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Colégios civico-militares
Estudantes acompanham lançamento do programa Colégios Cívico-Militares no Paraná, em setembro deste ano| Foto: Geraldo Bubniak / AEN

Os estudantes dos 186 colégios estaduais que passarão a adotar o modelo cívico-militar vão encarar algumas mudanças na rotina escolar a partir do próximo ano letivo. Segundo a Secretaria de Estado da Educação e do Esporte (Seed), as novidades visam trabalhar condutas disciplinares e resgatar o respeito às autoridades, como a do professor em sala de aula.

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O comando dessas escolas passará a ter três diretores. O diretor-geral será um professor da rede de educação, responsável por cuidar do conteúdo e do material pedagógico. Subordinado a ele estarão um diretor militar, um policial militar inativo, e um civil, também servidor da rede de educação. Outros policiais militares, em número de dois a quatro, trabalharão como monitores.

Além disso, os alunos passarão a ter uniformes próprios, composto de agasalho completo, camisetas e um traje especial para eventos públicos. O investimento da Seed para a implantação do novo modelo, somente em 2021, será de R$ 65 milhões – R$ 40 milhões para aquisição e distribuição dos uniformes e cerca de R$ 25 milhões para o pagamento de auxílio financeiro para os militares inativos.

Em termos pedagógicos, as principais mudanças estão na ampliação da carga horária, com aumento nas aulas de português e matemática, além da inclusão de educação financeira e da disciplina de civismo, que, segundo a Seed, valorizará “a ética, valores morais e de cidadania”. “O aluno vai estudar a Constituição Federal, a organização do estado democrático de direito, a separação dos poderes”, explicou o diretor-geral da secretaria, Gláucio Dias, na última edição do podcast Pequeno Expediente.

“Haverá um foco um pouco maior em atividades cívicas, em entender o 7 de setembro, o 15 de novembro, o 19 de dezembro, os nossos símbolos pátrios e nossos heróis nacionais, que participaram da constituição da nossa pátria”. Ele acrescenta que a proposta do colégio cívico-militar é dar ênfase maior também na disciplina. “Na questão da ordem, da constância, da diferenciação do certo e do errado. Tem uma disciplina um pouco mais rígida do que o colégio tradicional.”

Trabalhores da educação questionam modelo

As mudanças são questionadas pelo Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná (APP-Sindicato). “Esses valores que estão sendo colocados para serem trabalhados agora, como civismo, os estudos constitucionais, dos poderes do estado, são conteúdos que já trabalhamos”, afirma o presidente da entidade, Hermes Leão. “O que está sendo posto são valores da prática da vida militar, como o controle e o adestramento.”

O sindicato chegou a pedir na Justiça a suspensão da consulta pública sobre a implantação dos colégios cívico-militares no Paraná, mas teve a demanda negada pelo juiz substituto Eduardo Lourenço Bana, da 4ª Vara da Fazenda Pública de Curitiba.

“Eu fui militar durante sete anos, fui sargento e conheço bem a pedagogia militar. Tenho a compreensão de que ela é adequada para ser aplicada nos quartéis, na formação militar, e não imposta para crianças de 10 anos em diante”, diz. “Quando eu optei por ser militar eu já tinha 18 anos e já tinha outras compreensões dos processos. Os valores militares vêm de uma tradição autoritária.”

Para o presidente da APP-Sindicato, as dificuldades que existem nas escolas não devem ser tratadas como caso de polícia. “Temos dificuldades com a disciplina escolar, e esse é um campo completamente ligado à questão educacional. Quando existe a violência propriamente dita, que existe na sociedade e atinge o ambiente escolar, aí sim deve haver o reforço na rede de proteção social, da qual o conselho tutelar e a própria segurança pública fazem parte.”

Já o diretor da Seed defende que as propostas partem de uma demanda da própria comunidade escolar. “Há um anseio da sociedade, das famílias, dos pais, no sentido de resgatar alguns fundamentos básicos, como os valores do respeito, da tolerância, da autoridade – mas não do autoritarismo. O professor era uma autoridade na sala de aula, mas isso não fazia dele um tirano. Essa noção foi se perdendo ao longo dos últimos anos”, disse Dias.

Segundo ele, o novo modelo deve buscar uma maior participação das famílias. “Temos um exemplo do Colégio da Polícia Militar, no Portão, que tem na APMF [Associação de Pais, Mestres e Funcionários], uma participação de 73% dos pais, que são filiados, participam de eventos, de palestras.” Outra meta dos colégios cívico-militares será trabalhar fortemente, por meio dos monitores militares, no combate à evasão escolar.

Além das 186 escolas que já aderiram à proposta, o governo do Paraná abriu nova consulta à comunidade escolar de mais 16 colégios sobre a adoção ou não do modelo cívico-militar. Os votos começaram a ser recebidos na quarta-feira (11) pela manhã e o processo se encerraria na noite desta quinta-feira (12). De acordo com a Seed, a ampliação ocorre após reivindicação das comunidades escolares.

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