Maringá, localizado na região noroeste do Paraná, foi o município mais bem avaliado na edição 2024 do Ranking do Saneamento do Instituto Trata Brasil. A cidade vinha frequentando os postos mais altos na lista nos últimos anos, e agora se consolidou na primeira posição à frente de cidades maiores e capitais, como São Paulo, Goiânia e Campo Grande. A receita para o sucesso conta com um longo histórico de cuidado e investimento no sistema de saneamento básico e algumas medidas no mínimo inusitadas, como o uso de creolina em poços para incentivar o consumo de água tratada.
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O levantamento do instituto leva em conta dados como o percentual de habitantes com acesso a esgoto e água tratada e os investimentos em saneamento, e classificou outras quatro cidades paranaenses entre as 15 melhores do país: Cascavel (9º lugar), Ponta Grossa (10º lugar), Foz do Iguaçu (13º lugar) e Londrina (14º lugar).
Maringá ganhou 13 posições para chegar ao topo do ranking
Acostumada a ocupar o topo do ranking na última década, Maringá passou por uma queda brusca no ano de 2022, quando foi do 2º para o 10º lugar. Em 2023, nova queda, então para a 14ª posição na lista de municípios avaliados pelo Trata Brasil. De acordo com o prefeito Ulisses Maia (PSD), a variação se deu por conta da rede de esgoto de dois distritos da cidade.
“Foram feitos investimentos importantes desde a divulgação do último ranking. Um deles foi interligar totalmente a rede de coleta e tratamento de esgoto, porque em dois distritos, Iguatemi e Floriano, não havia esse acesso. Agora a cidade está com todos os bairros e distritos conectados à rede, e deu para ver a diferença”, avaliou, em entrevista à Gazeta do Povo.
Com 99% de atendimento de água e esgoto – que é 100% tratado – a cidade saltou 13 posições e conquistou o primeiro lugar, que em 2023 era ocupado por São José do Rio Preto (SP) e que de acordo com o Trata Brasil fechou o balanço com 93% de atendimento e 91,36% de tratamento de esgoto. Em terceiro lugar vem Campinas (SP), com 95,89% de atendimento e 80,32% de tratamento do esgoto.
Cidade conta com uma cultura de saneamento básico, diz prefeito
Para Maia, os bons resultados da cidade no ranking nacional se devem, além dos investimentos, à cultura dos maringaenses em relação ao saneamento básico. Tal hipótese, inclusive, foi tema de várias pesquisas, como a feita pelas autoras Elza Vendramel e Vera Beatriz Köhler e publicada na revista Acta Scientiarum, da Universidade Estadual de Maringá (UEM) em 2002.
As pesquisadoras identificaram que a Companhia Melhoramentos Norte do Paraná, responsável pela colonização da região, não se interessou na implantação de um sistema de água na cidade. Para suprir a necessidade, os moradores recorriam a poços e minas. Partiu de uma estudante a cobrança das autoridades reunidas na posse do primeiro prefeito da cidade, em dezembro de 1952, por um sistema de água e esgoto.
O aumento na demanda levou as pessoas a buscarem pela água em perfurações cada vez mais profundas, e os antigos poços foram sendo reutilizados como fossas. O risco da contaminação dos mananciais foi um dos fatores que acelerou a criação da Companhia de Desenvolvimento de Maringá (Codemar), em 1962. O objetivo era planejar, projetar, executar, explorar e conservar a rede de abastecimento de água e de esgotos em Maringá.
Prefeitura jogou creolina nos poços para forçar os maringaenses a consumir água tratada
Foi somente na década seguinte que a água encanada se tornou a primeira opção dos moradores de Maringá. O motivo, explicou o prefeito, foram as medidas drásticas tomadas pela Codemar para levar as pessoas a deixarem de usar os poços e minas como fonte de água para consumo.
“Havia uma cultura de beber água de poço, e a companhia se mostrou preocupada com a qualidade da água. Veio então a determinação para que todas as casas fossem interligadas à rede da Codemar. Para conseguir essa adesão, os funcionários da companhia fechavam os poços. E com aqueles que ainda resistiam era jogado querosene e creolina nos poços, o que realmente forçou os maringaenses a adotarem a água tratada”, disse.
Planejamento urbano de Maringá colaborou na extensão da rede de saneamento
A mudança radical de postura veio acompanhada de um planejamento urbano pioneiro no norte paranaense. Para que um loteamento fosse aprovado na cidade, a administração pública de Maringá exigia iluminação pública, asfalto e rede de saneamento básico, com chegada de água tratada e coleta de esgoto.
“Esse conceito de cidade planejada não era comum em outros lugares. O normal era que os lotes fossem vendidos sem um mínimo de infraestrutura, mas em Maringá isso era exigido por leis municipais antes mesmo de uma regulamentação estadual ou federal. Nem se sonhava ainda com um Estatuto das Cidades, e aqui em Maringá a cobrança por infraestrutura de saneamento era uma realidade”, comentou Maia.
Na década de 1980, a Companhia Paranaense de Saneamento assumiu a prestação de serviço do saneamento básico em Maringá. Em parceria com a prefeitura, a empresa foi adequando o sistema às mudanças exigidas pelo crescimento urbano e populacional. Dados da companhia mostram que, entre os anos de 2017 e 2021, foram investidos R$ 117 milhões em melhorias no saneamento básico maringaense.
A aplicação constante de recursos associada ao histórico de cuidados com a infraestrutura, avaliou o prefeito, pode ser a explicação para o fato de Maringá ser a cidade entre as 20 melhores no ranking do Trata Brasil com menor investimento médio por habitante. Enquanto municípios como Praia Grande, a 12ª na lista do instituto, contabilizaram quase R$ 700 por habitante/ano, Maringá aparece com um valor de pouco mais de R$ 57.
“Não tem nenhum outro segredo além de recursos investidos. Não se faz política pública sem recurso no orçamento. Como aqui isso é feito há muito tempo, e feito de forma muito constante, não são necessários grandes saltos de orçamento. Nós contamos com esse pioneirismo, que no final das contas se provou efetivo”, finalizou.
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