Dados da Companhia Paranaense de Gás (Compagás) mostram que houve um aumento de 25% no volume de gás natural veicular (GNV) distribuído aos postos atendidos pela companhia no último mês de setembro em comparação com o mesmo período em 2020. O combustível é mais barato, mais eficiente e mais econômico do que o etanol e a gasolina, mas para ser utilizado é preciso um investimento alto na conversão do veículo. A busca pela economia, porém, tem feito com que mais da metade da frota paranaense de veículos a gás esteja rodando de forma irregular no estado.
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A Associação Paranaense dos Organismos de Inspeção Veicular (APOIA), em um levantamento feito junto ao Departamento de Trânsito do Paraná (Detran-PR), chegou a um índice preocupante. De acordo com a associação, 55% dos mais de 37,5 mil veículos convertidos para rodarem com GNV no Paraná não passam pelas revisões periódicas necessárias para garantir a segurança dos ocupantes destes carros e utilitários.
Os números da APOIA mostram que cerca de 20,6 mil veículos estão com o chamado bloqueio administrativo frente ao Detran-PR. Isso porque não se submeteram às vistorias periódicas para que o veículo esteja regularizado – veja mais abaixo. Em um primeiro momento, este bloqueio pode até não trazer grandes dores de cabeça para o proprietário do veículo. Porém, em caso de venda do automóvel, se este estiver bloqueado, não é feita a transferência de titularidade – o que pode fazer com que o dono antigo ainda tenha que arcar com todos os custos do veículo, como as multas de trânsito cometidas pelo novo dono, mesmo depois da venda.
Riscos e benefícios do GNV
“O uso do GNV apresenta alguns riscos no momento do abastecimento por ser um combustível que é trabalhado em grandes pressões nesse momento. Quando a instalação do kit é feita de forma precária, feita fora das oficinas homologadas pelo Inmetro, não há uma supervisão nesse procedimento da instalação”, explicou Everton Pedroso, presidente da APOIA e da Federação Nacional da Inspeção Veicular (Fenive).
O preço médio do GNV no Paraná no fim de outubro, segundo dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP), ficou em R$ 4,34 por metro cúbico - por ser um gás, o combustível não é vendido por litro. Com essa quantia, um veículo chega a rodar cerca de 14 quilômetros. É bem mais barato do que a gasolina, que também de acordo com a ANP custou, em média, R$ 6,32 por litro no Paraná no fim do mês passado.
O custo de conversão de um veículo para rodar com GNV não é baixo, pode facilmente passar dos R$ 4 mil. Após a instalação do kit – que conta com o cilindro de armazenamento do gás e das linhas de alta e baixa pressão, além de outros componentes – o proprietário precisa levar o veículo para uma inspeção que vai validar a conversão junto ao Detran, o que pode ficar entre R$ 450 e R$ 500.
Feita a validação, é preciso fazer uma inspeção dos componentes. A cada cinco anos o cilindro de gás passa por uma requalificação, para garantir que ainda mantém as condições de armazenamento do combustível. Outros componentes precisam ser checados anualmente, o que custa ao proprietário um valor aproximado entre R$ 300 e R$ 350. O investimento, explica Pedroso, garante que o condutor rode em condições de segurança e também traz benefícios, como o desconto no IPVA.
“Há muitos casos de instalações feitas em desacordo com as normas, com aquele ‘amigo’ que já trabalhou em uma oficina, aquela pessoa que não trabalha com isso e não está preparada, mas se diz competente para tanto. E que cobra mais barato. Aí é que mora o risco. Não há cuidado com as normas na instalação, e por isso não se faz a inspeção. Mas a regularização é sempre o caminho mais indicado, além da segurança, por ser também um incentivo na forma de desconto no valor do IPVA, que cai de 3,5% para 1% do valor do veículo. É 70% de desconto neste imposto, vale a pena”, comentou.
Oficinas de instalação estão concentradas na RMC
Para poderem abastecer o carro legalmente com GNV, o condutor precisa apresentar o selo anual de inspeção quando chega ao posto. Esta, pelo menos, é a determinação de uma lei estadual de 2017, que estabelece multa e até mesmo o descredenciamento do estabelecimento em caso de descumprimento. Porém, como ressaltou Pedroso, os postos não têm poder de denunciar os motoristas que porventura venham a abastecer os veículos sem inspeção.
Os postos de GNV no Paraná estão, assim como as oficinas de conversão, concentrados na Região Metropolitana de Curitiba – as exceções são as cidades de Ponta Grossa e Londrina, que também contam com essa estrutura. Dados do Inmetro mostram que há apenas 16 oficinas homologadas para a instalação do kit GNV em todo o Paraná. Segundo o presidente da Fenive, isso se dá por conta da concentração da rede de distribuição da Compagás. “Uma ampliação dessa rede de instaladores e empresas de vistoria dependeria da ampliação da rede de distribuição e de postos de GNV. Não há, pelo menos por enquanto, uma perspectiva de aumento nessa oferta de unidades instaladoras no Paraná”, revelou.
De acordo com a assessoria de comunicação da Compagás, uma possível ampliação tanto na rede de distribuição quanto na rede de postos depende não só da companhia, mas também do interesse de donos de postos em oferecer o combustível. Nos casos em que não há acesso à rede de distribuição, explicou a assessoria, o atendimento pode ser feito por meio do transporte do GNV em caminhões e do armazenamento em tanques especiais. Essa opção, porém, demanda uma série de licenciamentos especiais e instalações específicas, o que, segundo a companhia, acaba encarecendo os custos do GNV e possivelmente inviabilizando o empreendimento.
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