Pesquisadores do Hospital Evangélico Mackenzie, em Curitiba, pretendem iniciar em 2022 testes em humanos de um novo curativo feito à base de celulose extraída de árvores de pinus. O objetivo é de que a membrana seja usada em qualquer tipo de ferimento, mas em especial queimaduras, tratamento no qual o hospital é referência nacional.
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Comparado com a celulose bacteriana, um dos curativos mais comuns para queimaduras, a membrana desenvolvida pela unidade Florestas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) em Colombo, na região metropolitana de Curitiba, e testada pelo Evangélico Mackenzie, é mais barata e mais fácil de ser produzida. Além disso, no aspecto clínico, o novo curativo exigiria menos trocas e reduziria risco de infecções.
A médica veterinária Maria Angélica Baron, que há quatro anos coordena a pesquisa no Evangélico Mackenzie, explica que os testes tiveram resultados positivos em animais e agora o grupo aguarda autorização para iniciar testes em humanos. A expectativa é de que a membrana seja utilizada em queimaduras de segundo grau profundas e de terceiro grau. “Estamos na fase burocrática, de aguardar autorizações para realização dos três testes em humanos exigidos para que a membrana possa ser usada em hospitais”, explica a pesquisadora.
Os curativos substituem momentaneamente a pele no caso de queimaduras, protegendo o organismo até que o tecido cutâneo se recupere. No caso da membrana de pinus, a vantagem é que o curativo é poroso, o que permite a saída de secreções do ferimento, evitando infecções.
Também por ser porosa, a membrana é transparente, o que permite ao médico avaliar o estado do ferimento sem precisar retirar a membrana, o que não é possível nos curativos existentes hoje, que vão desde gazes com aplicação de vaselina, a celulose bacteriana até enxertos da própria pele humana e tratamentos alternativos testados recentemente, como a pele do peixe tilápia.
“Em uma queimadura com 20 dias de evolução, seriam apenas duas ou três trocas do curativo com essa membrana. Já nos curativos de gaze e vaselina, por exemplo, a troca é diária, o que causa dor ao paciente”, compara a pesquisadora. “A vantagem dessa membrana é ao mesmo tempo reduzir custos para os hospitais e também gerar menos sofrimento aos pacientes, já que a troca de curativos dói muito e muitas vezes precisam ser frequentes”, completa Maria Angélica.
Mais barato
O engenheiro químico Washington Magalhães, que coordena as cinco pesquisas sobre a celulose de pinus na Embrapa Florestas e que levou a membrana para ser testada no Evangélico Mackenzie, considera que o curativo poderá se transformar em uma alternativa muito mais barata tanto para o Sistema Único de Saúde (SUS) quanto para hospitais particulares.
Isso porque o custo de produção é relativamente baixo e a matéria-prima, a polpa de celulose de pinus, não é só abundante, como já é produzida pela indústria nacional, como na produção de papel.
A produção da membrana de pinus exige menos etapas laboratoriais e menos insumos em comparação ao curativo de celulose bacteriana. Para se cultivar bactérias na produção de celulose, é preciso utilizar diversos insumos químicos para manter a colônia alimentada, o que encarece o custo. Já no caso da celulose de pinus, utiliza-se apenas água, energia elétrica e o extrato que já é produzido pela indústria. “A polpa de celulose de pinus é uma commodity em que o Brasil é líder mundial e a matéria-prima é renovável e sustentável”, reforça Washington.
Mas é nos números que essas vantagens saltam aos olhos. Washington explica que para se produzir um quilo de celulose bacteriana se leva em torno de 13 dias ao custo médio de US$ 1.230 [aproximadamente R$ 6,7 mil]. Com a celulose de madeira, o custo de produção despenca para entre US$ 1 e US$ 4 [entre cerca de R$ 5,45 e R$ 21,8] e leva somente uma hora para também se produzir um quilo.
“O custo de produção do nosso curativo é mil vezes mais barato do que o que um dos principais que já está no mercado”, enfatiza. “Um curativo pequeno de celulose bacteriana que custa entre R$ 30 e R$ 50 hoje, com a celulose de árvore cairia para menos de 1 centavo”, compara.
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