A exportação brasileira de milho registrou recorde em janeiro. Foram exportadas 6,35 milhões de toneladas, de acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex). O número é mais que o dobro do que foi exportado em janeiro de 2022, que ficou em 2,73 milhões de toneladas. É também um recorde para o primeiro mês do ano. Até então, o volume máximo embarcado para o exterior no primeiro mês do ano foi de 4,4 milhões de toneladas em 2016.
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No Porto de Paranaguá, no Paraná, uma das principais saídas do milho brasileiro com destino ao exterior, os embarques do grão chegavam a 569 mil toneladas, até o dia 29 de janeiro. O volume é 161% superior que as 218.358 toneladas exportadas pelos terminais paranaenses durante os 31 dias do mesmo mês de 2022.
“O que estamos percebendo, pelos grandes volumes registrados nos embarques aqui pelo Porto de Paranaguá, é que essa movimentação vem se intensificando desde o ano passado”, diz o diretor-presidente da Portos do Paraná, Luiz Fernando Garcia. Segundo ele, pela lista dos navios que chegarão para carregar milho pelo Paraná, a tendência é que o movimento continue assim ao longo de fevereiro.
Para o analista da consultoria Safras & Mercado, Paulo Molinari, embora não seja correto comparar os números atuais com a safra 2021/2022, que teve quebra e, por conta disso, a exportação do milho foi fraca, está havendo, de fato, um embarque forte e recorde.
Ucrânia e China impactam vendas do Brasil
“A elevação dos embarques se deve às dificuldades da Ucrânia em exportar devido à guerra, à forte quebra de safra da Europa em 2022, o esgotamento da oferta na Argentina, o baixo estoque nos Estados Unidos e alguma compra da China no Brasil”, explica Molinari.
Ele esclarece que a China não é um comprador tradicional de milho brasileiro, mas com o acordo sanitário firmado entre os dois países em agosto do último ano, ficou mais fácil para o Brasil exportar milho para o país asiático.
A China é a maior compradora de milho do mundo e flexibilizou as exigências sanitárias em relação ao Brasil para reduzir a dependência dos Estados Unidos na importação do produto.
Apesar da entrada da China comprando o milho do Brasil, que foi a novidade do mercado no fim de 2022, os principais destinos internacionais do milho produzido pelos brasileiros continuam sendo Europa, Irã, Vietnã, Egito e Colômbia. Para Molinari, as perspectivas de futuro para o mercado de exportação do milho vão depender das safras dos EUA, Europa e Ucrânia durante este ano. “Com boas safras nestas localidades, a demanda pelo milho brasileiro tende a se acomodar no segundo semestre”, acredita.
Risco de desabastecimento para suínos e aves?
Especificamente no Paraná, importante produtor de carnes suína e de frango, o aumento da destinação do milho para o mercado externo pode ser um sinal de alerta. O milho é a principal alimentação dessas criações. “O Paraná não é um grande exportador de milho exatamente porque tem a cadeia da carne e boa parte de sua produção é destinada ao consumo interno para a alimentação de aves e suínos”, explica Edmar Gervásio, analista do Departamento de Economia Rural da Secretaria de Estado da Agricultura (Deral).
Segundo ele, os aumentos nos embarques devem ser provenientes, principalmente, do milho produzido no Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás. São estados grandes produtores e focados na exportação do milho, que sai por vários portos brasileiros, inclusive por Paranaguá.
“O Paraná exporta carne, o que é muito melhor”, destaca o analista, fazendo referência ao uso do milho para a transformação em proteína animal, produto de maior valor agregado. Segundo Gervásio, o Paraná exporta normalmente apenas 10% de sua produção de milho, que é o excedente. Por isso, ele não vê risco de desabastecimento do grão para a avicultura e suinocultura.
Já Paulo Molinari, da Safras & Mercado, acha que o risco existe. “No primeiro semestre há, sim, este risco regional até a entrada da safrinha”, alerta. “Infelizmente, os consumidores internos de milho não são proativos, ignoram estatísticas, não competem com os exportadores e isto, mais à frente, acaba custando caro, ou seja, há alta de preços ou a escassez de oferta”, contextualiza.
Opção por exportar carne
A exemplo do Deral, a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) não vê motivos para faltar milho. “A exportação está aumentando, mas a produção também está. Enquanto a exportação do milho deve crescer cerca de 8%, chegando a 45 milhões de toneladas, a produção deve crescer 10%, totalizando 126 milhões de toneladas”, observa Luis Rua, diretor de mercados da entidade. “A suinocultura e a avicultura consomem entre 60 e 65 milhões de toneladas de milho e devem ter seu suprimento garantido”, acredita.
Para o diretor da ABPA, melhor que exportar milho é destinar o grão para a alimentação animal e exportar carne. "Se esse milho destinado à alimentação animal fosse direcionado ao mercado externo, a gente conseguiria uma receita cambial de US$ 3 bilhões. Agregando valor e transformando o milho em carne, a receita sobe para US$ 12 bilhões”, compara.
Mesmo acreditando que não faltará milho, Rua informa que a ABPA está atenta ao mercado e tem reiterado ao governo federal a necessidade da segurança alimentar em caso de eventualidade. “Uma solução, se faltar milho, o que é um risco muito baixo, seria reduzir a tarifa de importação para que possamos importar dos Estados Unidos”, defende.
Atraso na colheita da soja traz risco ao plantio do milho
Um agravante para a disponibilidade de milho para a avicultura e suinocultura é a dificuldade que produtores do oeste do Paraná estão tendo para plantar a nova safra (conhecida por safrinha). As condições climáticas interferiram no desenvolvimento da soja e atrasaram a colheita da oleaginosa. Ocorre que essas mesmas áreas são destinadas ao milho da segunda safra (safrinha) e a janela de cultivo está se fechando.
O oeste paranaense produz quase um terço de toda produção estadual (4,9 milhões de um total de 15,4 milhões de toneladas), respondendo por quase 5% da produção nacional no ciclo.
Neste período, em anos anteriores, em torno de 30% das lavouras de soja já haviam sido colhidas no oeste do Paraná. Neste momento, são apenas 3% colhidas. A região tem um milhão de hectares com a oleaginosa e quase 80% desta área devem, ou deveriam, ser ocupados pelo milho.
O motivo do atraso, tanto no período de desenvolvimento quanto para o avanço da colheita é o fator climático: durante a germinação, floração e frutificação, houve períodos de chuva em excesso, temperaturas baixas e, nas últimas semanas, excesso de umidade que trava a colheita.
“É preocupante. Tivemos setembro e outubro fora do normal, com muita chuva e bastante frio, o que prejudicou o melhor desenvolvimento, a melhor época. A colheita está atrasada, sim, e isso pode impactar na semeadura de milho. Já tem gente procurando alternativas”, alerta o secretário de Estado da Agricultura e Abastecimento, Norberto Ortigara.
O secretário esclarece que “tudo ainda está no campo das possibilidades”. E acrescenta: “ talvez tenhamos que fugir da melhor janela [época de plantio]. Isso afeta crédito, expõe mais ao risco, mas é um risco que muitos vão correr porque a gente pode perder um pouco desse melhor momento do plantio”, explica Ortigara.
Em todo o oeste paranaense, o zoneamento agrícola para o milho se encerra no fim de fevereiro. Quem não plantar dentro do calendário fica descoberto, por exemplo, pelo seguro agrícola. A safra é considerada de alto risco, pois se desenvolve durante o outono/inverno.
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