Nem todo mundo sabe, mas a Cidade Industrial de Curitiba (CIC) abriga um polo de produção científica. Localizado nas instalações do Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar), o Instituto Carlos Chagas (ICC), unidade técnico-científica da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) no Paraná, acaba de chegar ao seu 10º aniversário. Já a Fiocruz Paraná, vinculada ao Ministério da Saúde, completa 20 anos.
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Fundada em 2009, a unidade foi criada em resposta a uma demanda consolidada. A Fiocruz já desenvolvia atividades em Curitiba havia uma década, por meio do Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP), criado em parceria com o Governo do Estado. Em colaboração com o Tecpar e a Universidade Federal do Paraná (UFPR), a instituição atua em trabalhos voltados para a melhoria da saúde pública tanto na região quanto em nível nacional.
"No início eram apenas três laboratórios, aqui neste mesmo prédio", conta o diretor do ICC, Bruno Dallagiovanna. Atualmente, em seus dois institutos, a Fiocruz Paraná tem uma força de trabalho de 400 colaboradores, com mais de 200 mestres ou doutores. "A própria presença e o relacionamento com as secretarias de saúde estadual e municipal e com as universidades, que sempre receberam muito bem a Fiocruz, fez com que os pesquisadores se interessassem também por outros temas, o que levou ao crescimento do instituto."
O ICC se destaca como centro de pesquisa de impacto internacional em temas como virologia, agentes infecciosos, câncer e células-tronco. Com nove laboratórios de áreas diversas, os nomes vão dos menos complicados, como Biologia Básica de Células-tronco e Virologia Molecular, a verdadeiros trava-línguas, como Proteômica Computacional e Estrutural e Biologia Molecular e Sistêmica de Tripanossomatídeos.
Já o IBMP é focado na produção de insumos de saúde. São testes de diagnóstico molecular para febre amarela; infecções sexualmente transmissíveis; zika, dengue e chikungunya; malária; e tracoma (infecção do olho pela bactéria Chlamydia trachomatis).
O trabalho da fundação
As diferentes unidades têm atividades voltadas para a região em que estão inseridas, mas também atuam em setores de interesse nacional e internacional. "Cada instituto tem uma competência que deve ser usada para todo o sistema Fiocruz", garante a presidente da fundação, Nísia Trindade Lima.
"Às vezes, a gente acha que o que se desenvolve em grandes centros do Sudeste, principalmente Rio de Janeiro e São Paulo, tem impacto nacional, enquanto os outros programas são de alcance local. Mas não é bem assim que se dá, na prática. A gente tem pensado muito nessa visão de um sistema Fiocruz, em que possamos agregar essas competências", aponta a presidente. Como em um organismo vivo, as ações são capilarizadas.
O Paraná foi o responsável, por exemplo, pela implantação da primeira linha de pesquisa em células-tronco da fundação. Também foi o primeiro a fazer, no Brasil, o sequenciamento completo em amostras humanas dos vírus chikungunya e zika, respondendo rapidamente à crise nacional. "A Fiocruz e o sistema brasileiro de saúde responderam à crise com uma velocidade e entrega de resposta que foi exemplo no mundo inteiro. Aqui, em particular, foi onde foi demonstrada a transmissão placentária do vírus zika. Então, o papel dos nossos pesquisadores na epidemia do zika foi muito importante", lembra o diretor do ICC.
No histórico do instituto, Dallagiovanna destaca, ainda, o desenvolvimento e a produção do kit HANTEC, para diagnóstico da hantavirose, e o pioneirismo em metodologias de genômica funcional (descrição da função de genes e proteínas). Na área educacional, o Fiocruz na Rua realiza intervenções em espaços públicos, aproximando a pesquisa básica da comunidade, e escolas públicas da rede estadual recebem as atividades do projeto Cientista Mirim, em que as crianças podem se fantasiar e descobrir o trabalho dos cientistas.
Atuação em todo o país
"Você pode não saber, mas traz um pouco da Fiocruz em você", afirma Nísia. A declaração não é nem um pouco infundada. Toda transfusão de sangue feita no Sistema Único de Saúde (SUS), por exemplo, é testada com um kit de diagnóstico para a presença de HIV, HPV e hepatites B e C. Foram as pesquisas feitas na Fiocruz Paraná que deram origem ao kit.
Além disso, por meio do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos), no Rio de Janeiro, a instituição é a principal fornecedora de vacinas para o Programa Nacional de Imunização (PNI), do MS, sendo responsável por cerca de 60% das doses aplicadas no SUS. Bio-Manguinhos produz as vacinas para DTP e Hib, febre amarela, Haemophilus influenzae tipo B (Hib), meningite A e C, pneumocócica 10-valente, poliomielite oral (VOP), poliomielite inativada (VIP), rotavírus humano, tríplice viral e tetravalente viral. Apenas em 2018, foram 129 milhões de doses de vacinas.
A fundação, que completou 119 anos em julho, também atua fortemente na formação de cientistas e profissionais do SUS, com 43 programas de mestrado e 46 cursos de especialização, em 29 áreas de pesquisa diferentes.
Projeto Ciência Móvel como presente de aniversário
As comemorações dos aniversários de 20 anos de Fiocruz Paraná e dez anos de ICC não incluíram brigadeiro e beijinho, mas nem por isso faltaram eventos para celebrar as efemérides. Além de solenidades e um fórum voltados aos seus pesquisadores, a instituição ocupou o Portão Cultural (MuMA) entre os dias 6 e 9 de agosto com ações de divulgação científica. Em parceria com a Fundação Cultural de Curitiba, a cidade recebeu o projeto Ciência Móvel, do Museu da Vida da Fiocruz.
A exposição educativa é transportada por um caminhão que, descarregado, se transforma em uma sala de vídeos e palestras. As atividades incluem uma mostra que explora a história da expedição de Charles Darwin às Ilhas Galápagos (que levou ao desenvolvimento da Teoria da Evolução), uma bicicleta geradora de energia, câmaras escuras, planetário inflável, tubos musicais e vários experimentos relacionados ao som, ilusão de óptica e biologia.
Foi a primeira vez que o caminhão ultrapassou as fronteiras da região Sudeste do país, onde atua há 13 anos e já passou por 200 municípios - somando a quilometragem de duas voltas ao redor da Terra. "É a divulgação científica chegando a todos os lugares, principalmente aqueles que não têm museus e entidades de pesquisa", diz o coordenador do projeto, Rodolfo Zimmer.
O MuMA recebeu, ainda, ações sobre a história e as contribuições do trabalho desenvolvido pelo ICC e pelo IBMP para a saúde pública. Os alunos da pós-graduação do ICC também trouxeram jogos educativos sobre as áreas de pesquisa contempladas pelo instituto, como doenças infecciosas e células-tronco. Segundo a entidade, entre alunos de escolas públicas e privadas e a comunidade em geral, as ações receberam, em média, mil visitantes por dia.
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