O artista plástico Fernando Calderari, em registro feito no ano de 2003| Foto: Irene Roiko/Divulgação
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Existem artistas, existem professores de arte e existem mestres, que são aqueles que conseguem deixar uma marca na personalidade artística de seus alunos. Fernando Rogério Senna Calderari, além de artista plástico revolucionário no movimento abstrato paranaense nos anos 1960 e gravador, era um verdadeiro mestre. Ao falecer por causas naturais aos 82 anos, no dia 14 de dezembro, deixa um legado artístico e humano para o Paraná.

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Para Maria José Justino, crítica de arte e professora da Escola de Música e Belas Artes do Paraná (Embap), onde Calderari também lecionou desde os anos 1980, o nome dele figura entre os três grandes mestres da arte paranaense, junto com Guido Viaro e Alfredo Andersen. “Coloco ele entre os três porque entendo como mestre os professores que deixam discípulos, e é o caso dele”, explica. Ela completa dizendo que seu talento era tanto nas duas searas, que fica difícil decidir se foi melhor como professor ou como artista plástico.

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Calderari preconizava a prática, o fazer, como fonte do conhecimento. Considerava importante discutir técnicas a partir do momento em que o artista as dominasse de fato. Essa valorização fica clara não apenas no trabalho artístico dele, mas no dos artistas que foram seus alunos. Para quem conhece a obra dele, fica clara a presença da influência do mestre ao observar quadros e gravuras de seus discípulos.

Uma dessas pessoas é Juliane Fuganti, que teve aula com ele no curso de Pintura na Embap e mais tarde foi colega docente na mesma instituição. Ela lembra que ganhou dele um livro que a marcaria para o resto da vida e das lembranças conjuntas das bancas de prévia do vestibular da Belas. “Calderari [era] sempre divertido e com certeiras observações acerca dos desenhos dos candidatos, era uma aula que ele nos dava corrigindo provas”, relembra. Com ele, praticamente tudo se tornava uma aula, mas sem o peso acadêmico, pois ele dava leveza e humor aos momentos.

O paranaense da Lapa também era formado em Pintura na Belas, onde estudou com Guido Viaro, Theodoro de Bona e Erbo Stenzel. Depois da graduação, passa um período no Rio de Janeiro, onde estagia no Ateliê de Gravura do Museu de Arte Moderna e expõe individualmente pela primeira vez. De volta à Curitiba com novidades neste campo, passa a lecionar Gravura no Centro de Criatividade de Curitiba e no Ateliê Poty Lazzarotto, no Solar do Barão. Torna-se um dos precursores da gravura em metal.

Por sua personalidade artística particular e por ter vivenciado movimentos diferentes nos quais Curitiba ainda não estava incluída, é um dos primeiros artistas paranaenses a tentar formas de arte abstrata, sendo precursor deste movimento importante nos anos 1960. Ele e outros artistas, como Fernando Velloso e Helena Wong, se voltaram mais à arte realista e expressionista, criticando o academicismo de algumas correntes vigentes até aquela época. “Ele faz parte de um grupo que deu outro caminho à arte no Paraná”, resume Justino.

Sua obra tem fases bem marcadas. Além da fase no movimento abstrato - fez mais de 40 exposições na década de 1940 -, um momento conhecido de sua carreira é a fase das marinhas, mais recente, em que se dedicou a pintar o mar, barcos, rochedos e outras paisagens litorâneas. Há peças suas em acervos importantes pelo mundo afora.

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