Justiça Federal do Paraná, em Curitiba.| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

Três ex-executivos da empreiteira Odebrecht confirmaram durante interrogatório à Justiça Federal o pagamento de R$ 4 milhões para o caixa 2 da campanha de reeleição de Beto Richa (PSDB) ao governo do Paraná, no ano de 2014. Os interrogatórios foram realizados nesta terça-feira (7), no âmbito de uma ação penal em trâmite na 23ª Vara Criminal de Curitiba e ligada à Operação Piloto. Todas as pessoas ouvidas nesta terça-feira - cinco dos dez réus do processo – são colaboradores da investigação. Outros interrogatórios acontecerão nesta quarta-feira (8).

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O presidente da Construtora Norberto Odebrecht em 2014, Benedicto Barbosa da Silva Júnior, conhecido como “BJ”, confirmou que aprovou uma doação eleitoral via caixa 2 para Beto Richa, atendendo a um pedido do engenheiro civil Luiz Antônio Bueno Júnior, então diretor-superintendente da construtora das regiões São Paulo-Sul.


Presidente da Construtora Norberto Odebrecht em 2014, Benedicto Barbosa da Silva Júnior, prestou depoimento. Foto: Jonathan Campos/ Gazeta do Povo
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Luiz Bueno foi quem, naquele ano, teve contato com Deonilson Roldo, então chefe de gabinete de Beto Richa, por conta do interesse da Odebrecht na Parceria Público-Privada (PPP) proposta pelo governo do Paraná para duplicação da PR-323. No seu depoimento desta terça-feira (7), Luiz Bueno confessou que perguntou a “Deo” sobre possíveis concorrentes na licitação da PPP e que, ao saber por ele sobre o interesse da empresa Contern, tentou convencê-la a não oferecer proposta, em troca de uma participação de 10% nas cotas da Odebrecht na obra do Paraná. Bueno Júnior também conta que, ao final de uma conversa com Deo sobre a PPP, ouviu do então chefe de gabinete de Richa que a campanha de reeleição “contava com o apoio” da Odebrecht.

Outro ex-executivo da Odebrecht, o engenheiro civil Luciano Ribeiro Pizzato, seguiu a mesma linha e explicou como o “apoio para a campanha eleitoral” teria sido concretizado. Em 2014, Pizzato estava como diretor de contratos da Odebrecht em Curitiba. Ele revelou durante seu interrogatório que estava presente nas reuniões entre Deo e Luiz Bueno e que, tempos depois, foi procurado por Jorge Atherino, que se apresentava como “interlocutor na captação de recursos para a campanha eleitoral”.

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Pizzatto relata que, em reunião com Luiz Bueno, Deo aceitou agir para beneficiar a Odebrecht na licitação. “Agendei uma reunião em janeiro de 2014 a pedido do Luiz Bueno [que atuava em São Paulo] com o Deonilson Roldo. Ele externou a Deo que a Odebrecht tinha investido grandes recursos nos estudos e tinha interesse na conquista do projeto e perguntou a Deo se ele poderia apoiar e interagir com possíveis interessados para que não ofertassem proposta na licitação. Deo não esboçou reação no momento. Disse que iria avaliar. Em fevereiro de 2014 houve uma segunda reunião, bastante curta, no gabinete do Deo, e ele disse que atenderia a solicitação do Luiz Bueno. E, no final, Deo comentou se poderia contar com a Odebrecht na campanha do Beto Richa”, descreveu ele.

Tempos depois, outro aliado de Beto Richa, Jorge Atherino, entra em contato com Pizzato. “Em junho de 2014, eu fui procurado por Jorge Atherino no escritório da Odebrecht e ele foi me questionar se a companhia contribuiria para a campanha de Beto Richa conforme sinalizado pelo Luiz Bueno ao Deonilson Roldo lá em fevereiro de 2014. Eu disse que não era o meu papel e que levaria isso ao conhecimento do meu superior. Falei com o Luiz Bueno e ele disse que iria conversar com o BJ. Conversou com BJ e ele disse que o valor seria de R$ 4 milhões, mas em caixa 2. Pediu que eu levasse isso a Atherino, para saber se eles estariam de acordo com a forma de contribuição. Procurei Atherino e pedi para ele verificar junto ao partido. Depois, estivemos juntos novamente e ele disse que o partido tinha dado o “ok”. Pedi para o Atherino um endereço em São Paulo e foram feitos os R$ 4 milhões de repasses [em cinco vezes]. Toda entrega ele me confirmava se tinha dado certo”, continuou Pizzato, nesta terça-feira (7).

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Tanto Jorge Atherino quanto Deonilson Roldo são réus no processo e devem ser interrogados nesta quarta-feira (8). Embora seja investigado no caso, Beto Richa ainda não foi denunciado pelo MPF no caso. Os três rejeitam as narrativas do MPF.

Nos interrogatórios desta terça-feira, Benedicto Barbosa da Silva Júnior informou que não conhecia Jorge Atherino, nem Deonilson Roldo. Em 2014, como presidente da Construtora Norberto Odebrecht, ele atuava no Rio de Janeiro. Já Luiz Bueno, que naquele ano trabalhava em São Paulo, relatou as conversas com Deo, mas disse que não conheceu Atherino. Apenas Luciano Pizzato, cujo escritório na época ficava em Curitiba, admitiu conversas com ambos, Deo e Atherino.

A Gazeta do Povo ainda não conseguiu contato com a empresa Contern.