Segundo maior produtor de leite do país, o Paraná tem pretensões de impulsionar a fabricação de lácteos. Uma peça crucial nesse planejamento é a construção daquela que pretende ser a maior fábrica de queijos do Brasil. Empreendimento da empresa goiana Piracanjuba, a nova sede está prevista para a cidade de São Jorge D'Oeste. Mas não para por aí. As cooperativas também auxiliam na manutenção dos pequenos produtores e na industrialização dos produtos. Uma grande contribuição da fabricação de queijos vem da agricultura familiar, distribuindo os produtos para empórios em todo o estado, fomentando o agroturismo e ganhando forte relevância nas premiações de queijo.
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O setor lácteo movimenta mais de 50 mil produtores no Paraná, que mantém uma produção diária de 12 milhões de litros de leite, dos quais 5 milhões são destinados à fabricação de queijos. O leite é o quarto produto agropecuário do Paraná em Valor Bruto de Produção (VBP), movimentando R$ 9 bilhões ao ano, de acordo com informações do governo estadual.
As regiões dos Campos Gerais e Sudoeste paranaenses, que são os maiores produtores de leite do Paraná, também produzem queijos. Com foco na agricultura familiar, a maior concentração desses agricultores está no Sudoeste. O presidente da comissão técnica de pecuária de leite do Sistema Faep, Ronei Volpi, aponta que os produtores paranaenses têm relevância na fabricação de queijo muçarela.
Segundo ele, a produção leiteira paranaense contribui para a fabricação de queijo. Porém, há mais fatores que facilitam a expansão do negócio. “A questão fundiária. Grande parte do Paraná é de pequenos e médios produtores, ou seja, a família está envolvida. O clima também é favorável. Além da origem dos produtores, quase todos são de origem europeia”, enumera.
Para Volpi, a organização é outro diferencial. “A organização que existe no estado, através dos sindicatos, SENAR-PR (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural - Paraná) e Sebrae. Há uma infraestrutura de apoio a produção, muito melhor que a média do país e isso contribui para que o Paraná se destaque”, ressalta.
Cooperativas auxiliam na sustentabilidade e apoio aos pequenos produtores de queijo
O presidente da comissão técnica de pecuária de leite do Sistema Faep evidencia o espaço ocupado por cooperativas com grande produção de queijo, como Frimesa e Witmarsum. “A metade da produção de leite vem de produtores que são cooperados. As cooperativas têm um papel relevante na sustentabilidade e no apoio aos pequenos produtores, e ajudam a permanecer na atividade”, diz.
A Frimesa se destaca pela experiência consolidada há 43 anos e com mais de 20 tipos de queijo em seu portfólio. Recentemente, ganhou o prêmio de Queijo do Paraná com o parmesão. Também, conquistou medalhas de ouro com muçarela - peça e minas frescal.
Do volume total de leite recebido pela Frimesa, 42% é destinado para a produção de queijos. Em 2022, a fabricação do produto alcançou 10.607 quilos. O preço médio de venda dos produtos lácteos, no geral, cresceu 30% de 2022 para 2021.
Neste ano, a projeção é aumentar 45% sobre o volume anterior. Para alcançar o objetivo, a modernização é palavra-chave. “Modernizaremos o processo de coagulação em nossa indústria de muçarela, atualizaremos os sistemas de embalagens dos queijos fracionados e, principalmente, na aquisição do equipamento de paletagem do queijo coalho, inovador no meio laticinista”, conta o presidente-executivo, Elias José Zydek.
O gerente da área leite, Erivelto Costa, destaca que a produção de queijos é um trabalho de anos e que vem gerando frutos. “O Paraná tem esse DNA de produzir leite e queijo há muito tempo, devido aos diversos imigrantes que colonizaram nosso estado: holandeses, italianos, alemães. O queijo estava sempre presente na dieta destes povos. Com a evolução das produções de leite, veio a necessidade de comercialização e os queijos são um meio de conservação e, principalmente ,agregação de valor da cadeia leiteira”, afirma. “Aos poucos, o Paraná está se tornando um dos maiores produtores de queijo do país”, acredita Costa.
Como o Paraná é o segundo maior produtor de leite do país, o queijo é uma das melhores opções dessa cadeia, por conta da variedade de tipos e agregação de valor. “A Frimesa vê essa oportunidade em produzir queijos usando seus processos e mantendo a tradição de cada um desses queijos, diversificando produtos em seu portfólio e oferecendo aos nossos consumidores produtos que são referência em concursos nacionais e internacionais”, ressalta.
Agricultura familiar produz queijos premiados no Paraná
Para confirmar a qualidade nos produtos, o Paraná tem conquistado espaço em premiações nacionais e mundiais. No 2º Prêmio Mundial de Queijos, em 2022, os produtores paranaenses conseguiram 34 medalhas. Foram 1,2 mil queijos, de 11 países, que participaram da disputa.
Na competição nacional, 60 queijos artesanais do Paraná foram contemplados no 6º Prêmio Queijo Brasil, neste ano. Desta premiação, dos 19 associados da Associação dos Produtores de Queijo Artesanal do Sudoeste do Paraná (Aprosud), 15 tipos foram premiados.
A vice-presidente da Aprosud, Roseli Piekas Capra, conta que essas premiações impulsionam a visibilidade do negócio. “Teve várias premiações que alavancaram [os negócios] e ajudam na divulgação dessas queijarias”, diz. A família de Roseli atua na produção de queijo há 40 anos - os últimos 16 com a participação dela.
Produtora de queijo em Francisco Beltrão, o foco da queijaria dela, assim como a maioria na região, é o queijo colonial, que virou marca registrada. “Temos a marca coletiva e é registrada. Estamos em processo de indicação geográfica desse queijo”, relata.
Com a presença forte da agricultura familiar, as produções são com cerca de 500 litros/dia. O associado com maior produção trabalha com 2 mil litros/dia. Segundo Roseli, as queijarias começaram vendendo para o município. Agora, a maioria dos associados tem a certificação do Sistema Unificado Estadual de Sanidade Agroindustrial Familiar, Artesanal e de Pequeno Porte (Susaf), conseguindo ampliar a distribuição para todo o estado.
A produtora diz que os produtos de sua queijaria são distribuídos em Curitiba, Cascavel e Maringá. “Com o Susaf, a maioria dos nossos associados conseguem comercializar no Paraná todo e isso agregou muito”, destaca.
"É uma importante oportunidade de divulgação dos queijos, reconhecidos pela qualidade e sabores das queijarias. Fomenta a produção de queijos, trazendo mais renda, desenvolvimento e qualidade de vida aos produtores", confirma o presidente da Aprosud, Claudemir Roos.
Produção de queijo no Paraná fortalece o agroturismo
A produção de queijos no Paraná também impacta no agroturismo. A Rota do Queijo começou em dezembro de 2021, com o intuito que os produtores fossem mais conhecidos. A coordenadora estadual do turismo rural do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-Paraná), Terezinha Freire, conta que a Rota do Queijo conecta produtos, pois o queijo tem um apelo interessante para o turismo.
“O queijo vem nessa missão de conexão com o estado. Começamos a conversar com as queijarias e vimos que tinham muitas interessadas. E daí começamos a organizar a Rota do Queijo paranaense”, destaca.
Até então, grande parcela dos produtores não investia em turismo nas propriedades. Com o tempo, começaram a enxergar como uma oportunidade. Hoje, há 33 queijarias cadastradas para a Rota do Queijo em todo o Paraná. No primeiro ano, em torno de 2 mil pessoas desfrutaram dos produtos.
“Estamos trabalhando para consolidar como um roteiro de turismo forte. Não tem a pretensão de quantidade, mas que as queijarias estejam especializadas e os consumidores, além de buscar o queijo, possa viver uma experiencia turística, ver o dia a dia da produção”, evidencia Freire.
De acordo com a coordenadora estadual do turismo rural do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-Paraná), o agroturismo dá visibilidade e valor ao produto. “O Paraná está sendo visto com uma qualidade altíssima. Estamos mostrando para os turistas onde estão as propriedades com vista turística. É um processo e esperamos [fortalecer] em um curto espaço de tempo, mas é gradativo”, comenta. “Os prêmios vêm para consolidar e gera curiosidade nos turistas, promovendo essa experiência”, acrescenta Freire.
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