| Foto: Átila Alberti / Tribuna do Paraná
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As escolas públicas do Paraná retomam as aulas nos próximos dias de forma híbrida: parte remota, on-line, e parte presencial. Enquanto os estudantes não adentram o pátio dos colégios, as melhorias continuam a ser feitas para garantir o máximo de adequação aos cuidados sanitários exigidos pela pandemia de Covid-19. E os próximos meses serão também um período de transição, de nivelar conteúdos pedagógicos e reparar os danos emocionais e psíquicos do afastamento prolongado entre estudantes, colegas e professores.

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No Colégio Estadual Pedro Macedo, tudo foi modificado: da entrada da escola até os banheiros e áreas de convivência, como os pátios e o refeitório. No chão, foi feita a pintura para os alunos saberem o distanciamento correto. Para o acesso ao álcool gel, a escola criou totens que facilitam o uso sem precisar das mãos.

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“Nós fomos um pouco além do protocolo da Secretaria de Educação, porque quisemos realmente trazer o máximo de segurança para os nossos alunos. Isso tudo além de oferecer o melhor para eles, porque precisam se sentir bem também”, comentou o diretor José Marcos de Paula.

No colégio da rede estadual, que tem 3.100 alunos, as aulas vão voltar com pelo menos 50% da capacidade. “Continuaremos no ensino híbrido, mas agora de um jeito diferente, pois quem estiver em casa vai assistir a mesma aula que os alunos que estiverem em sala. Os próprios professores vão transmitir”.

Assim como em todas as outras escolas da rede pública, a estrutura do Colégio Pedro Macedo foi adaptada. A medição de temperatura ao chegar, a demarcação no chão para o distanciamento, lixos com pedais e dispensers de álcool em gel vão ser regras em todas as escolas. Isso tudo atrelado ao distanciamento entre os alunos nas salas de aula, que vão estar com metade da capacidade.

Modificações necessárias em banheiros, refeitórios, pintura

A coordenadora de obras da educação da prefeitura de Curitiba, Flávia Gomes, explica que estão sendo feitas, principalmente nas escolas, intervenções em banheiros, pintura, rede elétrica, telhados, refeitórios e portas. “São diversas melhorias previstas, conforme a necessidade de cada local”, explica.

Em ambas as redes de ensino, a confirmação da presença dos alunos nas escolas será feita pelos pais ou responsáveis legais, que assinarão um documento autorizando a ida do estudante. Eles terão liberdade para aderir ou não ao modelo presencial. Profissionais do grupo de risco, por exemplo, estão liberados das atividades presenciais.

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No colégio da rede estadual visitado pela reportagem no bairro Água Verde, o cuidado foi um pouco além. “Instalamos 15 pias ao ar livre, para que os alunos possam higienizar as mãos sempre que sentirem a necessidade. Fomos um pouco além também no refeitório, onde conseguimos comprar e vamos instalar acrílico entre as mesas, para que não haja contato entre os alunos na hora da alimentação, uma segurança a mais”, contou o diretor.

Foto: Átila Alberti / Tribuna do Paraná
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Professores se dizem ansiosos pelo retorno

O diretor confirmou uma certa ansiedade. “O retorno é a melhor coisa que vai acontecer para a educação do Paraná. Nós, professores, estamos ansiosos para recebê-los de volta, principalmente depois de um ano tão difícil como foi 2020. Sabemos que estar na escola é muito diferente do que estar em casa”.

Segundo José Marcos, a preocupação maior é com as famílias. “A gente se preocupa com as famílias que ficam um pouco inseguras com esse retorno, mas no que depender de nós, professores, vamos ajudar. Vamos estar em cima, passando as informações, incentivando, e fazendo com que mantenham todo esse cuidado necessário para continuarem estudando”.

Outra preocupação está em fazer com que os adolescentes mantenham se cuidando e até mesmo continuem de máscara durante as aulas. Para isso, no Colégio Estadual Pedro Macedo, o diretor pensou num projeto. “É o Aluno Nota 10. Se ele cumprir todas as regras certinho, do distanciamento, usar o álcool, não tirar a máscara, vamos dar nota 10 para estes alunos. É uma forma que encontramos de incentivá-los. Também vamos deixar os monitores das salas de olho, para cuidar de que todos os cuidados sejam mantidos. E se chegar sem máscara, porque pode acontecer, teremos aqui para fornecer também”.

Para psicóloga, é preciso atentar para prejuízo emocional da pandemia

A  ausência prolongada da escola levanta questões quanto ao prejuízo emocional dos alunos. “Temos uma cultura de pensar muito no conteúdo escolar que acabou sendo perdido no ano passado, mas também precisamos nos preocupar com as perdas emocionais, pois o conteúdo a gente pode recuperar, já as sequelas emocionais podem ser para sempre”, destacou Luciana Deutscher, psicóloga especializada em Psicoterapia Positiva e prevenção em saúde mental e bem estar.

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Segundo Luciana, cada família tem que avaliar os prós e os contras, mas sempre pensando também no bem estar das crianças ou adolescentes. “A grande importância desse retorno às aulas é com relação ao convívio social, que foi a grande privação que crianças e adolescentes tiveram na pandemia. Eles tiveram ‘N’ outros aprendizados em casa, junto com os pais, como mudar a rotina, por exemplo, então também aprenderam muito. Mas a questão emocional de crianças pequenas, que estão em fase de socializar, de estar em grupo, de ter uma rotina de levantar, tomar café, colocar uniforme e ter horário para as coisas, é muito importante”.

Para as crianças pequenas, voltar para a escola é voltar para o eixo. “É recomeçar o trabalho de sociabilidade, o que para as crianças pequenas é muito importante. Mas também precisamos deixar claro que isso é uma escolha de cada família, que tem que pesar ganhos e perdas e entender o que é melhor no momento”.

A psicóloga reforçou que muita gente tem se sentido em dúvida sobre mandar ou não o filho para a escola. “Tem muita gente crucificando quem vai mandar e tem muita gente achando que tem que mandar para a aula mesmo. Mas o que precisamos entender é que cada realidade é diferente. O importante, independente da idade, é os pais conversarem com os filhos na linguagem deles e explicarem a situação. Se as crianças e adolescentes sentirem segurança para voltar, nem que seja para experimentar como vai ser, é o momento”.

No caso dos adolescentes e pré-adolescentes, já existe a consciência de que, para voltar a estudar presencialmente, os cuidados precisam existir. “Eu percebo, entre meus pacientes, que eles estão com tanta vontade de voltar, que são super conscientes de que precisam manter os cuidados. Eles estão muito mais conscientes do que imaginamos. Então vai ser benéfico para eles também”, comenta a psicóloga.

Luciana reforça que tudo tem que ser pensado em família. “Se o filho não é grupo de risco ou não tem ninguém do grupo de risco no convívio, independente da idade, se está seguro e precisando voltar, querendo voltar, é o momento. Vai fazer bem para quem quer, para quem precisa e para quem se sente seguro. Jamais obrigue uma criança ou um adolescente, que não está seguro, de voltar”.

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No geral, a volta às aulas na avaliação da psicóloga, vai trazer benefícios. “Principalmente para as crianças. Temos que lembrar sempre que as perdas emocionais da pandemia são muito maiores do que as perdas de conteúdo. É o momento de recuperarmos, pouco a pouco, mantendo todos os cuidados necessários, o convívio social, para também buscarmos recuperar o conteúdo perdido ao longo do ano passado. Uma coisa vai puxar a outra”.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]