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Falta de insumos atrapalha recuperação econômica do Paraná
Pesquisa da FIEP no último trimestre de 2020 apontou que 70% dos industriais estão otimistas para 2021| Foto: Gelson Bampi / FIEP

Um dos grandes desafios que a indústria paranaense enfrenta, e que dificultou uma retomada mais acelerada no segundo semestre de 2020, foi a falta de insumos e de matérias-primas. “Sumiu”, sintetiza o empresário Osni Marinczek, da Aliança Uniformes, de Curitiba. E quando há disponibilidade, os preços estão bem mais caros. “Fomos impactados pela alta nos preços e temos dificuldade para negociar”, conta Newton Vanucci, diretor da Luciane Indústria Moveleira, de Colombo.

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O problema tem suas raízes em 2019, quando as empresas encerraram o ano com estoques baixos. “Veio a pandemia, com queda abrupta da demanda. E passado o pior, em muitos segmentos, houve uma reação das vendas, acentuando o problema”, afirma o professor Wilhelm Meiners, coordenador do Estúdio de Economia e Finanças da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR). No melhor dos cenários, Meiners acredita que esse problema possa ser regularizado até o final do primeiro trimestre do ano.

Seis meses seguidos de crescimento abriram expectativas favoráveis para 2021, aponta Evanio Felippe, economista da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep). Tanto é que 69% das empresas ouvidas pela entidade empresarial em uma sondagem feita em novembro pretendiam realizar investimentos, particularmente no reposicionamento de mercado. E a maioria planeja investir com recursos próprios, apesar de os juros estarem em seus níveis mais baixos. “O motivo é a dificuldade de acesso ao crédito.”

Tudo, claro, a depender dos fatores ligados à pandemia do coronavírus. “Estamos esperançosos em relação a 2021. Mas as expectativas do comércio poderão ter mais facilidade em se tornar realidade quando houver vacinação contra a Covid-19”, comenta Rodrigo Rosalem, diretor do Senac-PR.

A economia paranaense não teve uma recuperação homogênea no segundo semestre de 2020. Segmentos como supermercados, material de construção e cuidados com o lar mantiveram o bom desempenho registrado no auge da pandemia. Enquanto isso, autopeças, calçado e vestuário amargam resultados fracos.

Wilhelm Meiners, da PUC-PR, aponta que a continuidade da retomada está ameaçada pela falta de uma política de vacinação. “Temos o fim das políticas emergenciais, quando foram repassados mais de R$ 800 bilhões em auxílios emergenciais à população, estados e municípios. Com isso, devido às dificuldades financeiras, estes vão ter de investir menos.” Meiners observa ainda que, sem o auxílio emergencial, um contingente grande de pessoas vai retornar ao mercado em busca de emprego.

Para Pollyanna Gondin, professora do Centro Universitário Internacional Uninter, 2021 ainda é muito incerto e de difícil previsibilidade, porque vai depender, em grande medida, dos rumos tomados pela pandemia e da atuação do governo em seu enfrentamento, tanto na garantia de aporte financeiro à população quanto à liberação da vacina.

Aumento de importações de insumos sinalizam retomada do setor produtivo

O fluxo de cargas de importação vem crescendo na Maersk e na Hamburg Süd, duas operadoras de logística que atendem ao porto de Paranaguá. “Tivemos de posicionar mais navios na costa brasileira”, conta Mariana Lara, diretora comercial da Hamburg Süd.

“Os navios estão com volumes superiores aos de 2019. Houve um crescimento muito grande porque a indústria está com estoques baixos”, diz Douglas Piagentini, diretor principal da Maersk. As duas operadoras, que pertencem ao mesmo grupo, projetam um crescimento de 3,5% nas exportações e de 7% das importações em 2021, comparativamente ao ano anterior.

O repique inflacionário não pode ser desprezado. O IPCA-15, uma prévia da inflação oficial e que mede a variação de preços de produtos consumidos por famílias que ganham de 1 a 40 salários mínimos, encerrou o ano com uma variação de 3,82% em Curitiba, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os alimentos puxaram a alta, com preços ficando, em média, 13,64% mais caros em 2020.

Já o IGP-M, calculado pela Fundação Getulio Vargas (FGV) e que mede o comportamento geral dos preços, fechou o ano com uma variação de 23,14% em 2020. O índice, que é usado no reajuste dos aluguéis, é mais de três vezes maior do que o verificado em 2019.

Este aumento da inflação, diz Meiners, seria resultante de uma combinação de fatores: alta nos preços de produtos comercializáveis no exterior, a falta de insumos e matérias-primas usadas pela indústria e o súbito crescimento da demanda.

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