Ao sul da capital paranaense, um gigante trabalha dia e noite, silenciosamente e sem holofotes, pela saúde dos curitibanos. O Laboratório Municipal de Curitiba, iniciativa da administração pública municipal, fica no bairro Novo Mundo e, de janeiro a julho, fez quase 4 milhões de exames, que vão dos sempre solicitados hemogramas aos complexos CD4 e CD8, imprescindíveis para o sucesso da terapia antirretroviral no HIV.
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A estrutura própria para atender quem chega às unidades de saúde e Unidades de Pronto Atendimento da cidade, os hospitais Municipal do Idoso e do Bairro Novo e o Centro de Orientação e Aconselhamento não para. São 600 mil exames mensais, de 142 tipos e de diferentes níveis de complexidade, que dão mais precisão ao diagnóstico de doenças e rapidez aos atendimentos na rede pública.
Essa agilidade auxilia no encaminhamento correto dos pacientes para o tratamento, o que otimiza todo o sistema de saúde. “A tecnologia do laboratório reduz o tempo de análise e entrega de exames, com alta qualidade nos resultados”, diz a secretária municipal da Saúde, Beatriz Battistella, que apresentou os números do laboratório em audiência pública na Câmara Municipal de Curitiba no fim de setembro, como prestação de contas da saúde.
Esteira agiliza processo diagnóstico
Desde março, a instalação de uma esteira automatizada, que encaminha amostras para análise, substituindo o demorado processo manual, agilizou o processo diagnóstico e deu foco à equipe técnica, mais voltada à análise de qualidade do que ao manuseio das amostras. Identificadas e separadas de acordo com os exames a serem realizados, as amostras são encaminhadas à centrifugação, destampamento dos tubos e direcionadas às análises para, depois, serem armazenadas.
“A automatização dos processos com uso da esteira começou em 2018, integrando todos os equipamentos dos setores de Imunologia, Hormônios e Bioquímica. Instalada neste ano, a esteira automatizada foi a primeira que o fabricante instalou nas Américas”, cita Tamara Panizza, coordenadora do laboratório.
O processo tem acompanhamento digital, com a qualidade controlada desde a coleta da amostra na unidade de saúde, passando pela conferência das análises feitas pelos profissionais do laboratório, até o encaminhamento dos resultados ao prontuário eletrônico do paciente.
Essa agilidade beneficia tanto os pacientes individualmente quanto todo o sistema de saúde, como explica Juliano Gevaerd, superintendente executivo da Secretaria de Saúde de Curitiba. “Para o paciente, isso se traduz em menos tempo para que as equipes de atendimento nas Unidades de Saúde, UPAs e hospitais fechem o diagnóstico em relação às queixas apresentadas e, consequentemente, possibilita o início do tratamento mais adequado o quanto antes, evitando possível complicações dos quadros”, explica Gevaerd.
“Para o SUS curitibano, essa agilidade resulta em economia, ao evitar o agravamento de quadros de doenças e questões de emergência em saúde, reduzindo a necessidade de internamentos, uso de equipamentos, insumos e medicamentos mais complexos e de maior custo”, pontua o profissional.
Evitar gastos desnecessários é uma das metas da secretaria, que investe no aprimoramento de ponta a ponta do atendimento, principalmente da triagem do paciente e determinação mais assertiva do diagnóstico que faça o melhor encaminhamento, para conseguir lidar com uma demanda considerada “quase infinita”, como cita a secretária Beatriz Battistella.
Análise da base de dados é ferramenta para a construção de políticas públicas
A agilidade também está na transmissão dos resultados pelo prontuário eletrônico da SMS, o e-saúde, sem a necessidade de espera da disponibilidade dos resultados ou transferência dos dados entre sistemas.
Assim que os profissionais liberam os resultados no Laboratório Municipal de Curitiba, eles são vinculados ao prontuário eletrônico do paciente, que pode ser acessado em outros pontos da rede municipal de saúde, como unidades de saúde, UPAs ou hospitais.
Além disso, a base de dados dos resultados laboratoriais reunidos e analisados fornecem informações riquíssimas que podem servir de base para a criação, implantação e adequação de políticas públicas de saúde.
Dos simples aos altamente complexos
O laboratório realiza os exames a partir de amostras biológicas (sangue, urina, fezes e secreções) e, entre os mais solicitados, estão o de glicose (em média 29 mil exames por mês), hemograma (38 mil), colesterol e triglicerídeos (25 mil), creatinina (44 mil), TSH (21 mil).
Além disso, o órgão faz testes complexos, como os de biologia molecular CD4 e CD8, usados para avaliar o sistema imunológico e quantificar a carga viral de pacientes em tratamento de HIV e hepatites B e C. Mensalmente, são feitos 1,8 mil exames desse tipo.
A renovação tecnológica constante e a capacitação contínua de profissionais têm promovido avanços como o visto no setor de microbiologia, que levou a análise de bactérias, que exigia cerca de 48 horas, passar a ser liberada em até 6 horas.
“A adoção da tecnologia de espectrometria de massa na identificação de bactérias e fungos fez com que fosse possível informar a equipe médica, de forma antecipada e assertiva, qual bactéria está causando a infecção do paciente, permitindo o início precoce do tratamento com antibiótico”, diz Tamara. Essa agilidade tem especial relevância para pacientes hospitalizados, que apresentam maior risco de desenvolver infecções por bactérias multirresistentes.
Ela assinala que outra inovação recente do laboratório foi a implantação do teste rápido molecular, que faz o diagnóstico para tuberculose em até duas horas, enquanto outras metodologias levam até 42 dias para o resultado.
A estrutura municipal também presta apoio diagnóstico para programas estratégicos da Secretaria Municipal de Saúde, como os testes do pré-natal da Rede Mãe Curitibana Vale a Vida, Programa Hipertensos, Diabetes, IST/Aids, Tuberculose e Hepatites. Essa rotina a coloca na lista dos laboratórios públicos com grandes rotinas de exames dessas patologias no país.
“Somos frequentemente convidados a participar de projetos e validações de novas tecnologias no SUS devido também ao desempenho nos controles de qualidade externos do laboratório, participando diretamente de projetos de vanguarda como a validação do teste rápido para HIV, atualmente usado em todo o país”, diz Gevaerd.
Emergências de saúde pública, Covid-19 e varíola dos macacos são redirecionadas
No início da pandemia da Covid-19, o Laboratório Municipal de Curitiba recebeu grande quantidade de testes rápido do Ministério da Saúde, chegando a uma média de 1,2 mil testes por dia. Passada a fase inicial, essa demanda foi repassada ao Laboratório Central do Estado (Lacen) e ao Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP).
Com o laboratório municipal ficou a demanda por análises laboratoriais dos pacientes internados por Covid-19 em quatro hospitais gerenciados pelo município, auxiliando no monitoramento os pacientes até sua alta.
O mesmo ocorreu no caso atual da varíola símia, também classificada como “emergência de saúde pública”: a execução do exame foi direcionada aos laboratórios estaduais, por decisão do Ministério da Saúde. Entretanto, o laboratório municipal capta as amostras colhidas nas unidades de saúde da cidade e as encaminham ao órgão estadual.
Linha histórica
- 1966 - Curitiba começa a realizar os primeiros exames laboratoriais – como hemograma, VHS, parasitológico e parcial de urina – de maneira descentralizada em algumas unidades de saúde da cidade.
- 1972 - O primeiro laboratório público do município é inaugurado no bairro Vila Oficinas, para atendimentos dos bairros vizinhos.
- 2014 - A atual sede, no bairro Novo Mundo, entra em operação, ocupando uma área de cerca de 4 mil m2.
- 2022 - São 127 profissionais na equipe técnica que atua diretamente na unidade, entre farmacêuticos, biomédicos, técnicos de patologias e de enfermagem, biólogos, enfermeira, equipes de limpeza, de informática, almoxarifado e administrativa.
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