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Vista da represa do Iraí, em Piraquara, no dia 19 de maio de 2020.
Vista da represa do Iraí, em Piraquara, no dia 19 de maio de 2020.| Foto: Lineu Filho / Tribuna do Paraná

Junho começou com chuva, um alento para os paranaenses, que enfrentam uma estiagem histórica. Mas, se prejudicou lavouras e o abastecimento de água das grandes cidades, o tempo seco dos últimos meses pode ter colaborado para a contenção da velocidade de contaminação do coronavírus no estado. Estudo publicado na revista Science of The Total Enviroment aponta que, no Brasil, o vírus tem encontrado mais facilidade para se propagar quando a umidade relativa do ar é alta, próxima a 79%, e constante. O secretário estadual de saúde, Beto Preto, faz coro, dizendo que os paranaenses não podem se entusiasmar com os números relativamente baixos (comparados com os de outros estados) da Covid-19 no Paraná, porque o número de casos está crescendo e o clima pode influenciar.

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“Estamos entrando em uma zona de alerta maior. Estamos em uma grande estiagem. No momento que começar a chover e a temperatura baixar, deveremos ver uma maior disseminação do vírus no Paraná”, avalia o secretário Beto Preto. “Estamos levando em conta um fator que poucas pessoas têm percebido: estamos na maior estiagem do Paraná, a ponto de faltar água nas torneiras, e a umidade é um dos fatores de propagação do vírus. Basta ver a situação do Amazonas e do Pará, onde as temperaturas são altas e há um número grande de casos. Isso tem relação direta com a umidade do ar. Todas as tardes chove lá e isso ajuda a propagar o vírus”, prossegue, prevendo uma “combinação explosiva que pode contribuir para a disseminação do vírus no Paraná: a volta das chuvas e a diminuição das temperaturas.

Conduzido pelos professores André Auler, do Departamento de Solos e Engenharia Agrícola da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Vinício Oliveira, da Câmara de Saúde Coletiva do Setor Litoral da UFPR, Fábio Cássaro e Luiz Pires, ambos do Departamento de Física da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), o estudo publicado pela Science of The Total Enviroment analisou a influência da umidade e da temperatura na propagação do coronavírus em cinco capitais brasileiras: São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Manaus e Fortaleza, as capitais com maior número de casos até abril, para uma primeira avaliação local dos fatores meteorológicos, uma vez que os estudos europeus indicavam que o vírus tinha melhor propagação em baixas temperaturas e umidade, o que não se confirmou no Brasil, com estados do Norte e Nordeste apresentando um elevado número de casos.

“A conclusão de que o aumento da temperatura inibiria a ação do vírus é válida para os países europeus, pois lá eles têm temperaturas médicas de 3°C, com a temperatura variando de -30° a 18°C. Quando você está numa situação de temperatura negativa e ela se eleva para 8° ou 10° é esperada uma melhor resposta imunológica das pessoas. Mas isso não se repete no Brasil, onde há regiões com temperaturas médias de 27°”, analisa André Auler.

Umidade constante

Sobre a influência da umidade, o pesquisador destaca que o estudo indicou que “quando se tem uma precipitação constante, a umidade relativa do ar é maior e, quando se tem uma umidade relativa constante próximo a 79%, temos as melhores condições para disseminação do vírus”. Ele ressalva que é necessário haver constância. “Não adianta chover 100 milímetros em um dia e ficar seco o restante do mês. Não é uma média, precisa ser uma constância. Em abril, Amazonas teve média de 10 mm por dia, distribuídos. Aqui no Paraná, choveu 15 mm o mês inteiro”.

O pesquisador lembra que o estudo não incluiu Paraná ou Curitiba, que registravam poucos casos no mês pesquisado (abril), e que extrapolar os resultados para projetar um cenário local seria prematuro. Ele conta que uma nova fase da pesquisa abrangerá mais cidades, inclusive as do Sul. “Queremos analisar Curitiba e analisar, também, a região noroeste do estado, onde é mais quente e choveu mais e pode ter seguido a tendência do nosso estudo. Mas a preocupação do secretário de Saúde faz sentido, é uma das explicações mais plausíveis, pelo que nossos resultados demonstram”, diz, destacando, ainda, que os fatores meteorológicos são apenas uma das condições que podem facilitar ou dificultar a propagação do vírus, e que a densidade demográfica e a aglomeração de pessoas são os maiores riscos. “São Paulo e Rio de Janeiro são as capitais com mais casos e não apresentaram as condições climáticas favoráveis no nosso estudo”, ressalta.

A Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba disse não trabalhar com o quesito umidade relativa do ar em suas avaliações sobre a situação do coronavírus na cidade, mas o prefeito Rafael Greca (DEM), em vídeo publicado no dia 22 de maio, citou o clima como um dos fatores que ajudaram Curitiba a manter seus índices baixos. “"Quero fazer um apelo, de coração. Mesmo indo ao culto divino, mantenham nove metros de distância entre si, um metro e meio de distância entre cada pessoa, todos usando máscara e ninguém se aproximando. Todos se protejam, porque esse vírus mata. E o fato de estarmos bem, porque o tempo está seco, não temos umidade, isso pode mudar se não persistirmos em ser a mais inteligente cidade do Brasil", declarou Greca, ao anunciar a flexibilização de medidas de isolamento.

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