Francisco Lacerda Brasileiro,prefeito de Foz do Iguaçu pelo PSD| Foto: Divulgação / Prefeitura de Foz do Iguaçu
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No Top 3 dos principais destinos turísticos do Brasil, com mais de 3,5 milhões de visitantes por ano, Foz do Iguaçu viu toda a base de sua economia desmoronar após a chegada do coronavírus em março. Numa coincidência típica de tempo de “vacas magras”, até as cataratas esvaziaram-se de água, diante da pior seca do Paraná em quase 100 anos. As pontes que ligam a cidade à Argentina e ao Paraguai cessaram seu intenso tráfego, minguou o comércio. Diante da baixa incidência de casos de Covid-19 na cidade (pouco mais de 1 caso para cada mil habitantes), a Associação Comercial opôs-se fortemente à quarentena mais rígida adotada pelo Governo do Estado, mas o prefeito Chico Brasileiro (PSD) pensa diferente e entende que a hora é de “frear a aceleração da doença” e que as medidas foram tomadas “com base em indicadores e com responsabilidade sanitária”. Nesta terça-feira (7) o prefeito de Foz foi diagnosticado com a Covid-19. Segundo a assessoria, ele está bem e seguirá trabalhando de forma remota, de casa, enquanto cumpre o isolamento domiciliar. A entrevista foi feita antes do diagnóstico positivo, por telefone.

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Dentista paraibano de Piancó radicado há mais de 30 anos em Foz, após passar em concurso público da prefeitura, Chico Brasileiro reconhece que a cidade vive a pior crise econômica de sua história. Ele está confiante, no entanto, que já é possível ver a retomada no horizonte. “Todas as pesquisas feitas pelo mercado de turismo apontam que Foz do Iguaçu é um dos destinos preferidos para as viagens das pessoas nos próximos meses. Estamos muito otimistas com isso e tomando todos os cuidados para que a cidade não saia com a imagem negativa. E imagem negativa seria Foz estar, hoje, com pacientes sem ter assistência. Isso não aconteceu e não acontecerá”, assegura. “Queremos que as pessoas do Brasil e do mundo enxerguem Foz do Iguaçu como a cidade que cuidou da doença, viveu crise na economia, mas que está olhando para o futuro”.

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“A gente sabe que Foz do Iguaçu só vai ter uma atividade normalizada quando o Brasil também tiver, quando as pessoas voltarem a viajar, e isso não está ocorrendo nesse momento”, constata. Quando então será possível a retomada? “Em agosto já deve ter um reinício, mas em setembro vai começar o processo mais consistente. Inclusive já tem vários hotéis em Foz com reservas para os meses de outubro e novembro. Acho que não tínhamos passado por esse ciclo (de alta na pandemia), teremos mais casos e internamentos, mas de forma suportável pelo sistema de saúde. Por isso a importância de a gente frear agora, não deixar acelerar, para depois ter a consistência nessa retomada. Daí as empresas poderão planejar melhor, investir e ter certeza que seguiremos com funcionamento normal”.

Enquanto não completa a travessia da crise provocada pelo coronavírus, Foz vai se apoiando em investimentos de Itaipu – ampliação do aeroporto e construção da segunda ponte para o Paraguai – além obras públicas locais e programas de crédito para micro e pequenos empreendedores, com prazo de carência de até 36 meses. Apenas nos dois primeiros meses da pandemia, houve queda de 70% da arrecadação com o ISS, o imposto pago pelos serviços em torno dos hotéis e atrativos turísticos.

Inveja?

Quando se olha para o outro lado da ponte, não dá inveja pensar que os paraguaios podem ter acertado a mão no controle da Covid-19, enquanto a gente fica a perguntar onde foi que erramos? (Obs: o país vizinho tinha menos de 2500 casos da doença e apenas 20 mortes, no fechamento desta matéria).

“A grande diferença do Paraguai, da Argentina, do Uruguai e de outros países, principalmente do Mercosul, é que há uma ação coordenada pelo governo central e isso ajuda muito. Não existe uma ação em cada local, em cada prefeitura, em cada estado. Os municípios precisam desse suporte de orientação, de tomada de decisão. A gente observa mesmo que o Paraguai, mesmo tendo um efeito econômico fortíssimo, fez opção de controlar a doença. Os resultados são muito positivos, assim como no Uruguai. Essa é uma decisão central de governo e acredito que eles estão corretos, que agiram realmente colocando a vida em primeiro lugar. Para mim, esse é o papel preponderante de qualquer gestor. Nesse momento, qualquer país do mundo enxerga que tem que entrar com ações fortes para reativar a economia, para proteger as empresas e os empregos, mas não pode perder o controle da doença. No Brasil não houve essa ação coordenada, cada ente toma a decisão que bem entender. Isso para mim é um grande prejuízo no enfrentamento à pandemia. Por isso temos tantos óbitos e tantos casos, provocando um efeito talvez até mais duradouro na economia”.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
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