Durante três horas, na manhã desta sexta-feira (23), as principais obras previstas para o Litoral do Paraná foram debatidas no Palácio Iguaçu. Mas foram as soluções viárias para Pontal do Paraná e a possibilidade de um novo polo portuário que dominaram a maior parte do debate. Foram apresentados dois projetos: o da Faixa de Infraestrutura (que pode ter o nome alterado em breve) e uma proposta alternativa, custeada por ambientalistas, focada na mobilidade e no incentivo ao turismo.
A reunião contou com a presença de secretários estaduais, prefeitos do litoral, representantes de órgãos públicos, integrantes de organizações não governamentais ligadas a causas ambientais e o Ministério Público. Todas as partes enfatizaram a possibilidade de diálogo e de encaminhamento, com mais transparência, das demandas do litoral, principalmente as que envolvem investimentos estaduais.
A alternativa mais voltada para o desenvolvimento sustentável ganhou o nome de Ciclorrodovia Interpraias. É o resultado de uma campanha de financiamento coletivo, que arrecadou R$ 37,4 mil para custear as despesas básicas do projeto. É uma iniciativa de mobilidade, interligando os municípios da região em mais de 50 quilômetros de ciclovias, com pontos de parada, que incluem mirantes, áreas de comércio e outras estruturas voltadas ao turismo.
A ideia é aproveitar alguns trechos ainda não explorados de beira-mar. É o caso de Pontal do Paraná, que não tem infraestrutura viária na beira da praia. O projeto foi dividido em fases e prevê investimentos na construção de alguns trechos, e também reforços em vias já existentes. Um exemplo seria a terceira pista adicional na PR-412, entre o balneário de Shangri-lá e Pontal do Sul. Segundo os idealizadores, essa porção não tem pressão urbana e não haveria problemas com desapropriações.
Já para desafogar o trânsito na chegada a Pontal do Paraná, um novo acesso seria estruturado. O conjunto de obras viárias – todas incluindo ciclovias para aproveitar o terreno plano e a vocação do litoral para o uso de bicicletas – é composto por porções: uma alternativa de acesso à cidade, uma nova avenida beira-mar e uma pista adicional na PR-412. O cruzamento da via, por pedestres e ciclistas, seria feito por travessias subterrâneas. Os organizadores destacaram o menor impacto ambiental da proposta. A estimativa de custo total para colocar o projeto em prática seria de R$ 127 milhões.
Na sequência foi apresentado o projeto da Faixa de Infraestrutura, cuja obra custaria R$ 270 milhões, envolto em polêmicas e considerado essencial para criar um polo portuário em Pontal do Paraná. O histórico desse caso já foi relatado uma extensa reportagem da Gazeta do Povo (clique aqui para ler). Idealizador do projeto, o engenheiro Eduardo Gobbi apresentou o contexto que levou à formulação da proposta e destacou que o conjunto de obras, que envolve a construção de uma rodovia em meio a um trecho preservado de Mata Atlântica, só se justifica se houver a decisão governamental de incentivar a instalação de um porto privado em Pontal. Já a primeira proposta, a custeada por ambientalistas, é contrária à instalação do porto e não prevê acessos até a localidade.
Eduardo Gobbi, por sua vez, apresentou o contexto que levou à formulação da proposta da Faixa de Infraestrutura e destacou que o conjunto de obras, que envolve a construção de uma rodovia em meio a um trecho preservado de Mata Atlântica, só se justifica se houver a decisão governamental de incentivar a instalação de um porto em Pontal.
"Turismo, sim, rodovia, sim, porto, talvez"
Apresentados os dois projetos, o secretário estadual de Infraestrutura e Logística, Sandro Alex de Oliveira, comentou os pontos positivos das propostas. Disse ter ficado encantado com a solução de cicloparagens (os pontos de parada) a ponto de determinar imediatamente que sua equipe comece a trabalhar para viabilizar a obra. Por outro lado, considerou que a alternativa viária à Faixa de Infraestrutura foi muito acanhada e não daria conta da necessidade de fluxo na região, principalmente considerando demandas futuras.
Sendo assim, o secretário acredita que não é possível abrir mão de uma nova rodovia na região. Ele contou ainda uma história pessoal. Disse que a família tem casa em Pontal e que chegou a ficar, com os filhos gêmeos dentro do carro, quatro horas parado no trânsito da cidade. Depois disso, nunca mais teria repetido o passeio. Sendo assim, para Sandro Alex, o discurso deveria ser: "turismo, sim, rodovia, sim, porto, talvez".
Impulsionado pela fala de representantes do Ministério Público, o secretário ainda destacou que o governo do Paraná não pretende custear 100% de uma rodovia voltada aos interesses privados de um porto, sem qualquer contrapartida. Tentando evitar vinculação direta com governos anteriores e justificando que o nome não condiz com os objetivos principais da obra, ele ainda sugeriu abandonar o nome Faixa de Infraestrutura, adotando algo como estrada ou rodovia da Mata Atlântica, como forma de combinar com a intenção de, no ano que vem, fazer uma ampla da divulgação dos atrativos de turismo da natureza na região.
A reunião terminou com a determinação de formar um grupo de trabalho para estudar um projeto consensual. Os participantes devem receber subsídios do Plano de Desenvolvimento Sustentável do Litoral (PDS), projeto financiado pelo Banco Mundial para planejar ações para a zona litorânea. O modelo está na reta final de produção e deve ser apresentado no próximo mês.
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