Qual é o cenário encontrado na prefeitura de Londrina?
Tudo aquilo que nós defendemos durante a campanha como prioridade está exatamente como foi falado. Acho muito difícil e injusto falar em primeiras impressões, porque nós não podemos trabalhar com ideias, é preciso ter certezas. Mas a questão da saúde, por exemplo, está muito delicada e precisa de uma reestruturação, uma reorganização, uma nova cultura, um novo modelo de gestão e planejamento. É preciso uma ação muito mais profissional. Entre essas ações eu vejo a questão da integração com a região como muito necessária.
Outro ponto é a questão das pessoas em situação de rua. Isso é algo muito crítico aqui. Nós precisamos atuar de forma efetiva e enérgica para solucionar essa questão e dar dignidade para essas pessoas. Ao mesmo tempo, temos que mostrar que essa dignidade não será alcançada nas ruas. Se não deixarmos isso muito claro, podemos perder o controle da situação de forma irreversível. E isso vai demandar ações mais duras posteriormente. Por isso, precisamos agir imediatamente.
A saúde pública em Londrina precisa de uma reestruturação, de um novo modelo de gestão e planejamento. É preciso uma ação muito mais profissional.
Prefeito eleito de Londrina, Tiago Amaral
Além disso, batemos muito na questão da reorganização da administração da prefeitura. Agora está mais clara ainda essa necessidade, na forma de melhoria dos fluxos dos processos, de uma relação mais próxima com os servidores que estão na ponta dos serviços e atendendo o cidadão no dia a dia. Quero reforçar aqui que não é uma crítica, porque nós falamos muito disso durante a campanha, mas é exatamente o que apontamos como questões essenciais. Nós não estávamos equivocados, esse é o caminho que precisa ser seguido.
Dentro desses pontos que o senhor comentou, qual deve estar a sua prioridade zero para Londrina: é a área da saúde? São as pessoas em situação de rua?
A prioridade zero que existe para a população de Londrina é a saúde. Mas isso não significa que a questão, por exemplo do desenvolvimento econômico, industrial e a reorganização administrativa não tenham o mesmo grau de importância. Essas áreas todas têm [essa mesma importância]. Só que a saúde, realmente, não tem mais como esperar.
Temos pessoas aguardando há sete, oito anos para a realização de cirurgias eletivas. Há filas de dois anos para procedimentos de cataratas. E boa parte das cidades da nossa região já zeraram essas filas. Cirurgias ortopédicas estão sendo enviadas para outras cidades para serem realizadas, não estão conseguindo realizar isso aqui em Londrina.
São coisas que não podemos mais deixar esperando. O povo, obviamente, está muito preocupado, está sofrendo muito. Essa é uma prioridade em função da urgência que isso nos traz. Mas quero deixar claro, a questão dos moradores de rua é uma situação que não dá para dizer que “vamos avaliar, vamos pensar”. Não, a gente tem que entrar [na prefeitura] apresentando caminhos importantes.
A nossa prioridade final, ao melhorar a qualidade da gestão, é transformar Londrina em uma cidade de excelência na prestação de serviços públicos, de uma forma geral. Nós queremos a marca da "cidade da inteligência artificial", isso tem que ser uma marca nossa, a de cidade inteligente.
E por fim precisamos trabalhar na retomada da liderança política e, principalmente, econômica da cidade de Londrina. Uma geração de empregos de qualidade para a população, com qualificação de mão de obra. E fazer Londrina voltar a ser uma terra de desenvolvimento, uma terra de geração de riqueza e de atração de indústrias. Uma terra de industriais, de pessoas com mentalidade voltada à industrialização e tecnologia, isso é o que nós queremos para a cidade de Londrina.
A questão dos moradores de rua não dá para dizer que 'vamos avaliar, vamos pensar'. Não, a gente tem que entrar [na prefeitura] apresentando caminhos importantes.
Prefeito eleito de Londrina, Tiago Amaral
Esse é o legado que o senhor espera deixar para a cidade?
Sem dúvida. É uma cidade que volta a ser referência em desenvolvimento econômico, geração de emprego e, claro, qualidade de vida. Londrina é uma cidade muito boa para se viver. Isso é inegável e indiscutível. O que a gente precisa é melhorar os serviços públicos. O grande legado nosso é cuidar das pessoas e fazer a retomada do desenvolvimento econômico como referencial para a cidade de Londrina.
Como o senhor vê o resultado das eleições em Curitiba? A Cristina Graeml, uma iniciante no jogo político, desbancou nomes tradicionais e consolidados na política da capital. O senhor vê a presença dela no segundo turno como uma coincidência, uma situação única, ou ela passou a representar uma mudança no espectro conservador do estado?
Nós temos um momento político acontecendo no Brasil todo, que é uma grande frustração de uma parcela elevadíssima de brasileiros em função da derrota que aconteceu em 2022 do presidente Bolsonaro para o Lula. Tem coisas que ficaram marcadas de forma profunda na população, essa imagem de alguém que passou por tantos escândalos grandiosos de corrupção e ter voltado ao poder. Isso trouxe um desânimo muito grande para muita gente.
E o reflexo normalmente é visto em pessoas que estão nesse espectro mais conservador, e que têm essa linha de posicionamento. Então a Cristina Graeml veio justamente nessa pegada, nesse tom. Para mim o que ficou muito claro é que ela se transforma agora em um ativo relevante no cenário atual. Se isso vai se consolidar, depende do que vai acontecer agora nos próximos meses e até a próxima eleição. O grande desafio dela vai ser se manter realmente relevante.
Para as eleições majoritárias de 2026, o senhor vê possibilidades de o governador Ratinho Junior entrar na disputa?
É indiscutível: nós temos no Paraná um grande líder estadual e que se mostrou um dos nomes mais viáveis para o processo eleitoral dos próximos anos, o nosso governador Ratinho Junior. A força dele ficou evidenciada, e o momento político é muito bom para essa geração. Ele elegeu dois nomes jovens, aliados diretos, completamente ligados a ele nas duas maiores cidades do Paraná: Eduardo Pimentel na capital do estado e Tiago Amaral na capital do interior.
O Paraná, hoje, tem a figura de um gigante, que é o governador Ratinho Junior. Ele é a principal referência e o condutor desse processo. De forma justa, porque o governador tem feito um trabalho extraordinário no Paraná, de desenvolvimento econômico, de modernização das estruturas da gestão. É um trabalho diferenciado e, para mim, é o grande nome que a gente tem para chegar à presidência da República.
O prefeito de Curitiba, Rafael Greca, disse, em entrevista à Gazeta do Povo, que tem a pretensão de concorrer ao governo do Paraná. Como o senhor avalia essa possibilidade? E como ficaria a disputa para o Senado no estado, na sua visão?
O governador Ratinho Junior firmou uma grande parceria com o PL, e eu pessoalmente tenho um compromisso muito forte com o Filipe Barros (PL), que é a pessoa mais próxima do presidente Bolsonaro no Paraná e tem uma relação muito próxima com o governo Ratinho Junior. Eu entendo que o caminho hoje é que uma das vagas dessa composição PL-PSD seja naturalmente do PL, e o nome mais forte do PL é o do Filipe. Sobre a outra vaga para o Senado, é claro que essa composição quem vai construir é o governador Ratinho Junior.
Uma dessas vagas está hoje muito conectada a essa construção que foi feita, que foi uma construção que deu grandes frutos políticos no Paraná todo. Então eu acredito demais que esse caminho que foi construído é o que vai vigorar para 2026.
E o caminho da sucessão do governador, todos nós, de fato, estamos acompanhando. Mas essa definição, sem dúvida nenhuma, passa pela mão do governador Ratinho Junior. E depende da decisão dele de disputar a presidência. Isso vai impactar diretamente, na minha avaliação, o cenário do Senado. Se ele tiver na disputa nacional, é um caminho. Se ele não estiver, fatalmente é um nome muito forte, óbvio, para o Senado.
O senhor vê viabilidade para o projeto do trem pé-vermelho, que voltou a ser discutido para a região norte do Paraná? O senhor vê um interesse, uma oportunidade, um potencial para o município?
Eu vejo de forma extraordinária, é um projeto realmente viável, fundamental e está conectado com aquilo que foi o grande planejamento feito pelos ingleses, na época ainda da colonização. É a proximidade de cidades fortes para a nossa região, desenvolvidas e conectadas pela linha de ferro. Hoje essa utilização é muito restrita à questão de cargas, mas o projeto sempre foi para a utilização pelo transporte de passageiros.
Eu tenho batido nessa tecla de nós precisamos unir as grandes cidades da nossa região de Londrina. Porque não é só Londrina, é o grupo de cidades da Amepar (Associação dos Municípios do Médio Paranapanema), é Ibiporã, Cambé, Rolândia, Arapongas e Apucarana. São cidades que juntas somam 1,1 milhão de habitantes, um público em potencial para essa linha do trem pé-vermelho.
Londrina não é uma cidade isolada, ela se apresenta para solucionar problemas e ser uma grande referência para os vizinhos. Não só em atendimento de saúde, mas para a geração de emprego, de oportunidades para pensar e ajudar a região. As pessoas precisam entender que quando um problema é resolvido em uma cidade pequena, é algo a menos para a cidade grande atender. E quando a cidade grande consegue solucionar os seus próprios problemas, pode abrir espaço para ajudar a resolver os problemas das cidades da região. Por isso precisamos agir de forma integrada.
A região de Londrina soma 1,1 milhão de habitantes, um público em potencial para essa linha do trem pé-vermelho.
Prefeito eleito de Londrina, Tiago Amaral
Em relação ao lote 3 do pedágio, que deve ir a leilão agora no fim do ano, quais são as perspectivas para Londrina?
A duplicação total da nossa (BR) 445 é uma questão fundamental. O que precisamos que aconteça agora é o início da obra no restante do trecho que liga Lerroville até Irerê, que é um projeto do governador Ratinho Junior que nós lideramos por intermédio da Comissão de Infraestrutura e Desenvolvimento Regional da Assembleia Legislativa do Paraná. É um trecho fundamental para nós, porque é um segmento de industrialização que nós vamos utilizar, vai ser uma guia de industrialização de Londrina.
A planta genérica de valores do IPTU em Londrina foi atualizada durante a gestão de Marcelo Belinati. O senhor prevê alguma mudança nessa planta durante esse seu mandato?
Não, não prevejo, não é algo que esteja no nosso radar. A minha determinação, até pelos meus princípios e valores em relação ao modelo de gestão pública, não é sobrecarregar a cobrança de impostos. Nós temos, sim, que fomentar o desenvolvimento econômico para que isso gere as receitas necessárias para os investimentos na gestão pública.
Eu sou um dos grandes críticos do IPTU, mas entendo a necessidade dele hoje para a composição das receitas do município. Infelizmente foi formatada dessa forma a estratégia de arrecadação e de formação da base orçamentária e financeira do município. Mas eu sou amplamente contrário a essa dependência do IPTU como fonte de receita principal. E é o que acontece hoje em Londrina.
A gente precisa de um repasse mais contundente de recursos por parte do governo do estado, tem que ser muito mais forte. É neste repasse que está o desenvolvimento econômico baseado na arrecadação do ICMS. Tem também o IPI, que vem na distribuição dos recursos federais do Fundo de Participação dos Municípios. São questões que precisam ser valorizadas, e é o que vai acontecer a partir do momento em que colocarmos o desenvolvimento econômico como prioridade. A ideia central é não depender do IPTU para fazer os investimentos que o governo precisa.
Sou contrário a essa dependência do IPTU como fonte de receita principal. E é o que acontece hoje em Londrina.
Prefeito eleito de Londrina, Tiago Amaral
A gente precisa de um repasse mais contundente de recursos por parte do governo do estado.
Neste mês o governo do estado repassou mais de R$ 250 milhões ao Tribunal de Justiça do Paraná e ao Tribunal de Contas do Estado do Paraná. Esses repasses foram feitos a órgãos que não informam qual será a destinação dos recursos. Há também pagamentos de indenizações, que apesar de legais e constitucionais, não são tornadas claras ao cidadão. Como o senhor, ainda como deputado, vê essa questão?
Um dos pilares da administração pública é a independência dos poderes. Quando a gente fala de orçamento público, é muito difícil interferir no orçamento das estruturas dos demais poderes. No próprio orçamento do Executivo, há uma dificuldade para conseguir fazer as grandes mudanças que, eventualmente, até o próprio parlamento gostaria de fazer e tem legitimidade para isso. E não é diferente em relação aos demais poderes.
A gestão interna de cada poder é exercida pela autonomia dessas estruturas. O que de fato hoje é a praxe é analisar a condição econômica para isso, se eles têm dinheiro ou não. Hoje o Brasil está muito baseado nisso. Analisa-se o que o poder vizinho pode ou não fazer, e com base nisso se dá o aval. Se ele tiver a condição, se ele tiver a capacidade orçamentária, em regra, você dá o aval [para os repasses].
Qual deve ser o caminho? Nós temos que sempre pensar na eficiência da máquina pública, e a máquina pública só existe para atender a população. Naquilo que me couber, principalmente na condição de prefeito, essa será a minha linha de trabalho. Eu sempre vou colocar como prioridade total a valorização do cidadão. Não a cobrança maior de impostos, mas sim a eficiência da entrega que a gente vai fazer.
A praxe é analisar a condição econômica para isso. O Brasil está muito baseado nisso. Analisa-se o que o poder vizinho pode ou não fazer, e com base nisso se dá o aval. Se tiver a capacidade orçamentária, em regra, você dá o aval [para os repasses].
Prefeito eleito de Londrina, Tiago Amaral
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