Cerca de 500 medicamentos dos mais variados tratamentos estão em falta nas farmácias do Paraná, principalmente em Curitiba e nas grandes cidades. A situação mais preocupante é das doenças respiratórias infantis, que, além de problemas de abastecimento da indústria farmacêutica, estão no pico de casos com a chegada do outono. Tal cenário gera filas de atendimento nos ambulatórios pediátricos e corre-corre dos pais de uma farmácia para outra em busca da prescrição.
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O presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Produtos Farmacêuticos (Sindifarma), Edenir Zandoná Jr, explica que ao longo de toda a pandemia laboratórios têm enfrentado dificuldade com fornecedores de insumos para produção de medicamentos. Ele explica que como a maior parte da produção dos insumos farmacêuticos se concentra em apenas dois países, China e Índia, a indústria do mundo todo está com dificuldades.
"É um agregado de vários fatores que tem causado falta de remédios. Mas o principal é a dificuldade de a indústria importar da China e da Índia os sais de base na produção dos medicamentos", enfatiza o presidente do Sindifarma. "Estão faltando medicamentos de todas as doenças, de tratamento adulto e pediátrico. Só que no caso dos tratamentos pediátricos calhou de estarmos agora no pico de doenças respiratórias", explica o farmacêutico.
Essa dificuldade na obtenção de matéria prima, explica Zandoná, atrasa ainda mais a distribuição dos medicamentos, já que por critérios sanitários a produção farmacêutica naturalmente leva mais tempo se comparada a de outros produtos. "Os fornecedores já não estão dando conta na Índia e China. Mas aí o insumo chega no Brasil e leva 40 dias para ser liberado no porto. Depois essa matéria prima passa por testes de qualidade antes de ir para linha de produção. Aí tem a produção em si, as análises sanitárias desses lotes para só então os remédios serem distribuídos para venda", explica Zandoná.
Todo esse efeito em cascata na linha de produção se reflete não só no balcão da farmácia, mas também nos próprios consultórios. O presidente do Sindifarma afirma que quando a farmácia não tem nenhuma outra opção de medicação à prescrita que está em falta, a única alternativa é orientar o paciente a voltar ao médico para buscar outro remédio.
"É melhor para o paciente voltar ao médico do que gastar um tanque de combustível indo de carro de farmácia em farmácia e não encontrar o remédio", reforça Zandoná.
A falta de medicamentos, inclusive, fez a Secretaria Estadual de Saúde (Sesa) acionar o Ministério da Saúde, que se comprometeu a resolver o problema de desabastecimento nos hospitais de medicamentos como analgésicos e soro fisiológico, usados principalmente no tratamento de dengue, doença que o estado enfrenta um surto.
Médicos têm que se virar
Esse bate-volta da farmácia ao consultório tem sido cada dia mais comum no Hospital Pequeno Príncipe (HPP), em Curitiba, maior unidade pediátrica do Brasil. O que, segundo o diretor-técnico hospital, o médico infectopediátrico Victor Horácio de Souza Costa Jr, aumenta ainda mais o movimento no serviço de emergência que já está sobrecarregado. A ponto de, em alguns casos, o paciente agravar o quadro e ter de ser internado para poder ter acesso à medicação que poderia ser usada em casa se não estivesse em falta na farmácia.
Após o pico de casos de Covid-19 em janeiro, o HPP teve uma queda nos atendimentos em fevereiro, mas os consultórios voltaram a lotar no mês seguinte. De fevereiro para março, o hospital subiu de 7.474 consultas para 11.380 na emergência - aumento de 52,2%. Em abril, os atendimentos se mantiveram altos, com 11.628 consultas na emergência, média de 387,6 por dia. Em maio, até terça-feira (4), o número de atendimentos estava em 1.400, ou seja, média de 350 por dia.
A maioria desses atendimentos no HPP é de quadros respiratórios. E com a falta de medicamentos, os pediatras, assim como médicos de outras especialidades, estão tendo de se virar para encontrar soluções para o tratamento dos pacientes, inclusive tendo de rever a literatura médica.
"No caso de antibióticos, estamos tendo de prescrever medicamentos que não vinham sendo usados. São adaptações que os médicos estão tendo de fazer para atender o paciente. E isso é difícil porque a gente tem que adaptar o tratamento ao que pode ser encontrado na farmácia", lamenta Victor Horário. "Não dá para o médico prescrever o que o paciente não vai encontrar na farmácia", ressalta.
Por isso, reforça o pediatra, o momento é de manter todos os cuidados para não contrair doenças, mesmo com o fim da obrigatoriedade do uso de máscaras. "As pessoas precisam ficar mais atentas com os cuidados, porque pode não ter remédio para ela se tratar. Houve flexibilização da máscara, mas ela ainda é a melhor proteção não só contra Covid-19, mas várias outras doenças respiratórias", concluir o diretor-técnico do HPP.
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