Uma usina de criação. A expressão artística, seja na escrita poética, no desenho ou no audiovisual, era um trabalho que ocupava o tempo e a mente de Fernando Karl durante manhã, tarde e noite. Apenas no período de pandemia, escreveu simultaneamente quatro livros. Ao falecer aos 60 anos no dia 16 de agosto, vítima de parada cardíaca, o escritor, roteirista de cinema, artista visual e poeta deixou um legado de obras premiadas e outras em processo de finalização, no aguardo de publicação.
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Escrevia para viver não apenas no sentido de que a arte era sua fonte de sobrevivência, mas também porque isso estava completamente atrelado ao seu jeito de ser. Vivia acompanhado de um caderno no qual registrava pensamentos, observações do cotidiano e anotações de leituras. Na hora de verter para o computador, já fazia uma espécie de refinamento dos escritos. Consumia literatura na mesma intensidade com que produzia. Lia centenas de páginas diariamente, desde filosofia até livros de arte. Os amigos lembram que passava longos períodos de isolamento com sua produção, como se estivesse hibernando. “Havia períodos em que ele precisava ficar mais com ele mesmo, mas acho que é um recolhimento que os poetas precisam para poder criar ou ficar em contato com fontes de inspiração”, comenta a escritora Marilia Kubota.
Fernando dizia que se interessava pela materialidade da palavra, não necessariamente pela sua beleza. Dizia também que não era ele quem chegava nas palavras, e sim elas que se apresentavam a ele em sonoridade. Até - ou especialmente - quando falava sobre a palavra, era poético. Com um método muito próprio de ensinar, transmitia esse relacionamento íntimo com a escrita às centenas de alunos para quem lecionou literatura e desenho nos 30 anos como professor. “Ele fazia com que as pessoas se sentissem tocadas por algo que já era próprio delas. Despertava isso nas pessoas”, explica a psicanalista e poeta Fátima Pinheiro.
A vida pautada pela arte foi uma escolha que ele tomou cedo. Nascido em Joinville (SC), largou um curso universitário de Agronomia e comunicou à família que queria escrever livros. Se tornou um dos poetas catarinenses mais premiados e celebrados. “Diário Estrangeiro", “Travesseiro de Pedra” e “O livro perdido de Baroque Marina” foram vencedores em edições diferentes do Prêmio Cruz e Sousa, Com “Teares de pedra” venceu o Prêmio da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro em 2002. Sua prosa poética encantava leitores Brasil afora e estava prestes a ganhar a Europa. O romance “Graco, o ventríloquo” está traduzido para a editora alemã Suhrkamp Verlag e aguarda publicação, realizando um sonho do escritor, de ser publicado na língua nativa do pai.
Vivia em Curitiba há tantas décadas que ninguém lembra ao certo a data da mudança. Aqui, foi editor-assistente do jornal cultural paranaense Nicolau, editado por Wilson Bueno. Também trabalhou no suplemento cultural Anexo, do jornal A Notícia. A atuação na área editorial rendeu histórias e amizades marcantes, como a que teve com a escritora Hilda Hilst, com quem dividiu questões profundas da vida. Fernando fazia parte de um grupo informal de poetas e escritores radicados em Curitiba que se reuniam com frequência e cresciam juntos, cada um com uma forma própria de expressão artística.
De espírito generoso, era um grande incentivador do potencial artístico dos outros, fossem alunos de suas oficinas, amigos ou conhecidos. Dessa maneira, fazia com que os que conversavam com ele saíssem inspirados. Com entusiasmo, disseminava poesia por todos os cantos por onde ia.
Fernando Karl deixa dois filhos.
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