A partir do próximo ano letivo, as 2.143 escolas estaduais do Paraná podem passar a ofertar aulas de programação e robótica. É o que pretende a Secretaria de Estado da Educação do Esporte (Seed), que iniciou testes em escolas piloto neste semestre. A intenção é incluir quatro horas semanais da disciplina no contraturno escolar de turmas dos níveis fundamental II e médio.
O objetivo é preparar os alunos para o mercado de trabalho futuro, além de ajudá-los a identificar problemas e apontar soluções por meio da experimentação. “É uma tendência mundial”, diz Claudia Cristina Muller, do Departamento de Tecnologias Educacionais da Seed. “Não é só a questão tecnológica, mas o trabalhar em cooperação, dialogar, tomar decisões, pensar em estratégias para resolver demandas por meio da inteligência coletiva e do pensamento computacional.”
No momento, a secretaria avalia a melhor forma para implantação da disciplina e o impacto financeiro da medida. “Vamos aproveitar os laboratórios de informática, mas algumas escolas precisam modernizar seus equipamentos”, diz Claudia. Outra aquisição necessária serão os kits de robótica com os quais os alunos trabalharão.
Em relação a recursos humanos, estão previstos cursos de formação para professores, de forma online e presencial. “Não pretendemos contratar especialistas; a ideia é incluir a matéria na carga horária dos docentes que já atuam na rede estadual de educação.”
Segundo ela, as aulas de robótica serão disponibilizadas para alunos a partir do sexto ano do ensino fundamental. “Alguns projetos, que envolvam programação em código puro, por exemplo, serão voltados aos dois últimos anos do fundamental e aos estudantes de nível médio”, diz.
Nova forma de aprender
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é o documento que define o conjunto de aprendizagens essenciais que escolas públicas e privadas do país devem promover. Entre 10 competências gerais da educação básica, o BNCC inclui “compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva”.
“A ideia está alinhada com o BNCC e com o objetivo 4 da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, que fala sobre o ensino de qualidade”, ressalta Claudia.
João Vilhete Viegas d’Abreu, pesquisador do Núcleo de Informática Aplicada à Educação (Nied) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), explica que a inserção de novas tecnologias na matriz curricular da educação básica pode potencializar e diversificar a forma de aprender qualquer assunto. “Normalmente se dá mais ênfase na área de exatas, mas a robótica e a programação podem perpassar todas as disciplinas.”
Ao se construir uma determinada máquina e programá-la para executar uma tarefa, os alunos podem ser orientados a descrevê-la em um manual ou relatório do projeto. “Isso envolve o aprendizado da língua, saber interpretar, escrever”, ressalta o pesquisador, que trabalha com a área de robótica e tecnologias educacionais desde 1987.
Para ele, desde que são alfabetizadas, crianças já podem interagir com alguns artefatos tecnológicos, inicialmente de maneira mais lúdica. “Pode-se trabalhar em todos os níveis de educação, com os aprofundamentos condizentes com a faixa etária e com o currículo que está sendo trabalhado”, afirma.
Projetos piloto
Algumas escolas paranaenses desenvolvem pilotos do programa que a Seed pretende ampliar para todo o estado no ano que vem. A secretaria acompanha os trabalhos desenvolvidos e avalia o que pode ser replicado, melhorado ou adaptado às realidades de outras instituições.
Entre as selecionadas está o Colégio Estadual Padre Claudio Morelli, no bairro Umbará, em Curitiba, que já é considerado referência no uso de novas tecnologias. Lá, o professor de matemática Thadeu Miqueletto coordena uma oficina de robótica que começou em 2015 timidamente e hoje envolve 30 adolescentes que participam de segunda a sexta-feira.
Na época, Miqueletto era mestrando na Universidade Federal do Paraná (UFPR), e conheceu o kit de robótica da Lego, que levou à escola para trabalhar com alguns alunos. A iniciativa cresceu rapidamente e, em 2017, a Seed supriu o professor com carga horária para a atividade, que até então era executada de forma voluntária.
“Agora temos de fazer seleção todos os anos, porque muita gente quer participar”, conta o diretor Luciano Kaminski. Com uma equipe batizada de Doctors Machines, o colégio participa anualmente de grandes competições nacionais, como a Olimpíada Brasileira de Robótica e a First Lego League. “Os alunos que participam da oficina têm autonomia; como são monitores deles mesmos, criam responsabilidades e maturidade.”
O Colégio Estadual do Paraná (CEP) é outro que ministra oficinas de robótica. Recentemente, a instituição adquiriu duas impressoras 3D que ficam disponíveis para os alunos construírem objetos tridimensionais que compõem protótipos ou servem como modelos de estudos. “Há escolas na capital e no interior que já contam com clubes de robótica, mas por iniciativa própria”, diz Claudia Muller, da Seed. “Estamos testando ferramentas e plataformas para avaliar quais vamos usar nessas aulas semanais.”
Em maio, a Seed sediou, em Curitiba, a edição de 2019 do Scratch Day, evento que tem como objetivo desmistificar a programação e estimular a aprendizagem criativa. O Scratch é um software gratuito de programação em blocos, desenvolvido pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, da sigla em inglês). A ideia é que qualquer pessoa consiga programar com o software, que é bastante intuitivo. Mais de 300 pessoas, entre alunos e professores, participaram do evento.
Ainda dentro das experiências conduzidas pela Seed, entre 11 e 13 de setembro, em uma parceria com o Google Play, seis escolas estaduais de Curitiba envolverão alunas de nível médio para desenvolver ideias para o desafio Change The Game, que tem o objetivo de incentivar a representatividade feminina no mundo de jogos para celular.
Tecnologias na educação
A inclusão de aulas de programação e robótica nas escolas estaduais faz parte de uma série de medidas do governo do estado de inserir tecnologia e inovação no contexto da educação. Em agosto, o governador Carlos Massa Ratinho Junior (PSD) e a presidente da Microsoft Brasil, Tania Consentino, assinaram uma parceria inédita no país, que prevê acesso gratuito, para todas as escolas da rede estadual, a plataformas como o Office 365 para Educação e o Power BI.
No início do ano, a Seed implantou o programa Presente na Escola, que permite que professores controlem a presença dos alunos por meio de um aplicativo para celular, o que reduziu o índice de faltas, segundo a secretaria. Para o ano que vem, a pasta estuda adotar um sistema de reconhecimento facial na entrada das escolas, segundo afirmou o secretário Renato Feder no mês passado.
PT se une a socialistas americanos para criticar eleições nos EUA: “É um teatro”
Os efeitos de uma possível vitória de Trump sobre o Judiciário brasileiro
Ódio do bem: como o novo livro de Felipe Neto combate, mas prega o ódio. Acompanhe o Sem Rodeios
Brasil na contramão: juros sobem aqui e caem no resto da América Latina
Segurança pública: estados firmaram quase R$ 1 bi em contratos sem licitação
Franquia paranaense planeja faturar R$ 777 milhões em 2024
De café a salão de beleza, Curitiba se torna celeiro de franquias no Brasil
Eduardo Requião é alvo de operação por suspeita de fraudes em contratos da Portos do Paraná
Deixe sua opinião