A tensão vivida no Oriente Médio e a escala do conflito entre o Hamas e o Exército de Israel podem trazer prejuízos à economia paranaense, caso outros países considerados importantes parceiros comerciais entrem na guerra, principalmente se manifestarem apoio aos extremistas palestinos.
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Na avaliação do economista e especialista de mercado Rui São Pedro, se importantes compradores do agro paranaense no Oriente Médio, como Irã e Arábia Saudita, passarem a apoiar abertamente o Hamas e entrarem na disputa, as retaliações e sanções econômicas impostas pelos aliados de Israel podem ter impacto no mercado brasileiro.
Considerado terrorista pelos Estados Unidos e pela União Europeia, mas não pelo Brasil, o grupo armado orquestrou um atentado terrorista e atacou de surpresa Israel no último sábado (7). No domingo (8), o governo israelense declarou estado de guerra contra os radicais e desde então mais de 1,8 mil pessoas morreram com aumento da tensão em toda a Faixa de Gaza.
Nas transações comerciais, as relações do Paraná com países do Oriente Médio renderam, somente de janeiro a setembro deste ano, US$ 1,672 bilhão, cerca de 7% dos US$ 22 bilhões exportados pelo estado no mesmo período.
Quase dois terços desse volume são de carnes comercializadas como alimentos do complexo avícola. Para atender esse mercado, as maiores plantas comerciais do estado, que ficam nas regiões Oeste e Sudoeste, recebem missões frequentes dos países islâmicos, adequaram seus frigoríficos com plantas voltadas para Meca e adotam exigências como o método halal. Somente abatedouros supervisionados por muçulmanos podem adotar o sistema que consiste no abate dos animais com um corte por lâmina no pescoço de modo que não provoque dor ou sofrimento ao animal.
Entre os países do bloco que mais adquirem produtos paranaenses estão os Emirados Árabes Unidos, 11º no ranking comercial, que nos nove meses de 2023 comprou US$ 311,3 milhões. Já a Arábia Saudita, que apoia a criação do Estado Palestino mas que se aproximou de Israel nos últimos anos, adquiriu outros US$ 383 milhões em produtos paranaenses, dos quais US$ 234,7 milhões somente em proteína animal.
No mesmo período, o Irã, 20º maior parceiro comercial, importou US$ 289 milhões de produtos do Paraná e é um dos que países com maior variedade de aquisições nas relações com estado. Neste ano, o país destinou US$ 142,8 milhões à compra de milho em grãos. “O Irã, que é um apoiador declarado do regime do Hamas, comprou outros produtos paranaenses, como US$ 67 milhões destinados ao açúcar e outros US$ 67 milhões em farelo de soja”, ressalta o consultor de mercado, Marcelo Dias.
Logo após os ataques de sábado passado, o Irã, adversário histórico de Israel, declarou apoio ao Hamas e chamou os atentados de “legítima defesa da nação palestina”. Em resposta, Israel tem acusado abertamente o país de ser um dos principais financiadores do grupo extremista.
“Se o conflito envolver outros países que possam apoiar o Hamas e isso se tornar uma condição diplomática, pode afetar as nossas comercializações para esses países e a economia. Por isso, acredito que o governo brasileiro precise ter um plano B, pois o Oriente Médio é um importante parceiro comercial do Paraná e do país”, analisa o economista Rui São Pedro.
O Iraque, outro comprador paranaense, adquiriu neste ano, de janeiro a setembro, US$ 110 milhões em carnes, mais uma vez, com destaque às proteínas do complexo frango, a exemplo do Iêmen que importou US$ 88,3 milhões em proteínas embarcadas pelo Paraná.
Ao Catar, que aparece no contexto como uma espécie de mediador do conflito, o Paraná vendeu de janeiro a setembro deste ano US$ 58,8 milhões, fechando o círculo dos principais compradores no bloco do Oriente Médio.
Paraná importou US$ 427,7 milhões neste ano do Oriente Médio
Deduzindo as importações das exportações, o Paraná tem saldo positivo na balança comercial com o Oriente Médio. Neste ano, de janeiro a setembro, o estado adquiriu US$ 427,7 milhões em produtos do bloco, com destaque para os adubos e fertilizantes (US$ 227,3 milhões). No cenário nacional, figura entre os produtos mais importados o petróleo, já que a região é a maior produtora do mundo.
Para Rui São Pedro, um dos efeitos imediatos da crise provocada pelo conflito na Faixa de Gaza pode ser um novo aumento no preço dos combustíveis e um efeito cascata em produtos que dependem do transporte rodoviário. “Por outro lado, os fertilizantes que nos são vendidos pela região podem ser supridos em outros mercados. Não é como a nossa dependência de fertilizantes da Ucrânia, por exemplo. Então, se o conflito se mantiver de forma doméstica, acredito que os efeitos econômicos para o Brasil e para o Paraná não serão expressivos”, avalia.
Neste contexto de guerra, o economista lembra que não se considera questões macroeconômicas envolvendo a China, principal e mais importante parceira comercial do Brasil e do Paraná que disse condenar os ataques mas sem se referir se o de Israel ou do Hamas. A Rússia, que apoia o grupo extremista, chegou a afirmar nesta semana que “teme a entrada de terceiros no conflito”, ao se referir à aproximação de navios de guerra dos Estados Unidos em Israel.
Mas e o mercado brasileiro e paranaense com Israel?
Coordenadora de Economia e Mercado ligada à Gerência Técnica e Econômica da Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar), Carolina Bianca Teodoro, lembra que a balança comercial Brasil e Israel é deficitária há 20 anos, ou seja, mais focada da importação de produtos do que na exportação. "Em 2022, Israel foi nosso 35º destino de exportações e 28º de importações. Destaca-se na pauta importadora, que em 2022 foi de US$ 2,1 bilhões, os fertilizantes e adubo (54%) e inseticidas (14%)”, informa.
Na avaliação das exportações, que em 2022 somaram US$ 1,88 bilhão, depois de petróleo (57%), o produto mais relevante vendido para Israel foi a carne bovina (13%), que apresentou crescimento médio anual nos últimos cinco anos de 156,8% na exportação, resultante do Acordo de Livre Comércio Mercosul/Israel firmado no ano de 2010. “Hoje, esse é o produto que o Paraná mais exporta para Israel”, comenta a coordenadora, que aponta para a tendência diferenciada do mercado israelense para os países vizinhos, que consomem mais a carne de frango paranaense.
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