• Carregando...
Fábrica da Petrobras em Araucária, no Paraná
Lula anunciou a retomada da fábrica no Paraná durante evento da Petrobras em agosto| Foto: Ricardo Stuckert/Presidência da República

A Presidência da República encaminhou ao Congresso Nacional a abertura de crédito especial para retomada da produção de fertilizantes na fábrica Araucária Nitrogenados S/A (Ansa), localizada na Região Metropolitana de Curitiba (PR), hibernada há quatro anos devido ao histórico de prejuízos acumulados pela subsidiária da Petrobras no Paraná. 

Receba as principais notícias do Paraná pelo WhatsApp

O deputado federal Zeca Dirceu (PT) é o relator do projeto de lei do Congresso Nacional. O PLN 30/2024 prevê o crédito especial de R$ 309,9 milhões para manutenção da infraestrutura e adequações na planta e nos sistemas de operação para retomada da atividade na fábrica paranaense. “Tais despesas tornaram-se necessárias devido à revisão das diretrizes estratégicas da companhia aprovadas no ano de 2023, em que o investimento na produção de fertilizantes voltou a fazer parte do portfólio da Petrobras”, justifica o governo federal, autor do PLN.

No último mês de agosto, a reativação da unidade foi anunciada por Lula (PT) durante um evento na fábrica deficitária com a presença da presidente da Petrobras, Magda Chambriard. Na ocasião, o governo federal prometeu um investimento de R$ 870 milhões com retorno das operações a partir do segundo semestre de 2025 e manutenção de 700 empregos diretos após a retomada da produção.

A iniciativa petista rompeu com o processo de venda das ações totais para privatização da fábrica de fertilizantes, iniciada em outubro de 2020 durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A estratégia da Petrobras era de “otimização do portfólio” e “melhoria de alocação do capital da companhia”, processo suspenso em dezembro de 2022, às vésperas da posse do presidente Lula. No ano seguinte, a estatal anunciou que iria retomar o controle da unidade de fertilizantes em Araucária.

À época da desativação, a Petrobras afirmou que a fábrica apresentava prejuízos desde 2013, o que justificava a “hibernação” das operações a partir de 2020 após encerramento das tratativas de venda da unidade para a companhia russa Acron Group em 2019.

Apesar do histórico, o deputado Zeca Dirceu, relator da proposta orçamentária, defende o investimento pela necessidade de produção de fertilizantes para atendimento da demanda nacional. “A decisão do governo e da Petrobras é acertada e deveria ter sido tomada em governos anteriores. Isso tem relação com o agronegócio, com a produção do país e com a balança comercial do Brasil. Ainda mais com a guerra entre Rússia e Ucrânia, maiores produtores de fertilizantes do mundo, sendo que somos dependentes desses países”, argumenta.

Questionado pela Gazeta do Povo sobre a crítica de setores da cadeia produtiva sobre os altos preços dos fertilizantes oriundos da estatal antes do processo de hibernação, o deputado respondeu que não faz sentido a retomada para comercialização do produto mais caro em relação ao insumo importado. “É óbvio que a gente vai lutar e defender que o preço seja competitivo”, rebateu.  

Dirceu classificou o assunto como “urgente” e adiantou que vai apresentar o relatório favorável para “aprovação o mais rápido possível”. E completou: “A fábrica está parada e abandonada desde que o Temer fechou a unidade e o Bolsonaro manteve as portas fechadas com os equipamentos sendo corroídos. É a destruição do patrimônio público”.

Localizada ao lado da Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), que também teve o processo de desestatização revertido pelo governo Lula, após sinalização do processo de privatização ao mercado, a Ansa tem capacidade de produção de 720 mil toneladas/ano de ureia, de acordo com informações da Petrobras, o que corresponde a 8% do mercado nacional.

Integrante da Comissão Mista de Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização, o líder da oposição na Câmara dos Deputados, deputado federal Filipe Barros (PL), defendeu que o projeto seja discutido com transparência e criticou a política petista na administração das estatais. "Com toda a ficha corrida de corrupção e má gestão do PT nas estatais, uma medida como essa precisa ser examinada com lupa pelo Parlamento e a sociedade. Aliás, o recém-revelado prejuízo astronômico nos Correios simboliza o que nós, da oposição, temos alertado desde o começo do (des)governo: que o lulopetismo, além da típica sanha entreguista de ativos estratégicos, está fazendo das estatais seu balcão de negócios", declarou Barros, em nota.

A origem do dinheiro para retomada da fábrica da Petrobras no Paraná

O deputado Zeca Dirceu foi questionado pela Gazeta do Povo sobre a origem de quase R$ 310 milhões para a retomada das operações na fábrica de fertilizantes nitrogenados da Petrobras no Paraná. “O dinheiro vai sair da própria empresa. O governo é sócio da Petrobras, é dono da estatal e acabou de receber os dividendos. Nada mais razoável do que investir em uma fábrica como essa. Não é dinheiro dos impostos da população que está sendo usado para fazer esse investimento”, afirmou.

No final de novembro, a Petrobras anunciou o plano de negócios 2025-2029 com a retomada de atividades nos segmentos de fertilizantes com a previsão de US$ 900 milhões para o quinquênio para reativação da Ansa e a retomada da construção da Unidade de Fertilizantes Nitrogenados (UFN-III), em Três Lagoas (MS).

Segundo a Petrobras, a unidade sul-matogrossense estava hibernada desde 2015 e o processo de reavaliação do projeto foi retomado em 2023. O investimento estimado para conclusão da UFN-III é de cerca de R$ 3,5 bilhões, com início da operação previsto para 2028.

O valor total da PLN, conforme a Comissão Mista de Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização, é de R$ 552,8 milhões, sendo que R$ 200 milhões serão utilizados para aquisição de um edifício administrativo no Rio de Janeiro, que foi alugado pela estatal. Com o pedido de devolução por parte do proprietário, a Petrobras vai exercer o direito à compra do imóvel. Outros R$ 42,8 milhões serão direcionados a Petrobras Biocombustível S/A para contratação de serviços de reparo e manutenção das unidades de pastilhamento de enxofre.

Procurada pela Gazeta do Povo, por meio da assessoria de imprensa, a Petrobras confirmou que os recursos para reativação da fábrica no Paraná são próprios da estatal, no entanto, é necessário a autorização do Congresso Nacional para investimentos, devido ao controle da empresa por parte do governo federal.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]