Enquanto praticamente todos os setores da economia foram, de alguma maneira, prejudicados pela pandemia do novo coronavírus, o agronegócio brasileiro seguiu o caminho oposto. Graças a uma combinação de fatores, o setor vem se sustentando com resultados históricos em 2020 e trabalha com perspectivas favoráveis para 2021. Esse desempenho positivo, entretanto, não se aplica a todos os segmentos, especialmente um deles que se viu seriamente afetado nos últimos meses: a produção de flores.Com uma queda drástica nas vendas principalmente entre os meses de março e maio, o setor agora volta a se reerguer.
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Apesar de ter uma participação pequena no agronegócio, comparada aos principais produtos agropecuários do país, como grãos, cereais e proteínas animais, a floricultura é uma fonte de renda importante para muitas famílias. Segundo o Instituto Brasileiro de Floricultura (Ibraflor), havia em 2019 cerca de 8 mil produtores de flores e plantas no Brasil, que cultivavam cerca de 2,5 mil espécies. Entre produção, distribuição, varejo, logística e eventos, o setor gerou 209 mil empregos diretos e um faturamento na casa dos R$ 8,1 bilhões.
Com o início da pandemia, em março, veio o impacto. Um dos principais consumidores de flores é o setor de eventos, que se viu obrigado a cancelar casamentos, formaturas, aniversários e congressos, entre outros. O fechamento do comércio também agravou a situação, especialmente em uma data que concentra um dos maiores volumes de vendas de flores no ano, o Dia das Mães. Segundo dados do Ibraflor, as vendas relacionadas à data caíram 30% em relação ao ano passado.
“O setor foi seriamente afetado nos primeiros meses da pandemia, principalmente quem trabalha com flores de corte, que são aquelas usadas em eventos. De repente parou tudo, não havia para quem vender”, diz Paulo Andrade, engenheiro agrônomo e técnico do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento. O Ibraflor apurou que, logo no começo da pandemia, as vendas caíram mais de 90% e o faturamento foi cerca de R$ 1,3 bilhão menor.
Floricultura no Paraná envolve quase mil produtores
Segundo Andrade, o Paraná está entre os quatro maiores produtores de flores do Brasil, um mercado liderado pelo estado de São Paulo. A floricultura está presente em 108 municípios, envolvendo aproximadamente 900 agricultores. No ano passado, a atividade teve seu melhor resultado nos últimos dez anos, com uma renda bruta gerada de R$ 170,1 milhões, um incremento de 29% em relação a 2018. “Ainda que seja uma participação pequena, é um setor que representa um mercado importante em alguns municípios. É uma forma importante de diversificação da produção, que ajuda principalmente os pequenos produtores”, observa o técnico. De acordo com ele, mais de 100 espécies de flores são reproduzidas atualmente no Paraná.
Um dos municípios com maior destaque é Marialva, localizado na região Norte do estado, próximo a Maringá. Com uma população de aproximadamente 35,8 mil habitantes, é hoje o principal produtor de flores do estado. Segundo o Deral, somente no ano passado, a floricultura movimentou R$ 21,2 milhões, o equivalente a 12,5% de toda a renda gerada pelo setor no Paraná. Mais do que gerar vendas, o município usou essa vocação para movimentar o turismo: lá é possível visitar plantações de orquídeas, rosas, cactos e suculentas das mais variadas espécies.
Karisa Almeida é funcionária de um dos maiores viveiros da cidade. Ela conta que os proprietários cultivavam hortaliças e tinham um pequeno espaço que usavam para plantar flores. Foi o interesse pelas suculentas – plantas que possuem raiz, talo ou folhas engrossados para permitir maior armazenamento de água – que fez com que eles decidissem investir pesado no ramo. “Eles começaram de pouquinho, foram adquirindo mudas, reproduzindo outras espécies e as pessoas passaram a comprar. Hoje temos mais de 250 espécies”, conta.
Em um espaço de aproximadamente 1,2 mil metros, quatro funcionários se dedicam à produção e comercialização das mais diversas espécies de mudas de flores ornamentais, suculentas e plantas frutíferas, além de insumos e produtos para jardinagem. Segundo Karisa, a maioria dos consumidores é de cidades próximas, mas há quem venha de outras regiões e até de outros estados para comprar no local.
Como o setor de maneira geral, o viveiro sentiu os efeitos da pandemia nos primeiros meses, mas a funcionária garante que, hoje, as vendas estão ainda melhores que no início do ano. “No começo foi difícil, as vendas caíram bastante. Mas eu acredito que, com as pessoas passando mais tempo em casa, elas passaram a querer deixá-la mais bonita, colocando uma flor para decorar, cuidando do jardim”, avalia.
Maripá se notabiliza pela produção de orquídeas
As orquídeas representam um nicho importante da produção de flores no Paraná, responsável por gerar R$ 11,2 milhões em 2019, 13% do total contabilizado. Nesse ramo, quem se destaca é o município de Maripá, no Oeste, que ostenta o título de Cidade das Orquídeas. São aproximadamente 100 mil unidades de orquídeas cultivadas por ano no município, quase a metade do que é produzido em todo o estado. Segundo a prefeitura, tudo começou em 1993, quando uma professora teve a ideia de plantar orquídeas nas árvores da cidade, chamando a atenção e popularizando o cultivo.
Hoje, a cidade também usa as orquídeas para alavancar o turismo. Além de as flores serem visíveis em ruas e praças, também são oferecidas visitas a orquidários. O município ainda promove anualmente a Festa das Orquídeas e do Peixe, feira de negócios que apresenta novidades do setor da orquidicultura e atrai milhares de participantes, vindos de diferentes partesdo país.
Ainda na lista dos principais produtores de flores do estado está um município que leva a característica até no nome. Uniflor, no Noroeste, gerou R$ 5,1 milhões com o negócio no ano passado e é de onde vem a maior parte dos crisântemos cultivados no Paraná. Diz a lenda que o nome da cidade surgiu quando engenheiros da Companhia Melhoramentos Norte do Paraná passaram pelo local, que sofria uma seca muito severa. Em meio à vegetação castigada, eles teriam encontrado nas margens de um córrego uma única flor, passando a chamá-lo de Córrego Uniflor.
Paulo Andrade explica que uma das características da floricultura no Paraná é justamente sua diversificação, com alguns municípios e regiões se destacando em determinado segmento. Agudos do Sul e Piên, no Sul do estado, têm como forte as plantas ornamentais. Agudos, que no ano passado movimentou R$ 12,8 milhões, foi o primeiro município do estado a exportar o produto, em 2016. “Na Região Metropolitana de Curitiba, o forte é a produção de grama, que é vendida para campos de golfe e grandes condomínios fechados”, explica. São José dos Pinhais foi o segundo maior produtor paranaense de flores em 2019.
Ibraflor projeta crescimento da floricultura nos próximos anos
A pandemia afetou o setor de floricultura em todos os aspectos, de produção, logística, comércio e importação. Apesar disso, o Ibraflor constatou que os prejuízos foram menores do que se acreditava nos primeiros meses, calculando em 10% as demissões ocorridas nesse período. Para enfrentar a crise, muitos produtores tiveram que se readequar, mudando os produtos e apostando em outros serviços. As vendas online no Dia das Mães, por exemplo, tiveram aumento de até 200% em relação ao ano passado.
O crescimento verificado na produção paranaense em 2019, juntamente com a tendência observada durante a pandemia de as pessoas investirem mais na melhoria do ambiente caseiro, são indicativos de que o setor de flores pode crescer nos próximos meses. “O Brasil não tem o hábito de consumir flores. Por aqui, nos últimos anos as pessoas gastaram uma média de R$ 26 com flores, em outros países esse valor chega a R$ 100. É um setor em que costumam ocorrer oscilações, mas percebe-se uma tendência de crescimento”, conclui Andrade.
Ranking dos principais produtores de flores no Paraná*
- Marialva R$ 21,2 milhões
- São José dos Pinhais R$ 19,4 milhões
- Campina Grande do Sul R$ 16 milhões
- Agudos do Sul R$ 12,8 milhões
- Cascavel R$ 9,7 milhões
- Cambé R$ 8,8 milhões
- Uniflor R$ 5,1 milhões
- Centenário do Sul R$ 4 milhões
- Piên R$ 3,8 milhões
- Apucarana R$ 3,2 milhões
*Valor Bruto da Produção em 2019
(Prefeitura de Maripá/Divulgação)
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