Os familiares do policial penal federal Jorge José da Rocha Guaranho, de 38 anos, contaram à Gazeta do Povo sobre os acontecimentos do fim de semana e a sua versão sobre o caso. Guaranho matou o guarda municipal petista Marcelo Aloizio de Arruda, de 50 anos, que comemorava o aniversário em festa com o tema do PT, em Foz do Iguaçu, na noite do último sábado (9).
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A esposa de Guaranho, que pediu para não ter o nome citado por medo de represálias, conversou com a reportagem e contou que pouco antes de jogar uma pedra no carro, Arruda teria dito: “some daqui seu bolsonarista filho da puta, o que você veio fazer aqui, seu desgraçado? Aqui só tem polícia”. Outras pessoas no local teriam começado a gritar “aqui só tem polícia”.
A advogada Poliana Lemes Cardoso, que junto com Cleverson Ortega assumiu a defesa de Guaranho, em entrevista nesta quarta-feira (13) à RPC disse, textualmente, que Guaranho "se sentiu ameaçado por ter sido jogada muita pedra, perdão, muita terra, contra ele". A natureza do objeto arremessado ainda está sendo investigada pela polícia, segundo consulta feita pela reportagem à Secretaria de Segurança Pública do Estado do Paraná.
Irmão de Jorge, o empresário John Lenon da Rocha Araújo, 40 anos, se deslocou do Rio de Janeiro até Foz do Iguaçu logo após o crime para acompanhar o caso de perto e amparar os familiares. Segundo ele, o estado de Guaranho foi agravado por conta dos chutes desferidos na cabeça dele por três pessoas, no momento em que caiu desfalecido no chão, depois de também ter sido alvo de disparos de arma de fogo.
Araújo diz que a família está abalada com a tragédia e com ataques que tem recebido pelas redes sociais e não tinha a intenção de se pronunciar para que a questão não fosse ainda mais politizada. Entretanto, a divulgação dos vídeos das câmeras de segurança, que registraram os acontecimentos daquela noite, tornaram isto inevitável. Guaranho segue internado em estado grave na UTI do Hospital Ministro Costa Cavalcanti, sob a vigilância da Polícia Militar.
Mais detalhes nas imagens
Araújo destaca que a divulgação das imagens do sistema de videomonitoramento contribui para a constatação de fatos adicionais e diferentes daqueles até então relatados pelos convidados da festa do guarda municipal, como o relato de que Guaranho entrou no salão da festa gritando "Aqui é Bolsonaro” e que ele teria tentado atirar em outras pessoas no local. O irmão do policial penal destaca que os vídeos divulgados, que em uma edição juntando-os cronologicamente mostram como ambos apontaram as armas quase simultaneamente, ainda têm trechos importantes faltando, como a atitude do guarda municipal segundos antes dos tiros e à chegada de Guaranho no local.
Em um vídeo publicado no canal do YouTube Bosco Foz, o jornalista independente e morador da cidade João Bosco fez uma análise das imagens do exterior e interior do local, frame por segundo. Segundo ele, o policial penal Guaranho teria sacado a arma após constatar que o guarda municipal Arruda já estaria com a pistola em punho.
“A situação está confusa, porque a gente não estava lá, a esposa do meu irmão só estava na primeira situação. Então só tínhamos os depoimentos dos convidados do aniversariante, que na delegacia disseram que meu irmão estava em cima do Marcelo atirando. Após as imagens ficou bem claro que não aconteceu isso”, diz.
As testemunhas também relataram na delegacia que Guaranho teria tentado executar Arruda quando este caiu no chão. Araújo rebate que a família não acredita que Guaranho teria intenção de assassinar Arruda, mas que ele iria dar voz de prisão a ele por desacato. Ele destaca também que o irmão deu dois tiros no guarda municipal, um na perna e outro na região do tórax (o terceiro teria sido um disparo acidental após a mulher de Arruda, a policial civil Pâmela da Silva, ter interferido), e que em momento algum mirou outras pessoas ou procurou acertar pontos vitais de Arruda, que por sua vez desferiu cerca de oito tiros em direção ao policial penal.
De acordo com Araújo, o irmão dele é um dos diretores da Aresf (Associação Recreativa e Esportiva da Segurança Física), local em que a festa era realizada, e que este foi o motivo para que ele fosse até o local. A informação foi confirmada pela delegada Iane Cardoso em entrevista coletiva concedida no domingo (10). De acordo com Araújo, por causa de furtos registrados no local, os integrantes da diretoria se revezam em “rondas” para verificar se tudo corria bem nas instalações.
“Meu irmão saiu de uma festa com a esposa e filho de dois meses e, como passou em frente à Associação, foi dar uma olhada, pois era sua escala de fazer a ronda. Nisso eles ouviram que ele estava com o som ligado com uma música do Bolsonaro, porque era fim de festa também, por isso o Marcelo saiu para tirar satisfação”, diz.
João Bosco esteve nesta terça-feira (12) nas dependências da Aresf e verificou que o local em que nas imagens Arruda aparece se abaixando para pegar um objeto, de onde arremessou contra o automóvel de Jorge, é um canteiro de flores e temperos.
Atmosfera de ameaças
O irmão do policial penal diz que também teriam tirado fotografias da placa do carro de Guaranho. Como Arruda era guarda municipal, poderia ter acesso ao endereço residencial. Para o irmão do autor do homicídio, este seria o motivo para que voltasse ao local minutos depois para tirar satisfações, por desacato, e não por motivação política.
“Convivo com meu irmão há mais de vinte anos, somos muito próximos. Eu nunca imaginaria na minha vida que ele faria alguma coisa parecida. Meu irmão é pai de primeira viagem, tem um filhinho de menos de dois meses. A única explicação para o meu irmão ter tomado essa atitude era a pedra ter atingido meu sobrinho, e isso aparece nas imagens que estão com a polícia”, diz.
Para Araújo, houve precipitação das pessoas que chamaram o irmão dele de "fanático" por causa de publicações feitas nas redes sociais a favor do presidente da República Jair Bolsonaro, que seriam apenas poucas em muito tempo. Segundo ele, o policial penal não teria participado de manifestações em favor do presidente, embora fosse apoiador dele.
Araújo compartilha que a família está com grande expectativa para que Guaranho acorde e possa contar sobre os acontecimentos daquela noite. Para ele, a politização deste caso tem atrapalhado o andamento das investigações.
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