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Águas de março? Seca histórica alerta para falta de retenção da chuva em Curitiba
| Foto: Daniel Caron / Arquivo Gazeta do Povo

O mês de março de 2020 foi o mais seco em Curitiba desde 1998, quando o Simepar iniciou as medições na região. Em praticamente todo o Paraná, as chuvas esperadas para a época ficaram muito abaixo da média e as temperaturas, um pouco acima. A união destes fatores causou a baixa da vazão dos rios e dos níveis de reservatórios de água, fazendo com que algumas cidades enfrentassem – e ainda enfrentem - rodízios no abastecimento.

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Um dos principais sistemas afetados pela estiagem foi o Miringuava. De acordo com a Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar), o rio teve queda de 60% na vazão, passando de 1.000 litros por segundo para 400 litros por segundo.

Segundo o meteorologista do Simepar, Reinaldo Kneib, apesar do marco histórico de março, a chuva menor que a média já vem acontecendo desde junho do ano passado, o que contribuiu para o colapso do sistema neste ano. “Tivemos a atuação de bloqueios atmosféricos, e as frentes frias e úmidas que deveriam se deslocar nessa época do ano não chegaram aqui com a frequência necessária”, explica. “Mas não podemos explicar o motivo desses bloqueios terem se formado sem pesquisas científicas mais aprofundadas”, aponta o meteorologista.

Para o especialista em análise ambiental, Guilherme Karam, o sumiço das águas de março pode ter relação com fenômenos de mudanças climáticas. “A tendência é que eventos extremos – de pouquíssima chuva ou grandes enchentes – aconteçam cada vez mais”, afirma. “Não temos como criar chuva, mas podemos aumentar a capacidade de armazenamento natural de água, para que épocas de estiagem não sequem os rios dessa forma”.

O especialista fala sobre o que os pesquisadores da área chamam de “infraestrutura natural”, trabalhando na restauração dos ecossistemas já existentes. Uma solução mais longa, mas também mais barata e duradoura.

Karam coordena um projeto desse tipo que está sendo iniciado em São José dos Pinhais. A tentativa é restaurar justamente a Bacia do Rio Miringuava. O movimento, chamado Viva Água, estima um investimento de R$ 1,5 milhão nos primeiros 18 meses, somando R$ 6 milhões nos próximos 5 anos, valores muito abaixo dos orçados para grandes obras de infraestrutura “convencional”.

Encabeçado pela Fundação Grupo Boticário, o projeto reúne mais de 60 atores da região, entre empresas, poder público, cooperativas, universidades e sociedade civil. Entre as metas, está a recuperação de 650 hectares de áreas estratégicas para a disponibilidade hídrica, a conservação de 1,5 mil hectares de áreas naturais por meio de mecanismos financeiros e o apoio a 30 negócios de impacto por meio do turismo rural e da agricultura sustentável.

“Ninguém é inocente de pensar que produtores vão abrir mão de receita simplesmente em prol da natureza, o que precisamos é incentivar economicamente que isso aconteça”, explica Karam. “Se mostrarmos ao produtor que, preservando, ele pode entrar no mercado de produtos sustentáveis, isso se torna economicamente atrativo. Se o empresário do turismo depende do rio para atrair clientes e gerar empregos, a preservação se torna um interesse daquela comunidade”.

Como a preservação aumenta a captação de água

O princípio é simples e ensinado às crianças em idade escolar: o solo e vegetação que ficam em volta dos leitos também armazenam uma gigantesca quantidade de água. Em tempos mais secos, como os atuais, essa reserva ajudaria no abastecimento do rio, adiando a falta de água.

No entanto, a agricultura mal feita, que degrada a vegetação que fica às margens, além da construção de imóveis e rodovias em locais inadequados acabam eliminando essa vegetação e as áreas de solo permeável, extinguindo essa reserva.

Apesar de o tema constar no currículo da educação básica, a lição não parece ser colocada em prática pelo poder público como política de estado, ficando restrita ao orçamento das empresas como a Sanepar, que atua diretamente com o problema. “O debate sobre soluções ambientais no meio político fica restrito a certos setores. Além disso o gestor público normalmente pensa com a cabeça de 4 anos, e essas soluções costumam levar mais tempo para mostrarem resultados”, pondera Karam.

Infraestrutura convencional

A Sanepar é umas das parceiras do projeto, e já trabalha com a conscientização da população da Bacia do Miringuava, onde constrói uma barreira para aumentar o armazenamento de água. A companhia também planeja construir mais dois centros de reservação na região da capital, além da operacionalização de poços e execução de aproximadamente 30 km de adutoras, que são tubulações de grande porte para o transporte da água entre os locais de distribuição.

Para amenizar a crise, a Sanepar também colocou em funcionamento um equipamento que permite que mais 330 litros por segundo sejam enviados de outras estações para os locais que apresentam falta. No entanto, a medida não acabou com os rodízios, que continuam nos próximos dias.

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