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Em 1 mês, fila de espera por leitos subiu de 253 para 1.001; “dados assustadores”, diz diretor
| Foto: Geraldo Bubniak/AEN

No Paraná, a fila de pessoas com sintomas da Covid-19 que aguardam por leitos de UTI ou clínico no Sistema Único de Saúde (SUS) subiu de 253, em 22 de abril, para 1.001, em 22 de maio, de acordo com levantamento da Gazeta do Povo a partir de dados disponibilizados em informes da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa). Os números da fila de espera, na avaliação do diretor de Gestão em Saúde da Sesa, Vinícius Filipak, são “os mais assustadores”. A declaração foi feita durante sua participação no Webinar da Femipa (Federação das Santas Casas de Misericórdia e Hospitais Beneficentes do Estado do Paraná), no último dia 19, quando ele ainda tinha em mãos os números de 18 de maio, com 798 na fila de espera. “Há um crescimento constante”, observou ele.

O pico da fila no Paraná foi registrado em 16 de março, quando 1.357 pessoas aguardavam uma vaga. Ou seja, se o ritmo não se alterar, em breve o Paraná pode registrar um novo recorde. “Não temos dados de demandas reprimidas na rede privada. Mas se isso está acontecendo no âmbito do SUS, não é possível admitir que não esteja acontecendo também no âmbito privado”, pontuou Filipak.

Segundo ele, praticamente 60% dos leitos de UTI da rede pública está comprometida “com uma única doença”. “No SUS, são 1.900 leitos de UTI adulto e 2.800 leitos de enfermaria exclusivos para pacientes com Covid-19 [entre casos confirmados e suspeitos]. É um volume extremamente elevado, considerando que temos, no total, 3.500 leitos de UTI, ou unidades intermediárias, no SUS. Isso situa bem a gravidade: com quase 2 mil leitos de UTI exclusivos para Covid, restam 1.500 leitos para outras urgências e tratamentos eletivos. Mais de 60% da nossa capacidade operacional de terapia intensiva hoje é voltada para Covid”, informou ele.

O número de pessoas internadas com sintomas da Covid-19 também vem crescendo novamente, lembra Filipak. O auge das internações foi registrado em 30 de março, como mostrou levantamento da Gazeta do Povo com base nos informes da Sesa. Naquela data, 5.754 pacientes ocupavam leitos de UTI ou clínicos tanto da rede pública quanto na particular. Em 22 de maio, o número de internados já está perto disso novamente, 5.629. “É uma única doença com mais de 5 mil pacientes simultaneamente internados. Isso é extremamente grave”, comentou o diretor da Sesa.

No evento da Femipa, o diretor da Sesa também demonstrou preocupação com outros números relacionados à pandemia do coronavírus, como o índice de incidência e a taxa de mortalidade. Ele também falou sobre a prevalência da variante amazônica desde o início do ano e a mudança no perfil de internados a partir daí.

"Nosso enfrentamento vai perdurar por muitos meses ainda"

Vinícius Filipak explica que, pelos critérios do ECDC (European Centre for Disease Prevention and Control), o risco sanitário no Paraná está “muito elevado”. “Estamos desde o ano passado com um coeficiente de incidência semanal em 240, 300 casos [para 100 mil habitantes]”, apontou ele, ao explicar que o índice superior a 60 para 100 mil habitantes já é considerado alto. "Ou seja, muito, muito acima, do que o ECDC considera para que pudéssemos ter algum controle. Pandemia não está controlada aqui no Paraná, como também não está no Brasil. Nosso enfrentamento vai perdurar por muitos meses ainda. Até que tenhamos uma cobertura vacinal suficiente para que a gente possa reduzir o risco de contaminação ou pelo menos o agravamento dos contaminados", disse ele.

Com os dados de 18 de maio em mãos, Filipak lembrou que o Paraná já ultrapassou a marca de 1 milhão de pessoas infectadas desde o início da pandemia, considerando apenas os casos confirmados. “Este é um número muito grande. Se nós temos 11 milhões de habitantes, significa que quase 10% da nossa população já foi contaminada pela Covid”, destacou ele.

“Este índice de incidência é muito preocupante. Inclusive porque infelizmente fazemos menos teste do que o ideal. O Paraná é o Estado que, proporcionalmente, em relação à sua população, é o que mais testa no Brasil. Mas ainda é muito baixo. E nossa positividade nos testes está por volta de 40%, muito acima dos critérios do ECDC [positividade de teste considerada alta quando superior a 3%]”, afirmou Filipak, ao acrescentar que o Paraná considera não apenas os exames laboratoriais, confirmando a infecção, mas também os exames clínicos. “Nós realizamos 2.677.049 testes laboratoriais, com confirmação de 796.680 [quase 30% de positividade]”, detalhou ele.

“De todos que internam em UTI, 45% não sobrevivem”

Durante o evento da Femipa, o diretor de Gestão em Saúde da Sesa também avaliou que a chegada da variante amazônica no Paraná, a P1, a partir do final de 2020, contribuiu para a “explosão de contaminações”. “A variante P1 é responsável pela imensa maioria dos pacientes contaminados no primeiro trimestre de 2021”, pontuou ele.

Outra mudança observada na comparação entre um ano e outro (no histórico entre março de 2020 e abril de 2021) tem a ver com o perfil dos internados com a doença. “Até final do ano passado, tínhamos prevalência de internamentos de pessoas com mais de 60 anos de idade; a partir de 2021, houve crescimento de internamento entre 40 e 60 anos e uma redução na faixa etária dos idosos. Não houve variação significativa nas demais faixas etárias”, informou ele. “Creditamos isso a dois fatores: cobertura vacinal [que já alcançou a maioria dos idosos] e a nova cepa, que contamina mais facilmente”, acrescentou ele.

A mudança no perfil de internados interfere na taxa de ocupação de leitos de UTI. “Nas últimas semanas, mesmo com menor número de contaminados, não tivemos nenhum arrefecimento porque os pacientes de agora são mais jovens e têm maior permanência nos leitos”, analisou Filipak.

E a taxa de mortalidade continua elevada. “Estamos com uma mortalidade de 30% em média, considerando leitos de UTI e clínicos. Ou seja, de todos que internam, de 28% a 30% não sobrevivem. Se fizermos o recorte só para UTI, sobe para 45%. E dos pacientes intubados na UTI, com ventilação mecânica, a mortalidade passa de 70%. É uma taxa de mortalidade elevada, inaceitável”, disse ele.

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